CAPÍTULO 3

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     Andando pelos corredores seguindo para a sala onde seria o jantar vejo vários quadros peculiares pendurados na parede, alguns ilustravam paisagens, outras pinturas com riscos aleatórios sem nenhum sentido lógico. Às vezes algumas pequenas cômodas apareciam no corredor com velas e livros sob sua superfície. O que será que havia dentro de cada cômoda? Mais livros e tralhas inúteis com teias de aranha e pó espalhadas por cada canto ou algo revelador e misterioso... Uma sombra provocada pela vela que eu segurava em um castiçal me tira do transe que minha curiosidade havia causado, me levando a andar novamente para a sala de jantar.

    Abrindo as portas duplas e entrando na sala avisto duas mesas compridas que se dividiam entre os novatos e os veteranos. Havia pratos nas mesas e diversos tipos de comida, desde carne a salada. Acima de nós, dois lustres de velas pendiam do teto iluminando o lugar, e ao fundo havia três janelas iguais às que se encontravam no escritório do capitão. O barulho das conversas paralelas se misturavam e me atordoavam sem conseguir prestar atenção em nenhuma delas. No entanto, esse barulho escondeu minha presença. Caminhei discretamente até a mesa dos novatos para me juntar a eles.

    - S/N!

    Ouço alguém me chamando e me viro para procurar a voz que havia me chamado. Vejo Oluo acenando e sorrindo ao lado de Petra, a única mulher veterana do esquadrão.

     - Senta aqui com a gente! - Diz ele indicando o lugar ao seu lado. Eu me viro para a mesa dos recrutas, onde eu deveria sentar, e vejo alguns olhares desconfiados e algumas testas franzidas por conta do convite inesperado de um veterano. Não conseguiria me enturmar com o pessoal que deveria ser minha turma pelo resto do meu suicídio profissional.

    Ao me ver relutante, Oluo se levanta e vem até mim me puxando para a mesa deles. Quando eu me sento vejo que Eld e Gunter estavam à minha frente, sorrindo de um jeito curioso que poderia ser descrito como peculiar. A sua frente em seus pratos tinham restos de comida e os copos cheios de bebida. Petra estava ao meu lado fixada no copo cheio, parecia um pouco distante, mas levanta o olhar com a fala de Oluo.

    - Eu soube que alguém te deu um alívio da sua penitência - com um ar de malícia ele se senta ao meu lado desocupado passando o braço sobre os meus ombros.

    - Você deve se sentir especial. - diz Gunter dando um grande gole na bebida - O capitão Levi nunca aliviou uma tarefa para ninguém. - Os outros da mesa soltaram uma risada exagerada que eu não sabia identificar o real sentido. Qual era a graça e por qual motivo tinham me chamado para comer com eles? Queriam saber sobre minha conversa com o capitão? Ou souberam e interpretaram errado o ocorrido com o cinto do equipamento emperrado?

    - O Gunter teve que limpar todos os cômodos do quartel por um mês inteiro, incluindo os estábulos e não teve nenhum alívio da parte do Levi - Petra se manifesta ao meu lado sorrindo com um certo deboche como se insinuasse alguma coisa - Ele ficou se lamentando e implorando para que o Levi reconsiderasse o seu castigo, porque não aguentava mais limpar os estábulos - Todos riram com o comentário da Petra criando uma onda de gargalhadas intermináveis, no entanto uma pessoa permanecia inquieta com o comentário: Gunter.

    - Vocês também teriam implorado se tivessem que sentir aquele fedor todos os dias.

   - Mas não me ajoelharia aos pés do capitão implorando para depois levar um sermão daqueles - solta Oluo rindo ainda mais alto.

    Eu não entendia a graça, isso era humilhação total, além de uma punição muito severa, porém não sabia o que Gunter havia feito para receber tal punição. Talvez tivesse pregado uma peça no capitão Levi ou até destruído seu escritório. A cozinha talvez? Ou a sala de reunião? E se ele tivesse usado o equipamento 3D para brincadeiras infantis? Minha curiosidade se aguçou e minha língua coçava para perguntar o que Gunter tinha feito, mas claro só para eu não fazer o mesmo e ter a mesma experiência.

    Quando eu iria abrir a boca para perguntar sobre, Eld cessa as risadas com uma pergunta dirigida diretamente para mim, uma pergunta que me pega de surpresa.

    - E aí S/N?! O que você fez para poder aliviar seu castigo?

    - Nada na verdade... - respondi dando de ombros procurando soar o mais sincera possível para que não criassem uma ilusão que se tornasse um boato maldoso e sobrasse para mim.

    - Nada? - pergunta ele ainda mais curioso dando um gole generoso na cerveja.

    - Não enche Eld. Eu conversei com o Levi... - Petra se manifesta na conversa novamente, mas seu olhar permanecia na bebida à sua frente. Um silêncio caiu sobre a mesa criando um ar pesado e dramático, o que me deixou ansiosa para saber o porquê ela tinha intervindo por minha causa - Acredito que ele sempre pega muito pesado com os novos recrutas, então convenci-o a amenizar o infortúnio dela.

    - O capitão Levi deu ouvidos a você? - diz Oluo perplexo tirando o braço que estava sob os meus ombros até aquele momento. A sua perplexidade não era a única marcada no rosto, Eld e Gunter também estavam atônitos, os olhos arregalados e boquiabertos.

    - Sim, o Levi me deu ouvidos! - Petra responde como se não fosse nada demais e então notei o detalhe que os outros perceberam. Petra e o capitão deviam possuir uma relação mais íntima que ia além da patenteação da tropa. Ela o chamava pelo seu nome sem seu título de capitão, o que mostrava de fato uma relação diferente das outras.

    Se o enredo do cinto se espalhasse poderia causar um grande mal entendido, causando um alvoroço enorme. Tanto em relação a Petra quanto a mim, ou seja, poderia estragar o relacionamento de ambos e o restante do esquadrão poderia criar um pré conceito de tratamento especial do capitão com a minha pessoa... Eu não estava na Tropa de Exploração para receber tratamento especial, estava ali por causa de meu pai, pelo legado dele. Viver sem medo e sem arrependimento e nada iria me impedir de sentir a adrenalina que eu tanto desejo.

    Depois da resposta de Petra, os olhares esquisitos que antes recaiam sobre mim desapareceram tomando lugar para olhares intrigados e espantados. O ar ficava cada vez mais pesado e o som vindo da conversa da outra mesa crescia como se fosse uma sombra que iria engolir nossa mesa por inteiro.

    Então repentinamente a porta lateral do cômodo é aberta chamando toda a atenção de todos os presentes e me fazendo dar um salto do banco. Ao me virar vejo o capitão Levi saindo da cozinha com uma torta sendo equilibrada em uma das mãos, mas sua aparência estava totalmente diferente de antes. Usava um pano na cabeça que lembrava as donas de casa que passavam o dia limpando cada recinto de sua moradia, um avental manchado estava pendurado sob o seu pescoço e por trás usava uma camisa branca simples e uma calça preta. Era uma vestimenta totalmente despojada e informal, mas seu semblante permanecia impassível.

    - Alguém quer sobremesa?

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde histórias criam vida. Descubra agora