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Quando criança, me lembro que via filmes de ação, aonde a polícia corria atrás do ladrão,sempre imaginei que eu seria a policial ou a pessoa que estaria do lado do bem,mas não,nesse momento eu era a ladra,ou melhor,a vilã. Nunca achei que iria realmente acontecer uma perseguição comigo, ou que eu viveria o suficiente para ver uma ao vivo,mas naquele momento, era isso que acontecia. Uma perseguição.

Três carros estavam atrás de nós, todos de Overhaul. O do meio,é mais rápido era ele quem dirigia. Os outros dois eu não sabia dizer.
Dabi é eu andávamos lado a lado nas motos,aposto que  o barulho estava alto,o barulho da moto,do carro, é até mesmo os gritos de Overhaul estariam altos. Porém meu coração estava tão acelerado que ouvia somente isso, minha adrenalina estava a mil também. Dabi permanecia da mesma maneira de sempre,com aquela calma assustadora,mas sei que hora ou outra seu capacete virava levemente em minha direção.

- Daqui 10 minutos,se continuarmos nessa velocidade,chegaremos no território de Tomura,é então ele vai parar. - Disse Dabi aos berros. Não respondi,não saberia oque responder,como responder. Era como se eu não estivesse dentro do meu corpo,como se minha alma estivesse na calçada assistindo tudo em câmera lenta,vendo todas as pessoas que nós olhavam com desprezo, que tentavam olhar meu rosto é então quando conseguiam,ficavam com aquele olhar julgador. Era como se o controle automático de meu corpo tivesse sido ligado sozinho.

E então fizemos uma curva,a moto quase caiu no chão, a curva foi fechada pra cacete. Não sei como não cai. Dabi estava em minha frente, mas segundos depois já estávamos lado a lado de novo.

- Se ele me pegar. - Eu disse tentando ser ouvida. - Fuja. Não volte para me ajudar,deixe que ele me mate.

- Cala o caralho da boca,não vou fazer essa merda, sua estúpida do caralho. - Foi tudo oque ele disse aos berros.

- Para de me chamar de estúpida,seu desgraçado! - outra curva,os carros de Overhaul haviam acelerado mais,como se estivessem quase nos perdendo de vista.

Por algum motivo,naquele momento me lembrei de meu pai. De suas mãos em meu corpo,é em como ele me usava,é se eu tentasse falar algo para alguém, ele me batia até minha pele ficar vermelha,é então roxa no dia seguinte. Lembro que na primeira vez que tentei contar a alguém, ele me bateu tanto que eu desmaiei,é no dia seguinte,vi que aonde ele tinha batido em meu corpo saia sangue.

E então me lembrei de minha mãe. Ela nunca fez nada para ajudar,sempre acreditou nele,ele era um bêbado. E ela uma fumante. Sempre estava com o mesmo cigarro em sua boca,talvez seja por isso que eu tenha começado a fumar cedo,de alguma forma ela me fez igual ela. Eu sou tão desgraçada como ela. Nunca parei para pensar nisso,mas agora,minha cabeça a mil,me lembrei que nunca os vi usar individualidade. Se eles não tem... Como eu posso ter?

Minha cabeça voltou ao trânsito, conseguia ouvir melhor os gritos de Overhaul,mas ainda estavam distantes o bastante para não conseguir descobrir oque ele tanto gritava. Dabi me gritou algo semelhante a estamos pertos de algum lugar.

Mas minha cabeça voltou a quando eu namorei pela primeira vez.
Ele era uma pessoa qualquer,nunca mais o vi,ou soube dele. Ele é do tipo de pessoa que é figurante na vida de todos. Mas ele me machucou de tantas formas. Não fisicamente como meu pai,mas sim mentalmente ,por culpa dele não consigo confiar ou desabafar com alguém. Ele era tóxico comigo... é eu era jovem,talvez 12 ou 13 anos,ele já era maior de idade,mais velho que Dabi creio eu. E ele me manipulou,em tudo, é quando o amei o suficiente para tentar contar algo sobre oque meu pai fazia,ele me chamou de puta mentirosa é então transou comigo,como modo de marcar meu corpo é determinar que eu era dele, dês de então nunca mais me abri para alguém ou tentei falar sobre oque meu pai fazia.

Até ele,até Dabi...

- Atirem,não deixem eles entrarem no território de Shigaraki,matem ela porra! - Foi oque consegui ouvir pela primeira vez .

- Acelera s/n. Vamos logo caralho já estamos chegando! - Não sei oque era mais alto,a voz de Dabi,ou a voz de Overhaul, os tiros no fundo, talvez fosse meu coração,acho que lá no fundo eu sei que vai acontecer algo.
Ninguém lembraria de mim,meu primeiro amor,que só me mostrou que não posso amar,ou então meus pais,que me mostraram que não sou nada,não tenho nada. Ou então para minhas tias que nunca me ouviram é falaram que era coisa de criança, ninguém lembraria... Eu não era nada para ninguém.
Talvez Dabi se lembrasse,pensar nele me fez olhar rapidamente para seu corpo,as cicatrizes em sua pele,aquela gota de suor que descia por seu rosto,ele estava cansado,sei disso,só dou problemas. Eu deveria deixar ele livre. Mesmo que eu minta sobre isso,para mim,para ele,para todos,sei que no fundo,gosto dele,como nunca gostei de ninguém. Talvez um dia eu poderia sentir algo semelhante a amor por ele,talvez ambos,quebrados pra caralho,possamos tentar descobri que merda é o amor ,juntos. Mas eu sei que o odeio mais. Isso é engraçado. O odeio,mas quero sentir algo por ele.

- Entramos no território de Tomura,agora estamos be... - Não consegui terminar de ouvir o resto da frase.
Um único barulho,um tiro, é então eu senti aquilo entrar em mim,em minhas costas, pelo oque estudei sobre ciências,oque é quase nada,sei que um tiro naquela região iria me deixar bem. A moto foi desacelerando aos poucos,com a mão direita sobre o ferimento consegui parar em algum lugar é então descer da moto. Overhaul ainda estava atrás de mim,porém Dabi estava agora do meu lado,tentando segurar o peso de meu corpo,porém cai no chão,ele foi junto. Me segurou,repetindo várias vezes que eu ficaria bem,é então ele analisou o ferimento,disse algo semelhante a " Você vai sobreviver... ". Minha pressão caia aos poucos,eu mal enxergava Dabi,senti minha bochecha queimar. Lágrimas,eu estava chorando.
E então ouvi Overhaul.

- Eu disse que te mataria primeiro. - Foi tudo oque ele disse rindo ao fundo. O ignorei é me dirigi a Dabi.

- Eu também te odeio. - Sorri, é não vi mais nada. Porém logo antes de desmaiar por completo. Ouvi um grito,próximo o bastante de mim,um grito dolorido. Como se tivesse perdido alguém com quem se importa,um grito de quando você perde um amor ou está tendo uma crise de ansiedade,ou quando não está bem,um grito de dor. Mas acho que aquela dor era profunda demais. Aquele grito mexeu comigo,de alguma forma me fez querer ver quem era. Quem se importava comigo a esse ponto. Mas não consegui,meu corpo não conseguia,não me lembro a última vez que comi ou bebi algo essa semana. Meu corpo precisava de ajuda.

E então ouvi gritos antes de apagar,mas não era o grito daquela pessoa de antes.

Stupid-Dabi Onde histórias criam vida. Descubra agora