Capítulo 11 ........... Meu Pequeno Plutão

478 37 8
                                    

Cleonice Narrando






Eu não fazia ideia de para onde Laura estava me arrastando, enquanto caminhávamos por ruas pouco iluminadas e quase sem movimentação. Por um momento, acreditei que estivesse à procura de um beco, apesar de não fazer nenhum sentido para mim. Eu queria muito perguntar para onde estávamos indo, mas temia falar e, talvez, fazê-la enxergar que isso era um erro, que equivocou-se em pensar em me perdoar, que sua decisão foi tomada em prol da culpa que estava sentindo por achar que feriu meus sentimentos. No fundo, eu ainda acreditava que ela voltaria atrás, reveria tudo o que me disse, riria da minha cara e me perguntaria se eu achava mesmo que ela havia me perdoado assim, tão facilmente. O medo de que isso acontecesse era tão real, que eu quase sentia como se estivesse pisando em ovos. Com toda certeza, se isso viesse a se tornar verdade, eu jamais me recuperaria.

Virando um quarteirão, nós finalmente saímos em uma rua iluminada, com portes de iluminação a cada cinco prédios, e movimentação de carros entrando e saindo de alguns condomínios. Também pude ouvir ao longe o som do trânsito cantando em algum canto, provavelmente uma avenida. Apesar de tarde da noite, ainda era sábado, o que significava que quase ninguém parava em casa, então a movimentação não era assim de se estranhar.

Com a mão entrelaçada à minha, Laura nos conduzia adiante. Vez ou outra eu lhe roubava um olhar, sondando suas feições, tentando descobrir se ela já estava arrependida, mas Laura era muito boa em esconder suas emoções, quando queria. Ela parecia apenas focada, o olhar estreito e sério, mas nada que me fizesse ficar preocupada. Assim eu preferia acreditar.

Alguns passos mais tarde, e nós finalmente paramos diante de um prédio, o portão preto de grade nos permitindo admirar o interior do pátio, revestido com um belo trabalho de paisagismo. Havia plantas e um enorme gramado, onde uma enorme placa de mármore trazia o nome Recanto em letras cursiva e banhado por uma iluminação que provinha dos refletores abaixo dela. Mais adiante, era possível enxergar a entrada da portaria, também cercada com grades e um portão ao lado.

Unindo minhas sobrancelhas enquanto espiava Laura, eu aguardei para saber o que faríamos ali. Eu sabia que não era onde ela estava morando, pois as vezes passava de carro em frente ao seu prédio, a fim de vê-la, caso tivesse sorte. Com o tempo, eu havia parado de fazê-lo, temendo ver coisas que não me agradariam.

Então, se não era moradora, eu não fazia ideia do que estávamos fazendo ali.

Tocando a campainha disposta ao lado do portão, onde câmeras de segurança estavam apontadas para nós, ela me olhou com um sorriso simples, porém empolgado.

Soando uma campainha que mais parecia um alarme, o portão se abriu automaticamente. Ainda com a mão firme em volta da minha, ela me puxou para dentro consigo. Caminhando pelo chão de pedras até a entrada, ela parou na portaria, onde um senhor de aparentemente sessenta anos se revelou. Com cabelos grisalhos e pele escura, ele sorriu para ela como se não estivesse crendo no que via.

- Menina, por onde andou? - Questiona, a mão enrugada indo além da grades para cumprimentá-la. - Estava falando ainda ontem com o Padilha que você tinha sumido, não procura mais a gente, do nada esqueceu-se dos velhos amigos.

Sorrindo com certo carinho nos olhos, ela afagou com a mão livre a dele.

- Que nada, seu Antônio. Eu só estava por aí. Por aí... - responde evasivamente.

- Espero que não aprontando - ele adverte.

Rindo, Laura nega com um movimento da cabeça.

- E eu lá tenho cara de quem apronta? Agora, veja! - Resmunga, falsamente ofendida.

A-traídasOnde histórias criam vida. Descubra agora