CAPÍTULO 39

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    Trancada na cela escura e suja, eu me encolhia no canto abraçada nos meus joelhos. Queria chorar, queria gritar, dizer que não era justo, explicar que eu não tinha relação com nada disso.

    Hange me fez muitas visitas dentro dos dias em que estava confinada. Ela vinha sempre com as mesmas perguntas que não tinha respostas. Ela saia frustrada e gritava comigo, me abominando de todos os jeitos. Volta e meia ela vinha com um prato de comida decente ou uma coberta para me aquecer na noite fria, em troca das informações que ela desejava. No entanto, ela ficava sem nenhuma e levava tudo embora. Uma vez eu considerei mentir para poder ganhar comida já que não comia direito desde que fui aprisionada, mas isso só pioraria minha situação. Eu precisava provar que era inocente, mas daqui de dentro eu não conseguiria nada. Apenas conseguia encostar contra a parede e olhar para as grades enferrujadas, além disso meu corpo estremecia contra a pedra gelada.

    O tintilar das chaves que provavelmente abriam a porta que dava para o cárcere invade os meus ouvidos. A probabilidade de ser Hange era extremamente alta, então me preparo para uma mulher furiosa e intolerante.

    - Se veio me fazer as mesmas perguntas você está perdendo tempo, Hange. - Eu falo em um tom mais alto que o normal, para ela ouvir da porta.

    Os passos não cessam mesmo com a minha fala, o silêncio apenas predomina quando ela para a frente da minha cela.

    - Vai perder seu tempo... - Eu digo sem levantar o rosto.

    - Pelo menos eu vou poder te ouvir - A voz não era da comandante. Essa voz pertencia a alguém que me fazia arrepiar.

    - Levi! - Eu falo espantada ao vê-lo parado com as mãos no bolso. Ele não parecia amigavel, mas não parecia querer me matar. Talvez realmente quisesse me ouvir, talvez ele acreditaria em mim.

    - Você está acabada... - Sua fala foi tranquila e eu apenas solto uma pequena risada. No entanto, ele tinha razão. Minha roupas estavam sujas, meu cabelo desgrenhado, unhas sujas, além disso eu tinha emagrecido o suficiente para aparentar a alimentação inadequada.

    - Quer ficar no meu lugar?

    - Você que se colocou aí - Agora sua palavra foi cortante.

    - Você acha que estou aqui por escolha? - Eu me levanto e fico frente a frente com ele.

    - Se respondesse ao interrogatório com sinceridade poderia sair - Ele cruza os braços à frente do corpo e dá um passo para atrás. - Entrou na tropa para se preparar para este golpe de estado?

    - Não! - Eu dou as costas para ele e encaro o canto da parede lateral da cela. Me preparo para a chuva de perguntas.

    - Então, o duque Thomas te abordou e te ofereceu uma posição em troca de informações do Reconhecimento?

    - Não.

    - Onde está a Historia? - Essa pergunta parece que sai com uma ponta de esperança.

    - Eu não sei.

      Eu o vejo abaixar a cabeça e espero sua próxima pergunta, mas ela não vem.

    - Levi, eu não...

    - Porque você não se ajuda? Se você responder eu posso te proteger.

    - Eu não estou envolvida nisso - Eu me aproximo novamente lentamente fazendo-o voltar o seu olhar para mim. Eu olho profundamente em seus olhos, procurando demonstrar toda a sinceridade possível. - Eu não sou uma espiã, Levi.

    Um silêncio cai sobre nós. O rosto do capitão mais forte da tropa começa a tomar a forma de sentimentos que eu imaginava que ele fosse imune. A mágoa em seu rosto se destaca, seu olhar se desvia mostrando que não conseguia me olhar. Além disso, suas sobrancelhas levemente franzidas demonstravam a dor que sentia. Toda a frustração e a decepção são mostradas com sua expressão de olhos pesados e marejados.

    Essa visão me impacta e sem pensar eu levo minha mão ao seu rosto tocando-o suavemente. Eu o faço olhar novamente para mim, mas isso  me machuca mais ainda. O homem que fui entendendo pouco a pouco, o capitão que eu enfrentei e odiei, o soldado que eu admirei, a pessoa que eu senti falta todos os dias quando se afastou. Ele estava na minha frente exposto, estava mais nu do que nunca. Eu sinto uma lágrima percorrer minha bochecha.

    - Acredite em mim, por favor - Minha voz sai chorosa e ele segura a minha mão que estava em sua face.

    - Eu queria acreditar - Ele solta minha mão e segue em direção a saída.

    O meu coração se dilacera e minhas pernas vacilam me desmoronando no chão. O choro sai incontrolável e a respiração fica instável. Parecia que tinha levado uma facada no peito e que a dor se espalhava para todo o meu corpo. Essa foi a pior facada de todas.

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde histórias criam vida. Descubra agora