CAPÍTULO 10

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Rafael, casa dos pais, 1999

O garoto se jogou empolgado e suado entre os pais, que assistiam TV sentados ali.

— menino, vai sujar tudo. — a mulher repreende o filho.

— deixa ele amor, prometo que ajudamos a limpar tudo. — o homem abraça o filho e encaram a mulher, que se rende sorrindo.

— vocês são uns safadinhos. — ela resmunga fingindo indignação. — o que vai querer de aniversário de 8 anos meu amor?

O garoto colocou a mão no queixo pensando, segundos seguidos.

— acampar! — declarou empolgado.

Os pais sorriram em afirmação. Os dias se passaram, e seu pai acabou comentando com um colega de trabalho, sobre o que pretendia fazer no aniversário do filho.

— o sítio é lindo, tem piscina e tudo, vocês podem ficar na casa principal junto com a minha família, ou se preferir tem uma casinha desocupada, assim ficaria mais confortável para passar o final de semana. — o colega convidou de forma animada.

— não sei se é uma boa ideia André, Lúcio não gosta de lugar com muitas pessoas, e combinamos de acampar na serra. — Mateus nega em dúvida.

— você quem sabe, mas se preferir, vou espera-los de braços abertos. — garantiu de forma amigável.

Quando o homem chegou em casa, se reuniu com a esposa e o filho, e contou sobre o convite, explicando que poderiam acampar no sítio, na parte florestal e ficaria mais fácil de dar conforto a esposa, porque a mesma não gostava de está em meio as plantas.

— tudo bem papai. — o menino beijou o rosto dos pais de forma agradecida, e correu para o quintal, brincando com seu ioiô.

O casal sorri feliz, não sabendo eles, que aquela viagem seria o início de um grande pesadelo.

...

RAFAEL, DIAS ATUAIS...

— você é linda. — elogio vendo o rosto corado da minha Mel, após o beijo.

— obrigado. — sorriu e desceu de mim. — você também é muito lindo, e esse seu jeitinho tímido, me deixa toda boba.

— acho que a espontaneidade ficou guardada toda para o Gus. — comento um tanto envergonhado.

— você é perfeito assim como é. — acariciou meu rosto de forma calma e beijou sobre meu peito.

— você gosta realmente de mim, Mel? — encaro ela, me sentindo estranho.

As pessoas são um mistério para mim, muitos tentaram se aproximar por motivos diferentes, e que acabariam me machucando se houvesse permitido a aproximação, mas com a Mel, estou entregue e até enfrentando meus medos para tê-la por perto.

— sim Rafael, eu gosto de verdade de você. — garante me olhando de forma sincera. — eu sei que parece precoce dizer que gosto de você, com tão pouco convívio, mas um dia você entenderá.

As vezes Mel é tão misteriosa, parece que carrega o segredo do mundo em seus olhos, mas ao mesmo tempo transmite aquela sensação de aconchego com sua presença, que não sei explicar.

— você acredita em outras vidas, ligações de alma, amores destinados — pergunto guiando a mesma em direção a cachoeira, e ela observa tudo pensativa. — tipo a teoria da linha vermelha, bem popular na cultura asiática.

— não sei. — deu de ombros me olhando sorrindo. — mas acredito no amor que é construído. Quando falamos de amor, pensamos nas cenas bonitas e alegres que compartilhamos, nos momentos felizes, mas o amor mesmo está nos momentos mais difíceis da nossa vida, quando o que mais precisamos é de um abraço e proteção, e o outro demonstra seus sentimentos, se doando naquele momento. Amar, é ser capaz de dar a vida pela do outro.

— waaallll! — expresso um tanto sem palavras. — intenso e profundo. Gosto do seu ponto de vista, em relação aos sentimentos.

Arrumei a toalha e coloquei os alimentos arrumadinho, como o Gus me mostrou na internet. Estou suando de nervoso, porque não sei como pedi-la em namoro, mas é algo que realmente quero, e nesse momento enquanto escuto ela falar empolgada de várias coisas ao mesmo tempo, me faz ter ainda mais vontade disso.

— você está a mais de um minuto, me encarando sorrindo, e não parece está realmente aqui, então... — me olhou desconfiada e eu ri, porque realmente não sei agir com ela, mas desejo aprender a lidar com seus jeitos.

— desculpa Moranguinho. — ela não pareceu se importa por eu ser estranho, e veio me abraçar como se sempre houvesse feito isso. — você é tão imprevisível, e ao mesmo tempo é como eu já esperasse por certas atitudes suas.

— te entendo Didi. — murmurou no meu peito.

Amo quando ela me chama assim, parece que alguma coisa se movimenta dentro de mim, é como se sempre houvesse sido assim. Talvez em outra vida, tivemos algo e por isso temos essa ligação, ou algo dentro de mim reconhece seus sentimentos puros comigo, ao contrário de outras pessoas que se aproximavam, e eu tinha repúdio.

— vamos comer? — convido sentando-se na borda da toalha e colocando uma almofada para ela.

— sim. Eu não imaginei que havia preparado tudo isso. — comentou de forma encantada, me enchendo de satisfação.

— quero que nosso encontro seja especial. — deixo claro, envergonhado.

— então estamos em um encontro? — me olhou de modo divertido.

— sim. — afirmo tentando ser o mais seguro possível. — desculpa não ter feito um convite, e simplesmente ter trazido você, acho que... Me desculpa.

— calma Didi! — ela senta sobre minhas pernas me abraçando. — eu estou feliz que tenha me trazido para esse encontro surpresa, eu já estava considerando um encontro, antes mesmo de sair da minha casa. — dou um suspiro aliviado e ela sorri.

— obrigado por me fazer se sentir bem. — agradeço olhando seu rosto delicado.

— obrigado por existir, você não imagina o quanto é importante para mim. — encaro ela percebendo o quanto intensa ela está sendo.

Abraço Melissa bem apertado, imaginando que seja isso que ela precisa naquele momento. Passo a mão por seu rosto e sinto molhar, percebendo que ela está chorando.

— porque esta chorando pequena? — questiono preocupado.

— só deixa... — implorou me olhando nos olhos.

Abracei a mesma, e deixei que chorasse o quanto quisesse, não sei seus motivos, mas a forma que ela me pediu, parecia que queria colocar para fora tudo que sua personalidade forte mantém presa. Acaricio seus cabelos macios, ouvindo seu soluços quase inaudíveis, e sinto meu peito e meu cérebro colorirem, como se esse momento, já houvesse acontecido.

Definitivamente, acho que não estou bem psicologicamente.

DOCE MEL |+18|Onde histórias criam vida. Descubra agora