Sonhos Escuros

- CAPÍTULO DEZESSETE -

Quando eu era adolescente eu me cortava.

Dentro do banheiro, sozinha.

Minha mãe só soube dois anos depois do meu primeiro corte, eu sempre me cortava quando fazia algo errado.

Quando quebrava um copo, errava uma palavra, olhava para o que não devia.

E quando comecei a passar com psicólogo, descobri que fazia isso por trauma.

Do meu pai.

Sempre que minha mãe fazia uma dessas coisas, ele dava um soco em seu rosto.

Sempre o soco cortava seu lábio inferior e sangrava.

Eu via e abaixava o olhar. Não queria apanhar também.

Eu tenho poucas memórias felizes da minha infância, se é que teve. Mas essas do meu pai agredindo minha mãe ficam vivas na minha memória.

E eu não fiquei surpresa ao acordar com as mãos de David em meus ombros, eu estava gritando e me debatendo na cama.

Tinha passado, tinha... Mas sempre volta.

Sempre vem com tanta força que me quebra, me destrói e eu sou obrigada a me reconstruir de novo, de novo e de novo...

Fui para faculdade, depois para o trabalho e voltei para casa.

Não falei direito com Josie ou com ninguém.

Minha mãe me ligou, troquei poucas palavras com ela.

Quando cheguei ela já estava em casa, me esperando.

Comemos e conversamos um pouco.

Eu me fechei o dia inteiro.

Me forcei a jantar, me forcei a andar pelo meu quarto e ler.

Quando minha cabeça doeu de mais, abandonei o livro.

Fui cumprir com minhas responsabilidades, fiz o trabalho, mesmo com a cabeça explodindo e li livro que professor indicou.

Collin apareceu na minha janela, deu algumas batidas mas eu havia fechado a cortina e trancado a fechadura.

Para ele não entrar, não quero que ele me veja assim.

Sei que meu cabelo está horrível e minha mente um caos.

Não vou fazer piadas ou gritar com ele, por que não tenho forças nem para comer.

Suspiro cobrindo minha cabeça.

Desculpe, Collin. Hoje não é um bom dia.

Me forço a acalmar a mente, deixar tudo calmo mas não funciona.

Caminho um tempo pelo quarto.

Pego uma folha e fico surpresa quando a primeira coisa que escrevo é Collin.

" Collin, o homem aranha.
Hoje foi um dia mal, um dia péssimo. Foi um dia de merda. Estou cansada, estou com peso em meus ombros e sinto frio. Queria assistir a quarta temporada com você mas não sinto empolgação alguma em ver uma tela agora, não quero te desanimar com meu desânimo. Não quero que você fique nas sombras comigo, hoje foi um dia de merda e não quero compartilha-lo com você. É assim que me protejo e protejo os que eu gosto. Desculpe."

Me belisco novamente, e bato em minha perna por estar descalça.

Volto para cama, estou mais calma e não é surpresa eu adormecer com a imagens dos pés de Collin com meias do homem aranha.