23. russian

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》ANNE ON

No começo da tarde volto ao apartamento de Polly, estava com minhas mãos cheias de sacolas de roupas novas, abri a porta e logo me assustei a me deparar com cacos de vidro no chão, cadeiras jogadas, quadros rasgados, cortinas despedaçadas e todas as gavetas reviradas. Corri até meu quarto e joguei as sacolas na cama que estava toda bagunçada.

— Polly! O que aconteceu? — Digo correndo pela casa e procurando pela mais velha.

Nenhuma resposta.

Meu coração acelerou. Quem havia feito aquilo? A resposta mais óbvia era os italianos. Meu sangue ferveu, eles não tinham o direito de mexer com Polly. Procurei pela casa inteira por algum sinal de que a mulher estava bem ou algum pedido de resgate, como não achei nada corri para a parte de fora da casa e respirei fundo, o vento frio invadiu meus pulmões me fazendo encolher. Corri até um táxi e lhe dei o endereço de Changretta. O motorista seguia devagar e a cada segundo minha ansiedade aumentava mais. Ao chegar eu joguei algumas notas sem contar no banco da frente.

— Fique com o troco. — Digo abrindo a porta e saindo do carro.

Vou em direção a porta e respiro fundo, não podia parecer que me importava. Bati na porta e um mordomo atendeu.

— Posso ajudar? — Ele pergunta colocando as mãos atrás das costas

— Preciso ver Luca agora.

— Eu irei ver com ele, se puder esperar... — O homem é interrompido por uma voz familiar.

— Estava imaginando quando você iria aparecer. — Luca diz e o mordomo se vira, revelando o homem mais velho com um copo de bebida na mão enquanto me olha.

— Luca. — Digo olhando para o mesmo.

— Vamos. — Ele diz e entra na sala, o mordomo me dá espaço para passar e eu sigo o mais velho casa adentro.

Ele se senta no sofá e eu me sento a sua frente.

— Porque você fez aquilo? — Tento não mostrar nenhuma emoção na voz.

— Eu precisava ter certeza que estava conosco, morar com o inimigo não é um sinal muito forte de confiança.

— E agora? Tem certeza? — Pergunto cerrando os dentes.

— Não sei... você não foi exatamente muito útil para nós.

— Você não me deu uma chance!

Ele respira fundo e me encara maliciosamente.

— Você está certa. Nos de algo que possamos usar para confiarmos em você.

— Claro, eu só preciso de tempo, me encontre de noite no canal.

— De noite? Não é muito cedo?

— É. Assim nenhuma organização grande contra você poderá ser feita contra você. — Digo sorrindo de canto e me sentando ao seu lado.

— É uma boa estratégia. Mas você precisa ter algo para mim.

— Eu vou te arranjar algo, prometo. — Ele coloca sua mão em minha coxa e eu distancio o olhar.

— Não foi isso que eu quis dizer... — Ele diz e eu o olho confusa. — Você é muito bonita sabia? — Ele coloca a mão em meu queixo e eu me forço a olhar para seus olhos.

— Eu escuto muito disso. — Sorrio sem graça enquanto seus dedos passam por meu rosto até me pescoço.

De repente o homem coloca toda sua mão em meu pescoço fazendo pressão me deixando zonza imediatamente, ele me empurra contra o sofá, agora estávamos de frente um para o outro, ele apertava cada vez mais forte e eu tentava respirar, podia sentir minha pele ficar vermelha e um sorriso aparecia em seus lábios.

— Diga que não vai me trair! — O homem sussurra em meu ouvido.

— E-eu não vou.

— Boa garota. — Ele aproxima seu rosto do meu ainda apertando meu pescoço.

Sentia minha pressão cair cada vez mais, o homem então sela nossos lábios e eu congelo. Ele me beija por alguns segundos, sentia sua língua quente invadir minha boca e eu não fiz nada, me sentia entorpecida, como se fosse apenas um sonho. Depois de alguns momentos o homem se afasta e sorri maliciosamente antes de apertar minha coxa, soltar meu pescoço e sair da sala.

Eu fico em choque, coloco minha mão em meu pescoço e sinto os hematomas, ainda podia sentir o gosto de uísque de sua boca em meus lábios, me fazendo querer vomitar. Respiro fundo e me recomponha, não podia desmoronar, não agora. Não importava o quão bem eu pudesse minha força nunca seria maior que a de um homem, em todos os sentidos.

— Ela está aqui? — Ouço uma voz feminina familiar dizer e me tirar do meu transe.

Me levantei e caminhei rápido até a saída, ao ir para a parte de fora táxi já havia ido embora e não tinha ninguém por perto, quis voltar e perguntar por um telefone, mas por mais que me recusava a aceitar, estava com medo. Caminhei até o acostamento e comecei a caminhar para o lado da cidade, todo carro que passava eu fazia sinal, mas ninguém parava. Caminhava e caminhava até ver uma casa pelos arredores, me aproximei do portão e um guarda me atendeu.

— Olá. — Ele disse me encarando de cabeça a pé.

— Olá... eu posso usar o telefone? Eu me perdi.

— Hm... Creio que não será possível.

— Ah... você pode checar com o patrão? Ou apenas pedir um táxi para mim? Por favor. — Falo olhando para baixo.

— Michael! Quem é a moça? — Uma voz feminina com sotaque se aproxima.

— Lady Ivanov. — Ele faz uma referência. — A garota gostaria de usar o telefone, estava explicando que não seria possível.

— Por que não? Venha comigo.

O homem recebe a ordem e abre o portão, eu sigo a mulher rapidamente.

— Ah... obrigada meu nome é Anne. — Digo sorrindo para a mulher.

— Nikita. Me chame de Niki. — Ela sorri com um ar simpático.

— Claro, muito obrigada aliás.

Quando mais nos aproximávamos mais eu percebia os detalhes da casa, parecia um castelo, era branca e azul, com detalhes vermelhos, havia uma bandeira listrada no quintal, branco; vermelho; e azul, Rússia. Ao chegarmos na porta um dos mordomos abriu a mesma, deixando uma vista linda brilhar sobre meus olhos. Um carpete vermelho que se estendia por todo o corredor, janelas gigantes com detalhes em dourado e uma escada que parecia de um palácio.

— Uau. — Exclamo, apreciando a vista.

— Lindo, certo? — Ela diz sorrindo e eu aceno com a cabeça.

Em seguida seguimos até a sala. Havia retratos de homens e mulheres que assumi ser sua família, o comodo era quase todo em vermelho e branco. Eu observo suas prateleiras com livros de histórias e percebi uma bandeira com o símbolo da foice e o machado em uma das paredes.

— Aqui. — Ela me aponta o telefone e eu sorrio.

— Você é comunista? 

— Sim. Dediquei minha vida inteira a luta contra o fascismo, não ligo se isso me faz uma criminosa. — Ela diz com um olhar amigável.

— Eu não vou te denunciar, se é isso que está pensando. — Digo encarando sua coleção enorme de livros.

— Eu sei. — Ela sorri e coloca a mão em meu ombro. — Fique a vontade.

Ela se afasta e se senta em um sofá, retomando sua leitura e eu me aproximo do telefone.

— Telefonista, me conecte com 966 Birmingham.

Um bipe se instala do outro lado da chamada. Respiro impaciente esperando uma resposta.

— Alô? — Uma voz masculina atende.

— Tommy? — Respondo com pesar.

Damned Souls | Finn ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora