CAPÍTULO 2

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O sol do lado de fora da janela iluminava a copa das árvores que se podia ver da vista da construção de pedra antiga em que começaríamos a passar muito tempo. Segundo o que eu entendi era um castelo medieval que era antiga base da Tropa de Reconhecimento, mas que foi abandonado por motivos logísticos. Além das árvores podia-se ver a muralha de 50 metros de altura. Dessa distância ela parecia tão insignificante que podia se imaginar pulando por cima para a liberdade. No entanto, todos sabiam o que se encontrava do outro lado... Os horríveis carnificinas dos titãs. Ao pensar que um dia teria que enfrentar um deles, uma emoção percorria por todo meu corpo, uma emoção eletrizante, mas ao mesmo tempo um calafrio na espinha.

- S/N?

Ouço alguém me chamar e volto a minha mente à reunião que se passava na longa mesa velha de madeira. Procurando a voz que não tinha reconhecido passo os meus olhos por todos os rostos que estão fixos em mim. Até passar por um rosto que ainda não estava muito bem acostumada a minha frente: Levi, o capitão do esquadrão. Seus olhos totalmente fixos nos meus com uma expressão facial de cobrança a provável pergunta que eu não ouvi, pois estava com a mente em outro lugar.

- Sim, Capitão Levi? - Pergunto procurando manter o olhar firme no dele em vão, seu olhar era tão penetrante que apenas baixei a cabeça.

- Concorda com o que foi discutido? - Diz ele se levantando apoiando seu corpo com as mãos na mesa ocasionando uma inclinação quase que intimidadora em minha direção.

Eu não fazia ideia do que havia sido discutido, o capitão estava apenas passando regras da nossa base, estabelecendo limites e organizando algumas formações de defesa, ataque e retirada. Além de explicar onde estavam localizados os equipamentos guardados e os estábulos.

- Sim!? - respondo de forma duvidosa e muito receosa. Muitos caíram no riso, mas Levi nem o canto da boca levantou, apenas relaxou os ombros que talvez nem havia percebido que estavam tensionaria, suavizou a expressão e voltou a imparcialidade.

- Bom, então boa sorte limpando os banheiros, os estábulos e o meu escritório por duas semanas consecutivas.

O resto da turma riu ainda mais e eu caí com a cabeça em cima dos braços cruzados sobre a mesa. Quando levantei o rosto, o capitão não estava mais no recinto e outra conversa já tinha se engajado na roda de amigos que se formou naquela ocasião.

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Depois do vexame na frente de todos e ter que pagar uma pequena pena por ter me distraído na primeira reunião com todo esquadrão, Oluo - membro da equipe algum tempo - explicou tudo que eu deveria saber e fazer nos estábulos e nos banheiros para limpeza.

- Agora o escritório do capitão Levi e você pode começar sua tortura - Diz Oluo com um ar brincalhão apesar de parecer ter uns 40 anos de idade. Seu rosto era coberto de rugas e possuía cabelos loiros raspados na parte lateral e divididos ao meio na parte superior.

     Caminhamos por um tempo e Oluo não parava de falar sobre diversas histórias de como ele matou gigantes com um só golpe ou como salvou diversas pessoas das mãos das feras selvagens e abomináveis. Cada detalhe cuidadosamente calculado para eu pensar que ele era um herói e um homem de grande valor. Se eu não entendesse do assunto acharia que ele está tentando reafirmar sua própria masculinidade, mas ele estava parecendo mais um pavão procurando mostrar cada penas de valor da sua plumagem.

     Ao virar nos muitos corredores, paramos subitamente à frente de uma porta de madeira de carvalho velho. Oluo bate na porta, obtendo uma resposta vinda lá de dentro, vinda do Capitão Levi.

     - Capitão, eu vim mostrar a S/N as tarefas domésticas dela no seu escritório - diz Oluo quase falando que sou uma empregada.

     - Entre! - Entramos devagar e logo me deparo com uma sala pequena infestada de estantes de livros em uma parede e na oposta pequenas cômodas com diversos utensílios em cima. Do lado da porta um pequeno sofá singelo se encontrava com a capa e a jaqueta da Tropa de Exploração jogados. Ao lado oposto da porta pela qual entramos, duas janelas cumpridas de fundo iluminavam o lugar e à frente delas uma escrivaninha lotada de mapas, sextantes, bússolas e tudo que pudéssemos imaginar. Na excelentíssima cadeira atrás da escrivaninha estava Levi com as mangas da camisa dobradas até os cotovelos e apenas o cinto do equipamento preso ao corpo.

     - Obrigada Oluo! Eu assumo daqui... - ele nem mesmo levanta a cabeça para direcionar um olhar, apenas continua escrevendo serenamente no papel amarelado.

     Antes que me desse conta, Oluo já tinha saído e fechado a porta atrás de mim, sem dar nenhum aviso. Observo o capitão sem saber exatamente como agir, o que me deixa nervosa me fazendo apertar os dedos das mãos para não deixa-los pendendo na lateral do corpo. Ao terminar o que estava escrevendo, ele finalmente me lança um olhar se jogando para trás na cadeira.

- Sente-se! - Diz ele apontando para uma das cadeiras à frente de sua escrivaninha que eu nem tinha notado de primeira mão. Ficando mais nervosa ainda procurei caminhar e me sentar, mas parecia que a cada passo eu iria cair de boca na pedra fria sob os meus pés - O seu comportamento hoje foi decepcionante... - diz ele cruzando as mãos sob a mesa e inclinando levemente o corpo.

- Eu sei capitão, me perdoe. Prometo que não vai mais acontecer! - Procurando me redimir abaixo a cabeça em sinal de respeito.

- Espero que sim... mas sempre dizem que sou severo demais com os novos recrutas... - Ao dizer isso se levanta e se apoia em uma das estantes me fazendo virar 90º em sua direção. Ele passa as mãos no seu cinto do equipamento 3D procurando tirá-lo - Vou reconsiderar sua sentença, terá que apenas limpar os estábulos e o meu escritório, está livre do banheiro. No entanto, as duas semanas permanecem.

Um pequeno alívio me percorreu me fazendo soltar o ar que eu não tinha percebido que estava segurando. Não conhecia o capitão Levi o suficiente para saber se esse ato de misericórdia foi muito pedido por outros ou por decisão própria, mas um detalhe eu já havia percebido... ele não era uma pessoa fácil de lidar.

     O observo procurando soltar o seu cinto, sem êxito algum, então ofereço ajuda para desafivelar. Me encarando com uma expressão relutante, consente procurando olhar pela janela claramente tão desconfortável quanto eu com a situação. Enquanto eu tirava as fivelas que realmente estavam emperradas sentia ele longe, assim como eu estava quando olhava para além da janela da sala de reunião. Quando o cinto estava quase solto sinto seu olhar se voltar para mim e, pegando minha mão me observa com a expressão impassível. Não conseguia sustentar seu olhar que para mim era indecifrável. Abaixei os olhos e me concentrei no seu toque quente me fazendo arrepiar pelo corpo todo.

     - Eu consigo daqui! - Diz ele se afastando de mim como se um feitiço tivesse sido quebrado e largando minha mão como se quisesse evitar o toque. Ele retira o resto do cinto e joga-os em cima do mesmo sofá onde jazia a capa e a jaqueta, além de tirar a camiseta de dentro da calça, se deixando ser uma pessoa totalmente informal.

Depois desse acontecimento ele apenas me explicou como eu deveria exercer minha função de limpeza em seu escritório, para depois me deixar sozinha.

- Já pode começar! - diz o capitão entre a porta aberta e depois fechando-a atrás de si. Olho ao meu redor, pelo menos não estava tão sujo como os estábulos.

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde histórias criam vida. Descubra agora