Capítulo 62 ........... Um Novo Jeito De Me Acalmar

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Laura Narrando

O som da porta se abrindo chegou antes mesmo dela e seu seco "Boa tarde". Cleonice sequer veio até a mim dar-me um beijo.

Parada em frente a sua janela, de lado, eu a vi fazer todo o seu ritual de chegada. Tirar os saltos, guardar sua bolsa, verificar o iPhone, arrumar alguns papéis sobre a mesa.

Ela estava linda. Nenhuma surpresa, claro. O rosto levemente maquiado, com destaque nos olhos, o corpo revestido por um terninho de linho com a saia justa nas coxas até os joelhos. Os cabelos marrons estavam soltos e lisos, e com poucas ondulações que caíam sobre seus ombros.

Um suspiro baixo saiu de mim.

Droga. Eu poderia mesmo ficar o dia todo apenas olhando para ela, né?

- E então? - Ela jogou para mim, contudo sequer teve paciência de esperar que eu dissesse ou fizesse algo enquanto se aproximava e já me puxava consigo. Guiou-nos em direção ao seu sofá e nos fez sentar ali. Ela ficou ao meu lado, lateralmente. Seu cotovelo se apoiou no encosto e sua cabeça se manteve inclinada contra o seu punho fechado. Eu preferi ficar de frente, evitando olhá-la. Parte de mim não entendia o motivo de tanta vergonha e relutância, mesmo que a outra me fizesse achar que Cleo me criticaria por recusar sua oferta e revelar que tenho interesse em aceitar a do meu chefe.

Eu era mesmo uma vaca, se não era! Com absoluta certeza deveria mesmo estar sendo corroída pela culpa.

- O que há com você? - Sua voz foi macia, diferente do tom que usou antes para me cumprimentar. O que quer que a tenha deixado zangada, passou. Sua mão livre fez um leve carinho em meu rosto, e eu não relutei o suspiro que abandonou meus pulmões. Seu toque me acalmava.

- Precisamos conversar.

- Você disse isso - não havia qualquer traço de ignorância em seu tom, ao invés disso encontrei paciência.

Eu soltei uma respiração, buscando coragem. Não queria que Cleonice me olhasse com maus olhos, enxergasse-me como uma pessoa ruim e egoísta. Mas era isso que querer aceitar a proposta estava fazendo comigo, não era?

- Laura, fale comigo - Pediu, ainda calma.

Tomando coragem, eu trabalhei minha respiração antes de realmente entrar no assunto.

- Antes de tudo, eu quero que
saiba que vou entender a maneira que vá pensar de mim...

- Apenas diga, Laura.

Outro suspiro me abandonou, dessa vez derrotado.

- Bom... - eu travei aí, não sabendo mesmo como falar aquilo para ela. Era tão patético. Eu estava relutante quanto a conversar com minha noiva, a mulher com quem eu me casaria dali alguns dias. Eu não deveria me sentir insegura sobre nada! Cleonice me amava, eu sabia que ela entenderia a situação, era madura o bastante para isso. O problema era como eu estava me vendo, e recusava-me a crer que ela não me veria da mesma forma.

Como se soubesse que nada sairia de mim naquele momento, Cleo tomou suas próprias atitudes, surpreendendo-me ao se colocar sentada em meu colo, de frente para mim. Sua saia puxada com visível dificuldade até a altura máxima de suas coxas. Parecia desconfortável, mas não é como soasse incomodada com aquilo. Seus braços vieram para o meu pescoço ao mesmo passo em que os meus circularam sua cintura. Eu a queria mais perto, porém a pouca abertura de suas pernas nos impossibilitava uma aproximação mais íntima.

Erguendo o rosto para o dela, eu pude ver em seus olhos puxados toda a intensidade dos seus sentimentos, e, principalmente, todos os seus anseios.

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