CAPÍTULO 14

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     Primeira noite como auxiliar na cozinha com o capitão. Eu detestava cozinhar. Me lembrava de como minha mãe me ensinava a fazer cupcakes, tortas, frango recheado e etc. Eu achava um grande tédio, pois não era isso que eu queria fazer. Não queria apenas encher a barriga do meu marido com comida gostosa, queria ter minha própria independência, além de aventura. Por conta desse ponto sempre me achei muito mais parecida com o pai do que com a minha mãe. Chegava a ser cômico porque era com ela que eu passava mais tempo, claro que fugia de casa muitas vezes procurando novos lugares para explorar pela cidade, mas sempre tinha que voltar para casa levando um belo e longo sermão.

     Apostava cinquentão que seria o mesmo tédio com o meu superior na cozinha. Abrindo as portas da cozinha, ele já cortava alguns legumes e vestia seu avental com um pano no cabelo para prendê-lo.

     - Está atrasada... - ele nem faz questão de levantar o olhar, apenas continua com seus cortes constantes e perfeitos na tábua de madeira.

     - Desculpe, eu estava...

     - Não me interessa! Vista o avental e amarre o cabelo - Nesse mesmo momento ele acaba de cortar e olha para mim esperando que eu me vestisse.

     Caracterizada com o vestuário da cozinha às ordens do capitão, eu me aproximo para saber o que eu deveria fazer.

     - Já possui experiência preparando comida? - pergunta ele girando uma faca entre os dedos para depois cravá-la na tábua de madeira.

     - Eu cozinhava com a minha mãe, mas nunca admirei muito a arte gastronômica.

     - Azar o seu... - Era impressão minha ou o capitaõ estava mais rispido do que o normal? Provalvelmente estava irritado comigo por ter perdido todos os cavalos. Ou talvez a sua imparcialidade se acentua mais por estar mais concentrado naquilo que estava fazendo, mas como isso me irritava. Sua neutralidade é coberta por uma sinceridade fria e áspera. Me deixava com vontade de socar aquele queixo perfeito ou aquelas bochechas marcadas pelo seu maxilar.

     Não havia muita dificuldade em preparar as refeições que seriam servidas. Elas eram divididas em três partes básicas: entrada, prato principal e sobremesa. O prato principal era o que todos comiam, deixando a entrada para o pessoal começar a chegar e ir enganando a fome e a sobremesa era apenas um tira gosto que aqueles que comeram a entrada muitas vezes passam.

     Minha função não passava muito de lavar a louça, cortar ou ralar ingredientes e manter a cozinha organizada. O capitão era quem preparava os pratos e cuidava do fogão, eu realmente não passava de uma auxiliar. Nossas conversas se baseavam em ordens e perguntas, nada pessoal, mas sempre possuíam um clima tenso me deixando desconfortável. O silêncio que se impregnava sobre nós uma vez ou outra era preenchido por partes das conversas paralelas que vinham da sala de jantar, deixando o ambiente um pouco menos desagradável. Estava agradecida por não estar comendo com os outros hoje, pois eu seria mais uma vez o alvo da conversa. Estar escondida nesse momento era a melhor coisa que podia acontecer, assim não enfrentaria a vergonha e humilhação que tinha passado.

     O prato de entrada foi servido e todos atacaram como tigres famintos. Logo após o capitão começou a terminar o prato principal que seria um peru bem grande com um tempero de tirar o fôlego. Ao terminar, o capitão leva aquela suculenta ave e eu vou atrás pronta para sentar e comer junto com todos a refeição principal.

     - O que está fazendo? - pergunta o meu superior de pé ao meu lado.

     - Me sentando para comer - era óbvio o que eu estava fazendo, não podia o capitão ser tão cego para não ver isso.

     - Ainda não acabamos, apenas jantamos quando todos se sentirem satisfeitos - ele me puxa pelo cotovelo de volta para a cozinha me fazendo cambalear um pouco.

     Depois desse momento, minha fome se acentua ainda mais ao sentir todo aquele cheiro de comida fazendo minha barriga roncar alto. Essa sensação foi se amplificando quando percebi que as pessoas demoravam para sair, mas aos poucos o lugar se esvaziava até não sobrar mais ninguém.

     O capitão Levi retira dois pratos de dentro de um forno seguindo para a sala de jantar colocando os pratos de lados opostos da mesa. Eu me sento e começo a comer esfomeada.

- Cuidado para não se engasgar - diz o capitão se sentando à minha frente. Eu estava com tanta fome que nem havia me tocado que com esse sistema eu e o capitão Levi jantaríamos todas as noites juntos e totalmente sozinhos.

     Meus olhos se fixam nele sem saber como reagir. Eu não tinha experiência com isso, mas não era totalmente ignorante no assunto. Eu havia ouvido histórias romanticas onde o casal sai para um jantar romantico totalmente sozinhos. E essa situação quase se igualava a um encontro.

     - Você está bem? - Provavelmente eu havia deixado a amostra meu desconforto, pois a pergunta de Levi foi tão informal que agora não sabia estar surpresa pela sua informalidade ou pela sua pergunta que eu não sabia responder sem tornar o ambiente mais estranho ainda.

     Ele ainda me encarava esperando uma resposta e eu abria a boca para falar alguma coisa, mas não saia uma resposta. Parecia que toda a minha coragem sumia perto dele, me sentia impotente e vulnerável.

     - Não quero você ache isso estranho... - sua fala me pega desprevinida e minha expressão vai de um desconforto inexplicável para uma surpresa que demandava muitas dúvidas - Eu não fiz você me ajudar na cozinha para termos esse momento. Não vai durar muito mesmo, pois os cavalos são todos treinados para voltarem ao ouvirem o assobio de seus donos que nós ensinamos. Se duvidar conseguiremos encontrar todos amanhã mesmo, então estará livre do seu castigo - Ele volta a comer desvindo seu olhar de mim.

     Considerando esses fatos esse castigo era bem leve comparado ao erro que eu havia comitido. O que me intrigava era o porque o capitão não me deu um castigo equivalante a minha besteira. Qual era o real motivo dele ter aplicado esse castigo, se não era para passar esse tempo comigo?

     - Qual é o real motivo desse tipo de castigo então, senhor? - Minha curiosidade tinha se aguçado e não consegui contê-la.

     - Tsk, precisa ter um motivo?

     - Considerando que Gunter ganhou um castigo muito pior do que o meu e acredito que por um erro muito menor.

     Ele suspira e solta o garfo. Pensei que ele olharia para mim, mas na verdade ele encara a comida em seu prato. Não conseguia ver o que se passava em seu olhar, mas não duvidava que não me encarava, pois tentava controlar as emoções que não queria demonstrar. Isso apenas aguçava ainda mais minha curiosidade.

     - Eu te dei esse castigo diferenciado porque queria te agradecer pelo que fez na sala de equipamentos.

     Um silêncio sufocante se estabelesse sobre nós dois. Eu definitivamente não esperava por isso, ele parecia tão desconfortável quanto eu. Não imaginava que ele me agradeceria por isso, porque primeiramente ele não parecia ser o tipo de pessoa que agradecia, principalmente por aquela situação. Aquilo era inédito e se considerar a situação que havia ocorrido antes daquilo, com ele me flagrando espiando de dentro do ármario ele não tinha porque agradecer.

     O resto do jantar foi em silêncio, apenas podia-se ouvir os talheres metalicos batendo no prato de porcelana fazendo um tiltilhar agudo. Eu comi o mais rápido possível para poder voltar ao meu quarto e dormir para que aquele dia acabasse logo.

     - Boa noite capitão! - Eu me levanto me dirigindo a porta prestes a sair.

     - Boa noite cadete! - Eu não olho para trás, apenas fecho a porta e me escorro nela, procurando não cair no chão.

     O que aquilo sigficava? O que eu estava sentindo? E porque eu estava nesse estado com algo que deveria ser natural?

Levi Ackerman - Determinação Inabalável Onde histórias criam vida. Descubra agora