Sonhos Escuros

- CAPÍTULO QUATORZE -

Quando cheguei no trabalho hoje, estava péssima.

Em plena sexta-feira já era para meu ciclo ter terminado, mas ele não tinha e ainda estava com uma cólica insuportável.

O ruim de ser adulto e ter compromissos, com tudo.

Eu aprendi a lidar com isso quando mamãe e eu começamos a morar sozinhas, eu arrumava o quarto e lavava louça todo dia depois da escola.

Tinha que cumprir com o horário para ir de tarde para o curso, tinha que ter responsabilidade com o dinheiro da passagem e ser atenta a rua.

Eu tinha minhas responsabilidades, mas se eu perdesse um dia de curso não havia problema, meu professor me passava o que já tinha sido passado na aula passada, se eu estivesse doente de mais para lavar a louça, minha mãe lavava quando ela chegava...

Mas eu não posso pedir que minha mãe venha servir potes de sorvete no meu trabalho, ou pedir aos professores que me passem o que já foi passado na aula que perdi.

Eu preciso lidar com meus compromissos.

Por isso fui a aula com meu útero inchado e meu sangue escorrendo.

Tomei remédio e coloquei várias blusas de frio, que estou até agora por mais que o tempo melhorou.

Me forcei a assistir as aulas e a comer para me manter em pé.

Eu odeio tudo isso, odeio hoje.

Trabalhei praticamente sentada, quando algum cliente aparecia eu atendia e voltava a me sentar.

Josie estava gentil comigo, me ajudou e atendeu as vezes que gemia tanto de dor que minhas pernas falhavam.

Antes de dar meu horário fiz uma pausa e fiquei no carro, cochilando por uns minutos.

Bebi muita água, porque dizem que ajuda e ajudou um pouco mas nem tanto.

Agora estou em pé com minha mochila nas costas e o bilhete que Collin deixou para Josie dar pra mim.

Ele veio mais tarde hoje por isso não esperei por ele, já que desde que ele descobriu que trabalho aqui vem todos os dias.

Eu também não havia avisado a Josie que estaria no estacionamento.

— Até amanhã, pequena Liz.— Josie disse brincando com o apelido que Collin me deu.

Caminhei até lá fora, esperando ela fechar a porta de vidro da sorveteria.

— Não estou bem, Josie.— Faço um biquinho quando ela se vira.— Não me chame assim.

— Desculpa, esqueci que você está no período.— Ela solta o cabelo curto do coque.— Diga oi para o Collin por mim.

Ela sai andando pela rua enquanto eu caminho até o estacionamento.

Quando sento no banco suspiro e abro o botão da calça jeans.

Depois abro o bilhete de Collin que está muito dobrado.

" Tive que roubar uma folha do caderno de reclamações para te escrever isso, ainda não tenho seu número então tenho que fazer a moda antiga, o que não é tão ruim. Espero ansiosamente que venha ao jantar hoje a noite, não pense em fugir de mim, pequena Liz.
PS: Eu te espero para discutirmos esse livro."

O livro que ele ainda não leu, ele me disse que gostou do hot que tem em cima da mesa de jantar e agora quer saber qual eu gosto mais.

Anotei algumas coisas no livro mas meu hot preferido daquele livro, eu arranquei e ele notou.

Olha eu não sou de fazer isso com livros, mas aquele hot merecia ser visto por todos.

Eu quase pintei suas palavras em uma tela, mas apenas fiz um pequeno quadro e ele está escondido.

— O jantar é as oito, não se atrase Liz.— É o que minha mãe diz da sala assim que passo para subir as escadas.— Como está a cólica?

Suspiro e falo que tudo bem, subo correndo para um banho.

Não aguento o melado entre minhas pernas.

O absorvente está encharcado.

Olha você pode dar o tempo certo para usar as coisas, mas eu sempre consigo não seguir essas regras.

Como comer uma comida com o prazo de validade vencido.

Uma semana não tem problema né?

A água está tão quentinha, me inclino na parede gelada, gemendo por sentir frio nas costas.

Coloco minha barriga dolorida na água, o calor da uma aliviada.

Pego meu último livro da saga e começo a ler o último capítulo.

Depois de terminar estou chorando deitada na cama, com uma bolsa quente em minha barriga e um prato vazio.

Por que já comi o lanche que minha mãe  fez, tomo o resto de suco de uva que tem no copo e limpo as lágrimas.

Cat aparece em meu quarto e deita em minha barriga.

— Esse livro é maravilhoso, Cat. — Digo mas a gata começa a miar olhando para janela.

Collin.

Ele não entrou mais aqui depois da primeira vez.

— Olha eu quero muito discutir esse livro, porque meu Deus!— Ele está totalmente dentro do meu quarto fechando a janela.— Porque puta merda, ela era infiltrada e...

Collin se joga na minha cama, estou no meio estão ele simplesmente deita de lado jogando o braço em minha barriga.

Cat já não está mais ali, porque a traíra está perto de Collin, se roçando em seu braço.

— Que gata mais traíra.— Reclamo fungando o nariz.

— Poxa, você chora?— Ele pergunta em tom de brincadeira.— Saiu cedo?

— Não, eu estou no meu período de fúria e sai para relaxar.— Digo a ele.

— Período de fúria?— Ele questiona e depois para pensando.— Ah sim, agora entendi.

Ele leva a mão até minha barriga.

— Vai me massagear?

— Não, não sou bom nisso.— Ele ri.— Minha mãe diz que tenho mãos pesadas.

— Estou percebendo. — Brinco e ele bate de leve na minha barriga.

— Pelo menos não tem bebê. — Ele se levanta.— Depois do jantar quero conversar sobre o livro, sério.

Assenti vendo ele caminhar pelo quarto.

— Quero saber o vinho que sua mãe mais gosta...— Ele leva as mãos a janela.— Minha mãe comprou dois e está com medo da sua mãe odiar.

— Ela bebe de tudo, ela não liga para isso.— Dou risada e vejo Cat nos pés de Collin.

— Acho que ela quer ir comigo.— Ele acaricia a cabeça de Cat e depois abre a janela.— Não vá de vestido, minha mãe gosta de fazer brincadeiras. Até logo, pequena Liz.