CAPÍTULO 9

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     Sentia meu corpo balançar como se estivesse dentro de um pequeno barco, a escuridão circundava minha visão, mas aos poucos pequenos pontos de luzes amarelas e alaranjadas começaram a surgir. O preto marfim logo se tornava fosco com pequenos vislumbres de onde eu estava ou para onde estava indo, pois os pequenos solavancos constantes, mas suaves deixavam a entender isso.

     Quando consegui focar minha visão vi o castelo que era o quartel ao longe e o nascer do sol que inundava a paisagem com tons quentes, deixando uma vista digna de uma pintura. Nas minhas direções laterais estava a campina com algumas árvores sortidas, logo a floresta em que eu havia treinado ficava logo atrás de mim.

Meu treino? O que havia acontecido? Já tinha me localizado onde eu estava, como cheguei aqui?

     - Ah, você finalmente acordou! - disse uma voz masculina muito perto, perto demais, estava atrás de mim, próximo da minha orelha. Me viro de solavanco, no entanto quase caio, só então percebo que os solavancos que eu sentia eram os solavancos do cavalo marrom escuro que andava calmamente em direção ao quartel - Cuidado não quero que apague de novo... - disse o homem atrás de mim me recolocando nas costas do cavalo.

     Procuro virar apenas a cabeça para ver quem estava conduzindo o corcel ao qual estávamos montados. Ao ver o cabelo negro e a expressão impassível focada no horizonte meus olhos se arregalam.

     - Levi? - Me remexo para me ajeitar e sinto não apenas o cavalo, mas também um calor que percorria toda a extensão das minhas costas. Nossos corpos estavam colocados, seu peito nas minhas costas e seu rosto próximo da minha nuca. Sentia levemente sua respiração no meu pescoço nu e seus braços fortes a frente do meu corpo segurando as rédeas do cavalo. Estávamos próximos demais. Como isso havia acontecido? - O que aconteceu?

     - Você estava treinando e chegou ao seu limite, sem conseguir se mover começou a cair de uma altura considerável. Acredito que iria quebrar alguns ossos se eu não tivesse te segurado a tempo - Não conseguia ver seu rosto, mas sua voz saiu fria parecendo decepcionado.

     - Como você estava lá?

     - Eu ouvi os cavalos agitados durante a noite e depois vi você indo em direção a floresta correndo com Yuki. Então fui atrás e vi todo o seu treino escondido.

     Realmente agora eu estava encrencada. Ganharia outro castigo por ter quebrado as regras. O que seria? Limpar outra vez os estábulos, porém por um mês? Lavar a louça de todos? Ficar restringida de ir às missões?

     - Você não receberá punição pelo que fez... - Levi leu meus pensamentos ou eu pensei alto? De súbito ele faz o cavalo parar perto de uma árvore. Descendo do cavalo, ele para ao seu lado.

    Imitando-o, desço do cavalo também, mas não sinto minhas pernas e acabo me desequilibrando, eu apenas não vou ao chão porque sinto a mão de Levi segurando minha cintura até eu ganhar equilíbrio suficiente para ficar em pé sozinha.

     - Por que paramos? - pergunto confusa e o vejo sentar ao pé do tronco da árvore.

     - Nisshoku precisa descansar, ela não está acostumado a levar duas pessoas - Nesse momento, olho a égua de Levi com mais atenção, seu pêlo marrom se destacava com a crina negra, mas possuía um charme pela pelagem negra próxima aos cascos. Ao analisar o cavalo percebo que Yuki estava amarrado à Nisshoku para nós seguir na caminhada.

     - Quanto tempo vamos esperar? - pergunto acreditando que seria estranho chegar com Levi a essa hora no quartel. Ele apenas bufa e cruza os braços apoiando a cabeça no tronco fechando os olhos.

     Me apoio no tronco assim como ele, deixando um espaço considerável entre nós. Nisshoku , começava a mordiscar a grama e Yuki andava próximo de nós olhando os arredores. A paisagem ainda continuava alaranjada, o azul do céu ainda não tinha se estabelecido completamente, mas alguns pontos já podia se ver o azul bebê que deixava o céu único.

     - Por que fez aquilo? - pergunta Levi subitamente.

     - Aquilo o que? - estava confusa com a situação  por inteiro, não tinha absorvido ainda tudo o que havia acontecido.

     - Treinar daquele jeito... - diz ele finalmente olhando para mim. Com o seu contato visual eu desvio o olhar focando na grama próxima aos meus pés pensando o que deveria responder. 

     - Quero provar que não sou um fardo.

     - Um fardo?

     Me irrito levemente com ele por suas intermináveis perguntas que ele provavelmente saberia responder.

     - Você viu o treino de ontem, o que a Mikasa fez e falou - digo ríspida.

     - Realmente... - sua face se volta para o céu e ele muda de posição recolhendo uma das pernas e apoiando o braço em cima dela - O seu desempenho foi decepcionante considerando que havia ficado entre as melhores do treinando.

     - Mikasa ficou em primeiro e eu fui a última dos 10 melhores. Não tem que colocar as expectativas em mim - digo mais irritada ainda.

     - Mas não é você que não queria provar que não é um fardo? - essa frase ele fala olhando para mim e se inclinando na minha direção se aproximando. Eu fecho a cara procurando sustentar o olhar dele. Próximos o bastante para sentir a respiração um do outro.

     Enquanto os meus olhos deviam estar transbordando de diversas emoções, os dele continuavam gélidos, mas pacíficos. O que será que se passava na cabeça dele naquele momento? O que será que havia acontecido para o seu olhar se tornar aquele vazio intenso?

Ele desvia o rosto fechando os olhos novamente e eu solto lentamente o ar que eu nem havia percebido que tinha prendido. Yuki se deita próxima de mim o que chama a atenção de Levi que olha de Yuki para mim para depois fechar os olhos novamente.

Eu acaricio o corpo de Yuki enquanto me perco nos meus pensamentos. Não estava totalmente confortável ao lado de Levi que havia diminuído a distância que eu havia estabelecido antes, nossos ombros se tocavam levemente, mas ele não parecia se incomodar com esse fato.

     - Você tem um grande potencial...

     Sua fala me surpreende e sorrio olhando para Yuki que estava com os olhos fechados. Se Levi, que possuía uma força muito além do normal, acreditava mesmo naquilo, eu não seria um fardo e deixaria meu pai orgulhoso. Eu me agarrarei a isso.

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde histórias criam vida. Descubra agora