CAPÍTULO 22

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As gotas de chuva se espalhavam com força pelo chão. Pareciam pequenos golpes na grama que já havia adquirido algumas poças de água. A névoa ainda era densa deixando alguns poucos metros à frente para se enxergar. A nossa única iluminação era a saída da caverna que se assemelhava a uma janela, mas ela dava uma visão terrível para o lado de fora. O ar dentro da caverna estava úmido, além de estar frio o suficiente para eu abraçar os meus próprios braços tentando esquentá-los.

Eu e o capitão tínhamos acabado de entrar na caverna e eu torcia muito para que outras pessoas, além de nós, encontrassem essa caverna, pois assim estariam seguras. Com essa tempestade muitos se perderiam no caminho e provavelmente morreriam. Apenas segui as ordens do capitão esperando que tivesse um plano para executarmos de imediato, mas ele apenas se jogou em um dos cantos da caverna e se sentou como se tivesse baixado a guarda para relaxar.

- O que está fazendo, capitão? - pergunto incrédula por conta da situação que nos encontramos juntamente com a postura de Levi quanto a ela.

- Esperando a tempestade passar para podermos procurar a comandante e reagrupar - Meu queixo caiu e me enchi de raiva no mesmo instante.

- O que? Nós deveríamos ajudar as pessoas que estão lá fora. As pessoas que estão morrendo lá fora. As que estão desesperadas. Nós temos força o sufiente para ajudá-las.

- A melhor coisa que podemos fazer agora é esperar - Ele encosta a cabeça na pedra e fecha os olhos

A raiva que procurava controlar ficou estampada no meu rosto. Eu cerro os meus punhos para voltar a contê-la, mas era quase impossível com a postura do capítão de...

- Covarde! - Ele volta a olhar para mim e eu começo a gritar com ele - Você é tão insensivel que prefere deixar todos morrerem, apenas para você sobreviver - Ele se levanta e começa a andar na minha direção.

- Cale a boca - Sua expressão esbanjava raiva, mas eu não me importava mais. Eu estava cansada de ficar quieta.

- Não me mande calar a boca. Você se demonstra alguém forte, mas não usa essa força para ajudar aqueles que estão à sua volta...

- Cala a boca, S/N! - Dessa vez ele gritava comigo - Você acha que estou totalmente confortável nessa situação? Eu quero ajudar os outros, mas muitos irão fazer o mesmo que nós. Eles vão procurar um lugar seguro até a tempestade passar. Ficar no meio dessa chuva, em campo aberto é suicidio. Use a cabeça sua idiota - Ele bate fracamente na minha cabeça e no mesmo instante um grito ecoa lá de fora. Não parecia estar longe, por isso pego as lâminas e me guio para névoa adentro, mas Levi me impede segurando meu pulso e me faz olhar para ele - Ele já está morto.

- Como tem certeza? - Levi abaixa a cabeça sem me dar uma resposta. Se ele realmente estivesse morto, sair e se deparar com o titã que o engoliu seria morte certa. No entanto, se estivesse vivo, teria que ter a capacidade de enfrentar o titã e trazer o ferido para a caverna que eu poderia simplesmente perder de vista.

Realmente era suícidio. Ao perceber que tinha começado a racionar direito, Levi me solta e volta a se sentar no mesmo canto, mas eu fico ao pé da caverna na esperança de ver qualquer silueta de qualquer pessoa.

Um tempo se passou e a chuva não cessou. O clima de tensão entre nós não havia passado. Se essa missão tivesse ocorrido antes de eu o ter aborrecido naquele dia ensolarado, talvez esse clima não estaria assim. Provavelmente, uma conversa surgiria naturalmente assim como surgia nas noites em que jantamos juntos. Talvez esse não fosse o melhor, mas acho que era o mais próximo apropriado que eu poderia encontrar.

- Capitão, me desculpe por ter te xingado naquele dia e por ter sido tão insensivel ao falar da missão que envolvia a Titã Fêmea.

Ele suspira.

- Venha descansar, é melhor estar forte para quando a tempestade passar - Apesar da resposta sem relação alguma com meu pedido de desculpas, sabia que havia sido perdoada pelo tom tranquilo em sua voz. Nós tínhamos cavalgado por muitas horas e eu estava exausta. Queria apenas me deitar e dormir por horas.

Eu vou em direção ao capitão, mas dentro da caverna, onde havia um breu, percebi uma pequena luz cintilante. Fui até ela e percebi que Levi me acompanhava com os olhos. Uma pequena pedra brilhante estava incrustada no piso da caverna.

- Capitão, venha ver isso - Ele se levanta rapidamente e vem até mim com cautela procurando não tropeçar em nada que não conseguia ver com clareza.

- É um cristal - Ele se agacha ao meu lado - Deve haver mais por aqui, mas eles são muito raros - O sinto mexer em sua mochila e depois consigo ver uma expressão de curiosidade e determinação no seu rosto, iluminada por uma vela que tinha trazido.

Ela nos proporcionava luz suficiente para ver um pouco a nossa frente, mas ainda era escassa comparando com a largura da caverna.

- Venha! - O capitão se levanta e segue mais adentro ao breu que se espandia a nossa frente.

- Não é melhor ficarmos aqui e descansar? - Ficava receosa de entrar naquela caverna que permitia a estadia de um titã de 3 metros.

- Prefere descansar ou explorar cadete? - Ele me olha com um pequeno sorriso nos lábios esperando que eu tomasse uma decisão. Pelo meu pai, eu não poderia perder essa chance.

Adentramos a escuridão lado a lado sem medo ou arrependimento, esperando ansiosamente o que nos aguardava escondido na penumbra daquela caverna.

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde histórias criam vida. Descubra agora