Capítulo 37 ........... Reconciliação

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Laura Narrando

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Depois da minha estranha e esclarecedora conversa com Ludmila tudo o que me restou foi correr atrás do tempo. Eu nunca fui boa em administrá-lo mas ultimamente tem sido quase um dom fazê-lo com proeza.

Ainda não havia dado a hora para encerrar o expediente, e eu sabia que Cleo provavelmente estaria em seu escritório, caso não estivesse em alguma audiência ou resolvendo outras burocracias no fórum, cartório ou delegacia. Então eu teria que arriscar uma conversa com ela na empresa mesmo. O grande problema era a distância entre o hotel e o Sanchez, já que ambos ficavam em extremidades opostas do centro, além de eu não estar com o meu carro, já que vim no do meu chefe.

Eu só tinha duas opções, enquanto pensava com certa aflição na porta do luxuoso hotel: táxi, ou carro por aplicativo. Mesmo o ponto de ônibus mais próximo ele ainda era longe e seu itinerário o faria rodar três bairros inteiros antes de me deixar no ponto em que eu teria que descer e pegar o outro para só então ir a pé até a agência. Um rolê do caralho. Por outro lado, pedir um carro pelo aplicativo me custaria metade do meu salário, visto que eu estava em uma área nobre da cidade e a distância de um lugar a outro também não contribuía.

Estava a ponto de desistir da ideia e voltar para a reunião e aguardar para ter uma conversa com minha namorada em sua casa ou em meu apartamento mesmo quando chegasse, quando um carro milagrosamente parou na calçada e um homem negro e de meia idade saiu de dentro chamando por meu nome. Antes que uma confusão se desenrolasse em minha cabeça, meu celular vibrou com uma mensagem indicando que aquele era meu transporte. O número era desconhecido, mas o fato da dona dele ter finalizado a mensagem com um emoji revirando os olhos e um petulante “não precisa agradecer”, me fez ter uma boa ideia de quem fosse.

Ao que tudo indicava, estranhamente, Ludmila estava empenhada em me ajudar, e enquanto eu entrava no carro perguntei-me como diabos ela tinha conseguido o meu número, da mesma forma que me perguntei como ela descobriu meu endereço no dia em que praticamente invadiu o meu apartamento.

Afastando tais dúvidas desnecessárias da cabeça, eu perguntei ao homem se ele sabia para onde estávamos indo e ele me assegurou que tinha tudo sob controle e que também já havia sido pago.

Despreocupada, eu apenas me concentrei em pensar no que eu diria a minha namorada quando chegasse à agência, contudo nada me vinha à mente.

Surpreendentemente o caminho foi mais curto na volta do que foi na ida. Ou o motorista pegou um atalho em algum beco diagonal ou Dylan havia seguido pelo caminho mais longo ou um ou outro andou mais rápido ou mais devagar. Eu não reclamei, no entanto, de qualquer que fosse a vantagem que ele teve a seu favor quando estacionou diante do enorme edifício espelhado e eu finalmente saltei do automóvel.

Meu coração batia desenfreado em meu peito e eu não tinha muita ideia do porquê. Era fato que estava nervosa e ansiosa para resolver as coisas com Cleonice, mas temia que nada desse certo e retornássemos ao ponto zero. Eu teria que ser convincente. Talvez até mesmo usar armas de sedução. Qualquer coisa que fosse que me ajudasse a ter essa mulher de volta sorrindo para mim e em meus  braços seria de grande utilidade e eu não descartaria.

O elevador pareceu levar mais tempo para chegar e então subir do que o motorista levou para me deixar na fachada do edifício. Eu apertava desesperadamente o botão correspondente ao andar de advocacia, mesmo sabendo ser algo inútil, e contava os segundos entre um número e outro que rolava pelo painel a cada andar vencido.

Quando por fim as portas se abriram no andar desejado, eu não perdi tempo em sair da jaula. Sentia-me mais nervosa ainda a cada passo e brigava internamente comigo mesma em busca de controle. Tentei trabalhar minha respiração durante todo o percurso, mas de nada adiantou muito. No final eu só podia torcer para manter a calma e não estragar as coisas com mais uma discussão.

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