CAPÍTULO 24

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Um grito estridente ecoa da minha boca até eu perceber que não estávamos caindo em queda livre. Nós éramos levados por uma corrente de água que inacreditavelmente se assemelhava muito com um dos escorregadores de madeira que ficavam nas praças. Quando eu senti o chão se partir aos nossos pés minha vida tinha se passado pelos meus olhos pensando que aquele era o nosso fim, mas ao invés disso éramos conduzidos velozmente pelo tubo molhado.

Enquanto a água nos levava, cristais de diversos tamanhos destacavam-se nas paredes das rochas. Eram tão incríveis que quase me fez esquecer do perigo imediato, mas eu confesso que aquela visão era de tirar o folego. A pedra parecia cintilar em mil estrelas, coberta por uma escuridão de fundo sendo colorida por minusculos cristais.

Uma paz me invadiu como êxtase. Era disso que o meu pai falava. Ver algo tão maravilhoso em meio a tantos desafios e perigos. Ficar paralisado com tanta beleza que a natureza podia proporcionar. Queria tocar cada pequena e sublime perfeição, mas a água que me empurrava não permitia que eu pudesse vislumbrar cada detalhe, apenas me dando relances do cenário.

Com isso, eu volto o meu foco ao desafio que teríamos que passar por agora. Não sabia até onde iríamos, não sabia onde iríamos parar. Um lago subterrâneo? um pequeno riacho? Ou uma cascata? Não queria descobrir o que havia no fim do tubo, pois provavelmente levaria à morte. Tento me agarrar às paredes procurando parar de escorregar, mas eu senti Levi me abraçando por trás recolhendo os meus braços junto ao corpo. Sentia sua respiração. Sentia o pulsar do seu coração. No entanto, não sentia nenhum tremor.

- Pode machucar os braços desse modo. Deixe-se levar - Nossos corpos estavam completamente colados um ao outro, mas não me importei naquele momento. A adrenalina corria por todo o meu corpo fazendo com que eu me concentrasse apenas aonde nós iríamos parar ou cair.

Deixamos-nos ser conduzidos pela gravidade e pela água até conseguirmos ver um vácuo. No fim do tubo não havia nada, apenas uma queda livre de uma cachoeira.

- Levi! - Eu gritei para ele em desespero. Seria esse o nosso verdadeiro fim?

Use o equipamento quando cair... - O fim do nosso toboágua se aproximava e o capitão se afastou de mim para se preparar.

Eu faço o mesmo o mais rápida possível. Não queria ver o que haveria no fim da cascata iminente. Ao ficar novamente sem chão lancei os cabos nas rochas laterais da caverna e soltei o gás, para me impulsionar e proporcionar o equilíbrio para esperar o capitão. No entanto, ao invés de me equilibrar, meu peso me leva em direção a pedra em que os meus cabos haviam se prendido. A água provavelmente tinha danificado meu equipamento e agora eu colidiria fortemente com o rochedo. Somando a força e velocidade o choque seria grande, talvez o suficiente para quebrar alguma parte do meu corpo.

Fecho os meus olhos esperando a dor que me invadiria em instantes e ela veio como se um titã tivesse me arremessado longe. Minha força se esvai do meu corpo assim como minha consciência.

〰️

- S/N! Acorda! - Sentia meu corpo chacoalhar incessantemente, mas a sensação de dor em meu peito se destacava se tornando torturante.

Eu precisava de ar. A minha urgência se tornou desespero me fazendo tossir infindavelmente. Senti muita água sair da minha boca e finalmente o ar tomou posse dos meus pulmões. A dor havia sumido, assim como a escuridão que cobria minha visão. Aos poucos tudo foi se ajustando e clareando. A primeira visão que tenho são os olhos do meu capitão cobertos de medo e pavor debruçado em cima de mim. Sua respiração quente sensibilizava o meu rosto e eu ficava desnorteada com tal sensação. Eu seria capaz de dormir tranquilamente com a respiração de Levi tão perto de mim. O conforto e a mansidão que sentia me trazia uma leveza imensurável. Fecho os olhos de novo, me sentindo muito fraca para mantê-los abertos.

- S/N! Você está bem? - Sinto sua mão passear por uma das minhas bochechas tirando os cabelos molhados que estavam grudados nela - S/N, por favor diga alguma coisa... - Ao abrir meus olhos novamente com muito esforço vejo o seu olhar em desespero. Ele continha tanta aflição e angústia que achei por um segundo que tinha morrido, mas ao tocar seu rosto vejo que aquela ansiedade era real. A agonia que Levi demonstrava nesse momento era real.

- Eu estou bem - O capitão suspira de alívio e se afasta de mim me oferecendo espaço para me levantar.

O observo por alguns segundos. Parecia tão vulnerável quanto um rato em uma ratoeira, mas aos poucos ele se estabilizava emocionalmente, transformando-se novamente em uma pantera negra inabalável.

Atrás dele havia um rio que corria calmamente e nós estávamos dentro de uma espécie de câmara enorme. Alguns cristais estavam incrustados no teto e brilhavam com sua própria fonte de luz. A luminosidade era suficiente para observar alguns túneis que só os deuses sabiam aonde levavam. O que mais me intrigava era que eu nunca havia ouvido falar de cristais com luz própria. Era tão lindo que eu poderia olhar para eles durante uma vida inteira, porém uma pena que eu não conseguia tocá-los. Assim como no toboágua que eu e o capitão experimentamos.

- O que aconteceu? - Eu olho para o capitão que já estava de pé torcendo a camisa molhada. Noto que tanto ele quanto eu estávamos sem o equipamento 3D, e ele não estava à nossa volta. Levi se irrita com sua tentativa falha de tirar o excesso da água, por conseguinte ele arranca a camisa do corpo exibindo as costas definidas.

Minhas bochechas queimam instintivamente e desvio o olhar enquanto ele torcia a camisa para depois colocá-la novamente.

- Você colidiu na rocha ao usar o equipamento e provavelmente desmaiou com o impacto. O equipamento soltou da pedra e você caiu do rio subterrâneo. Eu fiz uma manobra e fui atrás de você - Ele não olha para mim enquanto falava - Tentei te puxar para a margem, mas o peso do equipamento dificultava tudo. Então me livrei deles e te carreguei até aqui - Agora ele estava de costas para mim e um silêncio caiu sobre nós.

Depois de absorver tudo o que aconteceu e conseguir me recompor fisicamente, começo a procurar uma solução para a nossa situação. Estávamos presos em uma caverna com vários túneis, um deles provavelmente levaria a alguma saída. O problema era saber qual.

- Então capitão? Qual é o plano? - Eu falo me levantando e torcendo a minha camiseta que colava em cada parte do meu corpo destacando cada curva.

- Procurar correntes de ar nos túneis e então seguir por ela - Ao se virar para mim vejo uma leve expressão de surpresa e então ele automaticamente abaixa a cabeça - Vamos começar a procurar...

Ele se afasta de mim e segue para um dos túneis, eu faço o mesmo e procuro sentir qualquer resquício de uma brisa dentro de cada túnel que passo. Quase desistindo, avanço um pouco em um dos menores corredores de pedra e de repente sinto uma leve brisa arrepiando os pelos do meu braço. Ali estava a nossa saída.

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde histórias criam vida. Descubra agora