》ANNE ON
Quando os tiros finalmente cessaram, Finn e eu estávamos escondidos atrás de um grupo que formava uma parede, o grupo se dispersou e ao abrirem espaço pude ver a cena aterrorizante: corpos caídos, sangue por toda parte, pessoas com machucados e baleadas. Desviei o olhar e voltei me a Finn e sua ferida, o sangue diminuía e ele me encarava com os olhos quase se fechando, subi em cima de suas pernas, apoiando os joelhos no chão.
— Ei! Não desmaia. — Eu o encaro.
— Não vou. — Ele fecha os olhos.
— É serio! — Remexo seu corpo. — Eu acabei de voltar para você, não posso te perder novamente!
— Você voltou para mim? — Ele abre os olhos e eu sorrio e aceno com a cabeça.
— Só se você prometer que nunca mais vai me machucar. — Eu sido séria.
— Eu prometo passar o resto da minha vida tentando consertar o erro que eu fiz. Eu te amo. Eu quero passar todos meus dias com você.
— Isso quer dizer alguma coisa? — Pergunto e sinto meu rosto corar.
— Talvez... isso é um sim?
— Você não fez a pergunta. E acredito que seria agora o momento certo para isso, sabe com você quase morrendo e coisas assim. — Digo rindo e o garoto sorri.
Ainda sorrindo, olho para frente, mais afastado vejo um homem caminhando e ao se virar vejo seu rosto, Luca. Acreditei que haviam o matado, procuro pelos olhos de Tommy, não podia deixar Finn ali, e também não podia o deixar ir embora, ao cruzar com os olhos de Tommy, o mais velho me encara. Ele estava coberto com sangue e suor, tinha uma arma em sua mão e uma posição cansada, ele respirava ofegante e ao olhar para onde estava olhando ele sabia o que eu queria dizer. Tommy começou a correr em minha direção.
— Vocês estão bem? — Ele diz se abaixando.
— Sim. — Finn e eu respondemos em um uníssono e sinto a dor da bala doer cada vez mais que a adrenalina baixava.
— Vá. — Digo e aponto a cabeça em direção de Luca, que se afastava cada vez mais.
— Deveria ser você. — Ele responde me encarando e me alcançando sua arma.
— Eu não posso. — Hesito antes de responder e Tommy abaixa a cabeça e corre em direção ao homem.
Eu volto meu olhar aos olhos de Finn e escorrego meu corpo sobre o seu lentamente, apoio minha cabeça em seu peito e sinto seu sangue se juntar ao meu. Ouço seus batimentos leves e sua respiração contra minha cabeça e mesmo com tanta morte ao nosso redor só consigo sentir a vida entre nós. De repente um último tiro se ecoa pelo ambiente, Luca estava morto, fechei os olhos e respirei fundo.
— Acabou. — Respondo levantando o rosto e olhando para Finn.
— Acabou. — Ele sorri e eu também.
Poucos segundos depois ouvimos sirenes, todos ajudaram a carregar os feridos e os mortos de nosso lado e cada um vai para um lugar, correndo da polícia, Finn e eu se apoiamos um no outro e caminhamos lentamente até a casa de apostas com outros soldados que vieram conosco. Ao chegarmos, o lugar estava cheio, havia homens deitados sendo atendidos e suturados, Finn se sentou em uma cadeira e me abaixei para ver seu ferimento, de repente uma mão tocou meu ombro.
— Anne! — Ao me virar do de cara com Polly que sorria, me levantei rapidamente e a abracei.
— Eu falei que não iria morrer. — Digo sorrindo e posso ouvir uma risada abafada da mais velha.
— Mas você esta sangrando. — Ela olha para meu braço e minha perna, havia um corte profundo na coxa que nem havia percebido.
— Eu estou bem, Finn levou a pior — Me volto o garoto.
— Obrigada. — Ele diz sarcástico.
— Vamos. — Polly diz ajudando o garoto a se levantar e o deita em uma mesa próxima.
Ela pega um kit de primeiro socorros e tira a camisa do garoto, higieniza a área e tira a bala, o garoto aperta minha mão forte e eu ajudo a segurar seu corpo, após isso ela começa a suturar seu ferimento, sinto minha adrenalina baixar e os machucados começarem a doer, coloco a mão na perna e sinto mais sangue escorrer, olho ao redor e vejo todos ocupados e ninguém me olhando, me sento na cadeira ao lado de Finn e abaixo minha calca, deixando minha perna esquerda totalmente exposta.
Estico a perna em cima de um mesa e limpo o machucado com álcool, me fazendo arquear as costas por alguns segundos, vejo Finn observando meu corpo e eu reviro os olhos de brincadeira, pego uma agulha e uma linha de sutura e começo a fechar o ferimento, não estava ficando bonito, mas ajudava a parar de sangrar, Scarlett havia me ensinado primeiros socorros básicos, pois era sempre eu quem ajudava minha mãe e arrumava seus machucados quando meu pai a batia.
Sinto alguns olhos sobre mim, mas ignoro e continuo com o trabalho, o terminar de fechar a ferida inteira faço um curativo com a bandagem enrolando a mesma pela perna inteira e em seguida me levanto e coloco a calça novamente, ao olhar para frente vejo alguns homens me encarando e eu reviro os olhos e me volto a Finn que estava em cima da mesa, Polly já havia terminado seu curativo então o garoto estava apenas descansando.
— Não sabia que você conseguia se costurar. — Ele responde meio zonzo devido ao anestésico.
— Minha irmã é enfermeira. — Respondo acariciando seus cabelos.
— Não sabia que você tinha irmã. — Ele responde confuso.
— Tem muito sobre mim que você não sabe, agora descanse. — Digo beijando seu rosto suavemente e segurando sua mão.
O garoto fecha os olhos e logo adormece, com o passar das horas os homens foram indo embora, alguns até me cumprimentavam falando o quão bem eu havia sido naquela noite, quando o lugar estava quase vazio, Tommy se aproximou de mim.
— Anne. Podemos conversar? — Ele pergunta olhando para minha mão que segurava a de Finn.
— Claro. — Digo levantando e o seguindo até seu escritório, olhei para trás imaginando se o garoto ficaria bem e ao perceber que Tommy me encarava e afastei o olhar.
— Hoje foi... — Eu digo me sentando na cadeira a sua frente tentando encontra a palavra certa. — Excepcional.
— Concordo. — Ele respira fundo. — Alguém já cuidou de seus ferimentos?
— Ainda não, estou esperando Polly, ela não me deixou costurar essa sozinha. — Digo sorrindo irônica.
— Onde você aprendeu a fazer isso de qualquer maneira?
— Minha irma é enfermeira, coisa que você já sabia. — Digo e ele parece surpreso. — Qualquer um faria uma mínima pesquisa em uma pessoa que poderia afetar seus negócios ou que está namorando seu irmão.
— Entao você e o Finn voltaram? — Eu sorrio sem graça.
— Não sei. É... complicado. — Digo e sinto seus olhos pesados sobre mim.
— Tira a camisa, eu faço seu curativo.
Ele diz e eu me levanto, tirando a blusa de couro e o colete, ficando apenas com a camisa de manga curta que estava por baixo. O homem se senta ao meu lado e sutura meu braço com delicadeza, mesmo sem anestesia não sentia nada, já não era a minha primeira bala.
— Quantos tiros você já tomou? — Pergunto e olho para o rosto do homem.
— Dois na guerra e um depois.
— Ainda doí? Quando você se machuca fisicamente? — Ele pousa seus olhos nos meus.
— Muito menos que antes. — Eu sorrio sem mostrar os dentes.
O homem termina de costurar e eu coloco minha blusa de volta e vou até a porta.
— Anne, obrigada. — Ele diz com as mãos nos bolsos me encarando.
— Claro. — Digo séria e saio do escritório.
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Damned Souls | Finn Shelby
FanfictionAnne conheceu Finn de uma maneira inusitada, logo se tornaram próximos, a menina conta com muitas habilidades úteis para a gangue dos Peaky Blinders, contratada por Tommy, ela começa a trabalhar junto a Finn. Porém uma proposta de um inimigo em comu...