- CAPÍTULO DEZENOVE -

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O livro novo que comecei a ler me deixou tão intrigada e conectada com ele que me atrasei hoje.

Para tudo.

Cheguei na faculdade e perdi duas aulas, meu trabalho ganhou várias críticas então voltei com ele para casa.

Mas eu xinguei tanto aquele professor barrigudo que tenho certeza que ele ouviu e amaldiçoou meu dia.

Esqueci de colocar gasolina no carro e ele parou no meio da estrada, alguns homens me ajudaram a colocar ele no canto para não atrapalhar os outros carros.

E agora estou andando até o posto de gasolina mais próximo com um galão de quatro litros que minha mãe sempre deixa no carro.

Tem dias piores, Liz.

Tento não reclamar andando pela calçada, meus pés estão doloridos por que tentei andar de salto ontem a noite e minha tentativa levou mais tempo que eu queria.

Meus dedos estão implorando por uma massagem.

Piso duro entrando para comprar gasolina.

Estou atrasadas já faz quase quarenta minutos, sei que Josie não ficará feliz.

Mas meu dia está tão conturbado que eu não me importaria de gritar com ela hoje.

— Obrigada.— Digo ao atendente depois de pagar a gasolina.

Caminho de volta reclamando.

Não pode piorar, claro que não.

Estou na estrada, a caminho da sorveteria.

Deixo o carro o estacionamento e corro até o banheiro fazendo de tudo para Josie não me ver.

— Eu te vi, Liz. Está muito atrasada.— Diz enquanto um cliente espera o troco.

— Eu sei, eu sei.— Corro para me trocar no banheiro escutando Josie reclamar com o cliente sobre meu atrasado.

Odeio isso, odeio atrasados.

Bato em meu braço nu naturalmente.

Não. Não posso.

Coloco meu uniforme e faço um coque de qualquer jeito.

— Vou dar uma pausa.— Diz Josie mal humorada tirando um cigarro do bolso.

Começo a atender algumas meninas e logo a fila está lotada.

Eu gosto de trabalhar na sorveteria, mas as vezes vejo tanto sorvete que quando me oferecem meu estômago fica enjoado.

Estou esperando o último garoto de uns doze anos comer sua cesta de sorvete.

Ele lê um livro, que acho que é de sua escola.

Seus amigos foram embora a alguns minutos e Josie não teve paciência para esperar até ele ir.

— Ei, menininho.— Digo me sentando a sua frente.— Fechamos faz cinco minutos, eu preciso ir.

Ele ergue os olhos grandes e negros.

— Oh, me desculpa.— Ele se apavora para fechar o livro e vejo que não terminou seu sorvete.

— Tudo bem, coma primeiro.— Digo fazendo ele se sentar.— Está lendo isso faz tempo, o que é?

Ele parece meio incerto se diz, então depois de comer uma colher de sorvete de flocos, diz:

— Luna disse que gosta de meninos inteligentes e eu estou lendo todos os livros que a professora passa lição.— Disse de uma só vez.

— Calma, quem é Luna?— Apoio o cotovelo na mesa e descaso o queixo na mão.

— Uma colega de sala...

— Você gosta dela?— Pergunto já sabendo a resposta.

Ninguém se esforça para fazer algo que a pessoa gosta, por nada.

Ele encolhe os olhos, envergonhado.

— Não sei, como que você sabe se gosta de alguém?— Ele presta atenção em mim querendo minha resposta.

— Oh, amigo, também quero saber.— Digo sorrindo. — Quando você souber a resposta, me conta, tá?

Ele assente várias vezes e volta comer seu sorvete.

— Você não namora?

— Não.— Respondo surpresa com a pergunta.

— Vim aqui uma vez, a de cabelo curto disse que ele era seu namorado quando perguntei.— Ele fala após engolir.

— Ele quem?— Pergunto curiosa.

— O que ia fazer reclamações no caderno, ele disse que você merecia ser funcionária do mês.

— Ah sim, estão você escuta conversa?— Suas bochechas coram.— Estou brincando, fique aqui me esperando.

Vou até o banheiro me trocar, quando saio o menino está lendo o livro novamente.

— Vai fechar agora?— Ele questiona se levantando.

— Sim, vamos.— Começo a sair com ele e tranco a porta.— Onde você mora?

— Aqui na sua de baixo.— Ele diz apertando a mochila.

— Vou te levar, está tarde para você estar sozinho.

Ele fica um pouco inseguro mais me segue até o carro.

No caminho vamos ouvindo música e ele me guia para o caminho de sua casa.

Paro em um portão de ferro descascando.

— Chegamos!— Diz ele abrindo a porta.— Obrigado.

— Qual seu nome?— Pergunto enquanto ele desce do carro.

— Ryle.

— Boa noite, Ryle. Quando aparecer na sorveteria novamente eu te dou uma cestinha de graça.— Digo sorrindo enquanto ele fecha a porta.

Ele da um sorriso grande e entra pelo portão.

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