Levi Ackerman - Determinação Inabalável

CAPÍTULO 20

Pouco tempo se passou e aos poucos o ar do quartel voltava a ser como era. Nós recrutas já havíamos voltado a sentar na grama em roda, conversando e rindo, procurando deixar o clima mais leve. Comíamos e bebíamos para procurar esquecer por meros segundos o que tinha acontecido. Era muito pior para aqueles que presenciaram todo o horror, pois eu percebia que algumas palavras davam gatilhos para memórias perversas. Quando essas memórias vinham à tona era complicado voltar ao clima agradável, parecia que todas as tentativas eram engolidas por uma sombra que sobrevoava acima de nós.

Ultimamente, parecia que essa sombra estava ligada constantemente ao capitão Levi. Ele havia se tornado ainda mais frio e rigoroso, na minha opinião ele estava passando dos limites. Ele afrontava os outros sem necessidade, ameaçava aqueles que falhavam nos treinos, atacava com palavras ásperas qualquer comentário engraçado, além de aplicar com mais rigor os castigos.

Quando eu estava por perto, ele fazia comentários que se assemelhavam com humilhação. Não tinha certeza se ele estava procurando me rebaixar dada a situação na pequena sala com o saco de pancada. No entanto, eu tinha certeza de uma coisa: as atitudes dele começaram a me irritar de uma forma inimaginável. Por ser o capitão ninguém tinha coragem de enfrentá-lo, mas todos estávamos esgotados e frustrados.

Neste momento estávamos em um dia ensolarado de folga e ríamos despojadamente em roda, além de conversar sobre qualquer assunto que nos distraísse. Todos do esquadrão estavam presentes, menos o capitão, que foi convidado, mas preferiu continuar no seu escritório fazendo algo extremamente desinteressante.

- O que vocês acham do capitão? - pergunta Christa dando uma mordida no pão que não tinha saído do forno a muito tempo. Sua pergunta foi extremamente curiosa, o motivo desse questionamento havia me intrigado.

- Que pergunta estranha... por acaso está querendo criar certa intimidade com o capitão - Minha fala sai de modo brincalhão causando um ar de deboche no ar de toda a roda.

Christa fica sem palavras e a vejo abrir a boca algumas vezes procurando uma resposta. Ymir que estava ao lado dela joga o braço por cima do seu ombro.

- Relaxa Christa. Pelo que eu sei quem tem essa intimidade com o capitão é a própria S/N - fala a Ymir jogando a atenção em cima de mim.

- Claro que não - falo exaltada, mas ao mesmo tempo sem jeito.

- Não tem como escapar S/N. Você e o capitão passam muito tempo sozinhos.

- Isso não significa nada, Ymir - minha voz se torna mais exaltada ainda.

- S/N, o capitão já te trouxe uma vez nos braços e outra vez vocês chegaram ao nascer do sol, ou seja, passaram a noite inteira fora... sozinhos... e ninguém sabe o motivo.

Minha raiva subia pelas orelhas se tornando vermelhas. Não queria que pensassem aquilo, mas não queria contar meus reais motivos. Essa situação me irritava.

- Você gosta do capitão, S/N? - Quase nunca ouvia a voz de Armin, mas quando falava vinha com perguntas cabulosas para cima de mim.

- Óbvio que não. O capitão Levi é arrogante, egocêntrico, narcisista, além de muito insensível sem se importar com ninguém menos do que ele. Aquele toquinho de amarrar mosquito pensa que intimida todo mundo, mas na verdade só abusa da sua autoridade como capitão. O Levi não passa de um babaca.

- Um babaca que podia ter te deixado jogada na grama com o braço quebrado - A voz do Levi invadiu os meus ouvidos atrás de mim. Não me importava com o que havia falado, eu me levanto e bato de frente com ele mesmo sendo um pouco mais alto do que eu.

- Um babaca que fez isso com o meu pulso - levanto a manga para mostrar o hematoma que o capitão havia feito no dia que estava muito sexy sem camisa - Demonstrando que não tem controle sobre si mesmo - Minha raiva transparecia como o vidro deixava mostrar a vista que dava para o lado oposto de que se olhava.

- Quer ganhar um castigo por desrespeito ao seu superior? -

- Pode me dar mais um castigo! Já ganhei tantos de você que estou ficando acostumada.

- Se controle, cadete S/N!

- Me controlar? Olha só quem fala. Você não consegue controlar a sua raiva pelo fracasso da missão, além de não conseguir controlar o sentimento de perda pelos seus outros colegas. Então, nos dá tarefas absurdas e castigos injustos por nada - minha voz sai com total desgosto - Não adianta perder tempo com você, não vale a pena... em nenhum sentido - Eu dou as costas para ele me sentando de volta na roda. Escuto um grunhido dele e depois seus passos se afastando.

A expressão de todos era uma mistura gigante. Eu bocas abertas, testas franzidas, olhos arregalados e sobrancelhas arqueadas. Não sabia se havia feito certo ou errado, mas já estava cansada da atividade dele. Ele era o capitão, mas podia tratar todos assim. Talvez com esse desabafo ele percebesse que estava tomando uma postura ridícula. Provavelmente, o capitão me odiaria a partir de hoje, mas não me importava. Além disso, depois disso ninguém pensaria que eu e o Levi possuíamos algum sentimento romântico um pelo outro.

- S/N! Você exagerou - A voz de Mikasa sai repentinamente.

- Mas não é tudo verdade? - Eu olho para ela incrédula por sua fala.

- E você realmente acredita que falar sobre a missão fracassada e a perda dos amigos de Levi dessa maneira seja certo?

- Ele está exagerando com todas as tarefas e treinamentos.

- Você não estava lá. Não viu o que aconteceu. Não tem o direito de falar assim - Eren é quem se manifesta dessa vez.

Eu me calo. Eren estava certo. Eu não estava lá. Eu apenas "vivi" a missão da boca dos outros. Eu não senti a dor da mesma forma que eles, nem da mesma forma que Levi deve estar sentindo. Às vezes, eu me esqueço que por trás da imparcialidade existe um homem que sente absolutamente tudo em segredo. Certamente, eu o havia magoado.