CAPÍTULO 23

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Eu e o capitão caminhamos em silêncio, um ao lado do outro. Como havia pouca luminosidade era difícil se habituar ao espaço que volta e meia mudava de aparência. Tínhamos atravessado corredores rochosos e câmaras de ar provavelmente feitas por um lago subterrâneo. Nós já tínhamos percorrido um caminho considerável e me perguntava se encontraríamos o caminho de volta. O capitão não parecia se preocupar com isso, seguia em frente sem vacilar um passo.

- Não deveríamos voltar? - Eu pergunto começando a me sentir insegura com cada passo que dávamos na direção oposta a saída.

Ao invés de uma resposta eu recebo um olhar que indicava um não. Talvez o capitão Levi estivesse tão intrigado quanto eu, mas existia um limite e eu estava chegando nele.

- Talvez a chuva já tenha passado...

- Se quiser voltar, volte sozinha - Eu paro de súbito e considero a opção, mas enquanto Levi seguia levava a nossa única fonte de luz. Eu me inundava na escuridão e meus ossos se retorciam com o ar gélido que a caverna possuía. Eu poderia voltar, mas me perderia facilmente e Levi sabia disso, ou seja, ele nunca me deu uma opção.

Ele se afastava cada vez mais tornando a fonte de luz quase como um pequeno vagalume perdido.

- Capitão - Eu corro em direção a luz, mas eu dou de cara na pedra fria ao tropeçar. O som da minha queda enche a caverna. O escuro me preenchia por completo, me sufocava e eu tremia imensamente. Essa sensação desencadeia uma lembrança distante de quando tinha fugido após tomar conhecimento da morte do meu pai. Passei uma noite inteira dentro de um beco no inverno. O frio me congelava por completo e o escuro parecia que me engoliria a qualquer momento.

Essa memória desestabiliza minha respiração e começo a sentir falta de ar. Com isso, sinto meu coração acelerar e pequenas lágrimas de desespero rolam pelo meu rosto.

- S/N! - Sinto uma mão afagar minha cabeça cuidadosamente transmitindo uma sensação de grande proteção - Se acalme, você está segura. Eu estou aqui ao seu lado.

Eu levanto a cabeça que eu havia enterrado em meus braços e vejo o rosto de Levi iluminado pela vela. Sua expressão ao invés de imparcial estava tranquila e acolhedora. Me sentia mais segura com ele ali, afagando meu cabelo.

Eu me sento sem saber de onde vinha a força que eu havia tirado para me ajeitar. Apesar de ter me sentido forte, ainda soltava pequenos soluços e tremia descontroladamente. Eu estava ajoelhada no chão, mas tinha jogado o meu peso em cima dos meus pés. Eu cerro os punhos para tentar parar o meu tremor, mas com isso a sensação de despero percorre todo o meu corpo de uma forma frenética.

- Perdoe-me, capitão! - Não tinha coragem de olhá-lo novamente, mas sabia que ele estava agachado bem a minha frente.

Para a minha surpresa o capitão solta a vela do chão e repentinamente me puxa em sua direção, me fazendo apoiar minha cabeça em seu peito. Sinto os seus braços me envolverem e uma das suas mãos ele coloca na parte de trás da minha cabeça.

- Eu que peço perdão S/N... Eu não imaginei que você teria um ataque de pânico - Sinto sua cabeça achegar-se a minha permitindo sentir sua respiração calma. Seu abraço era forte e concedia a sensação de que ele era o meu abrigo eterno. Sentia que Levi me protegeria para sempre. Tudo o que estava acontecendo não importava se eu tivesse dentro do refúgio que Levi me proporcionava naquele momento. Segurei sua camisa nas suas costas procurando não permitir que aquela sensação fosse embora, pois sentia que ela se dissiparia a qualquer minuto.

A sensação era a mesma de quando meu pai me pegava no colo quando eu tinha pesadelos, ou quando me abraçava depois de voltar de alguma expedição. Acreditava que depois da sua morte eu nunca mais sentiria aquilo novamente, mas a sensação me invadia novamente com a mesma proteção, mas era outra pessoa que gerava esse sentimento: o capitão.

Eu me afasto dele rapidamente. O que eu estava pensando? Ficar abraçada com o meu capitão desse modo? Eu me levanto e fico de costas para ele. Não queria olhar em seus olhos que provavelmente conteriam dúvidas e confusão, mas também queria que visse a minha vergonha.

Depois do capitão se levantar continuamos seguindo para dentro da caverna mais quietos do que nunca. O único som que podia se ouvir era o de nossos passos. O ar era pesado o que causava constrangimento e eu não aguentava isso.

- Capitão! - Ele não para de andar e nem mesmo olha para mim - Eu queria... - Nesse momento eu perco o chão, literalmente. O chão se quebra abaixo de nós.

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde histórias criam vida. Descubra agora