CAPÍTULO 19

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Tantas mortes... Tantas perdas... Cada vida... Cada família... Cada momento... Se foi deixando apenas lembranças boas e ruins das pessoas que estavam ao nosso redor. Tinham batalhões que haviam sido totalmente disseminados e outros tinham poucas perdas, por exemplo como o nosso batalhão. Olou, Gunter, Eld e Petra tinham morrido em batalha e segundo o relatório o Levi havia visto tudo e enlouquecido. Todos os veteranos haviam morrido e só restava o capitão como espelho de experiência. Não sabia o que aconteceria a partir de agora, não sabia como seria o convívio a partir de hoje.

Não tinha encontrado ninguém no corredor desde que todos entraram no quartel, provavelmente estavam todos os seus quartos sentindo tudo aquilo que o campo de titãs não permitia sentir totalmente. Me perguntava se Levi estava se permitindo sentir tudo, já que a maior perda foi dele por perder todos os seus amigos mais próximos. Os amigos mais antigos.

Um grito soa pelo corredor e corro em direção ao som, até outro grito inavadir minha audição. O som estridente vinha de dentro de uma sala que eu entro devagar de forma sorrateira. A luz cobria o local onde havia um tapete simples no chão, alguns pequenos armários escondiam as paredes e dois sacos de pancadas estavam pendurados no teto. Um balançava de acordo com os sons dos socos que eram desferidos pelo capitão Levi. Ele usava uma calça preta folgada que era segurada pelo seu cinto e o seu peito estava nu mostrando o abdômen definido e os braços fortes.

- Capitão, está tudo bem? - Levi não olha para mim e nem para de socar furiosamente o saco, por isso achei que minha voz saiu baixa. Eu entro no cômodo impondo minha presença e o vejo dando um chute forte que causa um estalo no saco de pancada - Capitão! - Ele segura o saco de pancada e finalmente me olha.

- O que você quer? - Seus olhos percorriam todo o meu corpo e um desconforto me domina me fazendo voltar o meu olhar ao saco.

- Você está bem? - Ele se afasta do saco de pancada e pega um pano para limpar o suor que percorria por parte do seu rosto e pescoço.

Ele se aproxima de mim devagar, mas dessa vez mantém uma distância respeitável. Com sua aproximação consegui perceber que seu cabelo estava molhado e alguns fios grudavam em sua testa o deixando incrivelmente despojado. Suas maçãs do rosto estavam levemente avermelhadas e sua boca despretensiosamente aberta. Chegava até a ser provocante sua postura atual, quase me deixando alienada a toda a situação.

- Por que isso te importa? - Ele passava o pano atrás da nuca deixando os bíceps fortes na amostra, além de me olhar duramente quase como um olhar incisivo.

- Se for considerar tudo o que aconteceu na missão e sua atitude de agora a pouco diria que precisa de ajuda - O capitão joga o pano no chão e começa a se aproximar de mim novamente, mas dessa vez eu não recuo.

- Você vai me ajudar? Como? Sabe quem precisava de ajuda? As pessoas que morreram em campo - Essa última frase ele fala gritando na minha cara, me sinto envergonhada pelo comentário que fiz - Um filho foi devorado por um titã, uma irmã foi esmagada por outro, um amigo foi torturado por ter sido engolido vivo com feridas extremamentes graves. Sou eu quem preciso de ajuda? Eu estou vivo, mas... - Seu olhar se desvia de mim e sua voz se amansa - ...eles não estão - O capitão se afasta de mim me permitindo respirar novamente. Ele segue em direção a janela e se apoia com os braços no parapeito - O meu esquadrão morreu. Oluo, Petra, Eld e Gunter... - A sua voz possuía um tom que demonstrava muito sofrimento. Essas quatro pessoas conviveram por muito tempo com o capitão Levi, logo se tornaram sua família e ele a havia perdido agora. Estava sozinho. Ele tinha os novos recrutas, tinha a mim, mas eu sabia que não era a mesma coisa.

Eu me aproximo dele e levanto a mão para colocá-la em seu ombro em sinal de apoio, mas com um movimento ágil Levi segura o meu pulso e o aperta. O gesto me assusta assim como a postura que ele assume. Me olhava de forma profunda e ameaçadora, seu olhar se assemelhava ao olhar de um assassino pronto para sacar uma faca e matar. Intimidada eu me encolho, mas Levi pressiona ainda mais o meu pulso chegando a machucá-lo.

- Saia! - Ele me larga e sigo até a porta sem olhar para trás, mas antes de sair ouço a sequência de socos voltar a ser desferidas no saco de pancada que eu acredito já ter sofrido bastante.

Pelo visto a maior emoção que Levi demonstrava era a raiva. Acabei de ver um homem furioso e frustrado. Será que ele preferia ter morrido a ter que passar por isso?

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde histórias criam vida. Descubra agora