Capitulo 48 .......... Dor que Machuca

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Laura Narrando

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Eu não achei que duas semanas pudessem demorar tanto para passar, nem que os dias fossem capazes de se arrastarem mais.

Pra ser sincera, parte de mim embarcou junto de Cleonice quando a deixei no aeroporto. Até tentei me animar para algumas coisas, mas era realmente difícil. Todo o meu bom humor e empolgação se foi com ela.

Dayanne Telles e Márcia que o digam, já que eram as que aturavam grande parte da minha ausência de animação durante o almoço. Meu chefe e amigo preferiu não se meter comigo quando, no segundo dia após a partida da minha noiva, percebeu que meu humor não melhoraria tão cedo.

Contudo, ainda que estivessem sendo dias difíceis, eu tinha alguns lapsos de felicidade quando, mesmo em meio a loucura de estudar para as provas e trabalhar, conseguia conversar com Nice. Nossas ligações não duravam muito, e grande parte da nossa comunicação rolava por mensagens e alguns raros áudios no aplicativo. À noite fazíamos chamada de vídeo como prometemos, e eu não dormi durante nenhuma delas. Na maioria das vezes era Cleo que insistia para que fôssemos descansar, já que nossos dias seguintes seriam cheios. Os dela muito mais.

Nossas conversas se resumiam basicamente a contar como foi o dia uma da outra, e eu sempre lhe contava alguma novidade sobre a sua mãe e o que conversávamos. Estava indo visitá-la sempre que possível. Na maioria das vezes um pouco antes de ter que ir para a faculdade ou na hora do almoço. Perdia mais do meu curto horário no processo de  ir e vir, do que quando na presença da mulher, mas valia a pena cada segundo pois minha sogra sempre me fazia sorrir, além de eu gostar de ver o brilho nos olhos da minha garota sempre que falava sobe sua mãe.

Não foi até hoje, sexta-feira, a primeira semana após a viagem de Cleo, que eu me vi de fato mau humorada. Cleo não tinha entrado em contato comigo na noite anterior, se limitando a mandar uma mensagem dizendo estar cansada após um jantar de reunião estressante, onde, além de voltar tarde, estava exausta demais para ser capaz de me dar atenção. Pediu desculpas e disse que estava com saudades.

Não posso mentir dizendo que fiquei bem com isso e que entendia. Eu não entendia. Pelo menos em parte. Podia compreender que ela estava sob algum tipo de pressão no trabalho e que seus dias têm sido corridos, mas as noites eram para serem um momento reservado a nós. Ela podia ter me ligado nem que fosse para dizer que não poderíamos fazer vídeo chamada por muito tempo. Eu teria ficado contente somente em vê-la antes de dormir.

Passado isso, tudo o que recebi dela foi  um “bom dia” assim que acordei. Ela costumava perguntar se eu dormi bem e se estava preparada para superar mais um dia a menos até que pudéssemos nos reencontrar. Mas a única mensagem só tinha duas palavras e um ponto de exclamação para enfatizar uma animação que era evidente que não existia. Ainda assim, fui trouxa o bastante para responder e perguntar se ela havia dormido bem, recebendo um grande vácuo como resposta.

Não bastando esse pequeno detalhe na falta de comunicação, eu descobri que estava entrando na TMP. Não é como se o meu humor mudasse tanto nessas épocas, mas minha carência alcançava um nível ridiculamente vergonhoso. Então não foi novidade alguma para Dayanne quando na hora do almoço eu me foquei em dar atenção a galeria de fotos do meu celular e me empanturrar de doces, ao invés de alguma comida saudável, enquanto aguardava com ansiedade qualquer sinal da minha dita noiva com um “biquinho emburrado”, como minha colega de trabalho nomeou.

Carência é mesmo uma merda!

Falando em estar noiva, poucas pessoas sabiam a respeito. Eu pedi segredo ao meu chefe pois queria pessoalmente dar a notícia a minha amiga. Sequer cogitei contar a Kamilly, e estava evitando encontrá-la como havia prometido depois da sua “desastrosa” , segunda ela, viagem, para conversarmos. Não estava com paciência para fazê-la entender que nós duas nunca mais rolaria.

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