- Capítulo 11 -

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Leonardo Cavalcanti

Eu não sei o que aconteceu comigo. Os meus movimentos parecem ter sido comandados pela raiva. Quando vi o que aquele cara ia fazer com a Fernanda, eu simplesmente agi com um instinto animal. 

Ela parece ser uma mulher forte, decidida, que não se abala com nada. Mas depois que a vi chorando naquele quarto após ouvir as palavras cruéis de seu pai, enxerguei que ela tem uma mágoa muito profunda. 

Saber que o próprio pai não ajudou-a a passar por uma fase tão sombria e dolorosa na vida dela, com certeza não foi fácil. Porém, mesmo com isso, ela enfrentou – com a ajuda de seu irmão. 

Vê-la tão destruída; vê-la falar daquela forma dela mesma; vê-la se martirizar por culpa da falta do Roberto; vê-la triste... eu não sei. Eu sentia uma necessidade de protegê-la. Uma vontade de colocá-la num lugar seguro, onde nada nem ninguém poderia machucá-la novamente. 

Quando a Fernanda começou a contar sobre tudo que passou na infância, eu me senti tão mal. Mais mal ainda quando ela me falou como o Roberto a tratava; como ele nunca se importou com a filha; como ele tinha – e tem – uma preferência pelo Felipe notória; eu fiquei com um sentimento amargo dentro do meu coração. 

Nunca imaginei que o seu Roberto fosse assim. Ele sempre foi muito simpático comigo. Sempre que eu ia passar uma tarde na casa deles com o Felipe, ele vinha jogar bola com a gente. Jogávamos vídeo game até a dona Helena nos chamar para comer. 

Era uma boa época. Apenas para mim. Porque nessa mesma época, a Fernanda sofria bullying.

Quando eu a vi correndo e chorando em direção ao seu quarto depois daquela discussão estúpida, eu simplesmente não conseguia mais ficar ali. O seu Roberto permaneceu lá e continuou falando como se nada tivesse acontecido. Eu senti uma repulsa por ele, algo amargo e sombrio. Não aguentaria ficar mais lá. Ainda mais com a Fernanda, que saiu tão mal daqui.

O Felipe fez menção de se levantar e ir em busca de sua irmã. Fiz um sinal para o mesmo, avisando que eu iria. Eu notei que ela precisava conversar, colocar tudo para fora. E eu me prontifiquei a ajudá-la. 

Depois que ela contou tudo, pude perceber que a mesma estava mais leve, mais aliviada. Ela precisava daquilo. Quando ia me puxar para um abraço, logo a prensei contra meu corpo, tentando transmitir calma, tranquilidade e proteção. 

Aquele momento era de uma conexão tão profunda. Parecia que estávamos conversando apenas com um simples contato visual. Vê-la mais de perto me fez perceber o quanto é encantadora. Ela é tão linda, tão delicada e ao mesmo tempo tão forte. 

Cabelos meio ondulados de uma cor parecida com avelã, com algumas mechas iluminadas. Possui um rosto arredondado; seu nariz é tão fofinho – pequeno mas redondinho. Deve ter 1,65 m pelos meus cálculos. Seu corpo parece uma obra prima; uma pintura tão minuciosa e cheia de detalhes. E são esses detalhes que a tornam espetacular. 

Eu não estava racionando. Só pensava em tê-las nos meus braços. Para sempre. Mas logo percebi que isso não pode ser possível.

Ela estava incrível no lual. Eu a observava de longe. Vi a mesma ir para o bar, começar a conversar com o que parece ser o barman; depois de muitas risadas, ele saiu do bar e Fernanda logo se pôs ao seu lado. Eles foram caminhar. 

Como eu estava sozinho na mesa – já que o Felipe estava bem entretido com a sua nova ficante; e seu Roberto e dona Helena estavam dançando – fui tomar um ar. Peguei um whisky forte e sai da enorme cabana. Meus pensamentos estavam longe. Estava observando o mar até ouvir alguns risos e palavras soltas. 

A Viagem que Mudou a Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora