CAPÍTULO 15

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As estrelas no céu com a lua cheia ofereciam luminosidade suficiente para ver além do horizonte. Estava uma noite fria e a murreta pedra gelada em que estava sentada me causava alguns calafrios, mas quando focava na paisagem na minha frente esse sentimento se tornava distante e quase imperceptível. A sacada dava de frente para a floresta que os cavalos haviam fugido. Todos já conseguiram encontrar os seus corcéis na tarde em que começamos as buscas, mas Yuki ainda não havia voltado.

Eu devia ter imaginado que ela não seria tão obediente quanto os outros, sendo teimoso e talvez até ignorando o meu chamado. No entanto, ainda ficava preocupada se ele estava bem, me doía o peito ao pensar nele com algum ferimento grave.

Onde você está Yuki? Porque não volta para mim? Se você voltar eu juro que você receberá mais cenouras do que pode comer, além de me livrar dos jantares com o capitão.

Esses jantares não eram a parte mais tranquila do meu dia. A minha ansiedade sempre crescia enquanto cozinhavamos e ficava muito nervosa ao sentar junto com Levi jantando com ele literalmente à luz de velas. No entanto, esses jantares se tornaram um pouco mais leves do que os primeiros, talvez começamos a nos acostumar com a presença um do outro, pois trocavamos algumas palavras diversas, sendo divertidas ou polêmicas. Eu gostando ou não haviamos nos aproximado consideravelmente.

- Você vai ficar doente se continuar aí fora! - Ao me virar vejo Levi com um cobertor que parecia bem quentinho vindo se sentar ao meu lado em cima da murreta.

Ele se senta mantendo uma distância considerável entre nós e joga o cobertor por cima dos meus ombros e dos dele nos fazendo dividir a coberta que não era grande o suficiente para nós dois. Acredito que por isso ele se aproximou de mim ajeitando a coberta.

- A Yuki ainda não voltou? - Eu apenas balanço a cabeça em negação e fixo meu olhar no horizonte- Porque se importa tanto com ela? É apenas um cavalo, é possível substituí-la - Sua pergunta me pega de surpresa e uma pequena pontada de irritação de alastra pelo meu corpo.

- O primeiro dono de Yuki foi o meu pai, o cabo Hiroshi. Ela é a única ligação que eu tenho com ele aqui no esquadrão. Achei muito curioso quando Yuki me escolheu, me senti ainda mais próxima de meu pai, pois acreditei que ela viu ele em mim. E então... - eu suspiro e abaixo o olhar vendo minhas pernas pendendo no ar - Eu a perdi, assim como... tsk - Sinto uma gota escorrer pela minha bochecha para depois sentir algo quente a limpando delicadamente.

Levi me olha com compaixão enquanto sua mão limpava a lágrima que havia caído. Eu não precisava da pena dele, não queria a de ninguém, eu iria encontrar Yuki e deixaria todos de queixo caído com o que eu conseguiria fazer com ele.

- Eu percebi a falta de disciplina de Yuki com você. Realmente é um cavalo curioso, posso lhe ajudar a treiná-lo se ele voltar.

- Em troca de quê? - Uma pontada de irritação se destaca na minha fala, mas Levi não parece se importar.

Levi tomba a sua cabeça para o meu lado oposto e encara o horizonte.

- Nada, só estou fazendo meu papel de capitão.
Bom, mas e porque você acha que eu preciso da sua ajuda? Eu consigo me virar sozinha.

Ele suspira e assente.

- Eu sei disso e acredito nisso, mas Nisshoku era teimoso assim como Yuki e não foi fácil treinar ele. Levei meses para impor minha posição e nesse tempo não pode ir em expedições.

Aquilo parecia uma ameaça. Eu sabia que era arriscado ir em uma expedição com uma cavalo que não estava totalmente treinado, mas não imaginaria que o capitão me impediria de ir.

- Acho que não tenho escolha, não é? - Ele me lança um olhar e depois o volta para o horizonte novamente.

Eu o obervo sem ele perceber, ele era alguém que ainda me irritava às vezes com sua postura altiva e impassiva, mas era alguém que me intrigava de uma forma extraordinária. Apesar dessa ajuda que ele ofereceu parecesse um abuso de poder, ao mesmo tempo era um ato gentil, pois ele poderia me deixar eu me virar até que conseguisse controlar Yuki sem ir em nenhuma expedição. Levi era um ser humano gentil, apesar de procurar não aparentar isso.

- Obrigada... - minha voz sai quase como um sussurro, mas ela sai alta o suficiente para ele voltar seu olhar para mim. Nesse momento nossos rostos ficam alinhados e nossas respirações entram em sincronia. Aquela sensação de alucinação volta ao meu corpo e me perco dentro do seu olhar que eu não sabia decifrar naquele momento.

Isso se sustenta por um tempo até o capitão quebrar o feitiço se levantando. Ele dá as costas para mim abandonando a coberta comigo.

- Não fique muito tempo aí fora - Ele passa pela porta entrando no QG e sumindo da minhia vista.

Não sabia exatamente o que estava sentindo, era muito confuso. Era uma mistura de sentimentos incontroláveis. Estava preocupada com Yuki, confusa com o capitão, além de me sentir culpada por ter perdido algo que imaginava ser muito importante para o meu pai.

Ao me levantar e dar uma última olhada para o pé da floresta vejo uma pequena sombra saindo do meio dos troncos. Ela estava correndo e quando ela foi inundada pela luz da lua reconheci a pelagem prateada. Yuki havia voltado e um alívio percorreu todo o meu corpo. Era realmente um cavalo peculiar.

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde histórias criam vida. Descubra agora