- CAPÍTULO UM -

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Eu amo a chuva.

Amo quando as gotas grossas acertam o vidro da minha janela. E amo quando elas escorrem.

Eu amo quando deixo a janela aberta e as gotas acertam minha cortina laranja, e amo ainda mais ouvir os gritos da minha mãe quando vê minha cortina encharcada.

Os gritos dela são como música, ela tem a voz de uma cantora que eu amo. Tem o tom perfeito, talvez seja por isso que eu deixo a chuva molhar minha cortina.

Mas as vezes eu odeio a chuva, de pensar que cai água do céu inteiro, acertando todas as pessoas me dá medo por algumas, como os moradores de rua.

Talvez eles não queiram se molhar.

Eu tenho algo com a chuva, entre amor e ódio.

Eu odeio perguntas burras, também.

Odeio, quando perguntam algo que talvez não tenha resposta ou a pessoa não queira responder.

Como: " Por que você está enfiando os dedos na garganta logo após comer?", ou, " Por que está se cortando, só por que ganhou um sete?", " Por que está chorando, só por que seu pai não veio a apresentação de dia dos pais?"

Já me fizeram essas perguntas e muitas outras.

Outra coisa que odeio, é dar explicações para certas atitudes, por que estou com tal calça, por que estou andando com tal pessoa.

Por que estou lendo tal livro. Porra.

Eu odeio tanto isso, que é por isso que estou gritando com uma menina no meio da livraria.

Talvez tenha quinze ou quatorze, mas essa garota está me dando nos nervos.

Eu respiro, uma, duas...três.

Fecho os olhos e mantenho minha visão na fila, três pessoas antes de mim.

Você consegue, são apenas três pessoas.

Eu odeio. Você deve estar se perguntando, por que essa menina odeia tantas coisas?

Porra, essa foi uma pergunta burra.

Nunca pergunte isso.

— Esse livro é horrível.— A menina de cabelos longos e loiros reclama atrás de mim.— Você tem muito mal gosto.

Sério?

Ela está levando um livro que tem apenas sexo. Apenas sexo.

E eu não estou a julgando.

Eu tenho vários em casa, com sexo a cada capítulo.

Mas ela falar mal do meu livro, cheio de história, briga, trama e romance enquanto ela segura um de sexo, com a capa de um tanquinho me deixa ofendida.

— Qual seu nome, uh, garotinha?— Pergunto virando somente a cabeça para trás.

— Katie.— Respondeu com o rosto arrogante.

Será que eu era assim?

Quando adolescente minha mãe tinha alguns problemas comigo, mas vou ajudá-la com isso.

— Bom, Katie. Você não pode me julgar pelo livro que carrego, ok? Isso é feio.— Digo me virando aos poucos, agora são duas pessoas.— Gosto literário não se discute, se não você não ganharia de mim.

Olho com deboche para seu livro, erguendo as sobrancelhas.

— Eu já li esse, é péssimo.— Digo sorrindo.— E espero que você tenha idade.

Sonhos Escuros Onde histórias criam vida. Descubra agora