Capítulo 58 ........... Pesadelos Reais

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Mais uma vez eu estava ali contra a minha vontade.

Meus olhos percorriam com certo descaso e nojo o local escuro, com mulheres que jamais chegariam à minha altura - embora algumas fossem de fato bonitas. As roupas eram quase inexistente, curtas. Entretanto, como eu poderia culpa-las? A falta de vestimenta era de longe seus melhores atrativos! Além do calor infernal pelo ambiente, que me fazia questionar o motivo de eu ter posto meu casaco de lã rosa. Além de uma peça cara, para usar em um lugar de tão baixo nível, esquentava ao ponto de sufocar!

A pouca iluminação me permitia ver sombras, e vultos de mulheres seminuas e nada atraentes perambulando aqui e ali atrás de alguém que as achasse interessante. A musica, tocando por alto falantes nas extremidades das paredes, era de péssima qualidade, assim como tudo no local, que aspirava a um ninho de cobras e serpentes.

Mesmo com todo o calor provindo pela ausência de ar condicionado ou refrigeração, eu podia sentir minha pele arrepiada por debaixo das roupas. Os saltos maltratavam meus pés e espremiam meus dedos. O pavor começava a tomar conta de mim e eu me perguntava porquê estava fazendo aquilo novamente. Achei que a última vez seria de fato a última. Não queria estar ali, prestes a fazer o que devia para salvar, mais uma vez, a linda bunda de Tandy.

Do meu canto, próximo ao bar, pude notar os olhares de cobiças de alguns homens lançados a mim. Nenhum que me interessasse, claro. Barbudos, gordos, aspectos nojentos. Homens com cara de porcos. Roupas bregas. Listras em vertical. Joias em excesso, relógios de ouro que em nada combinavam com o conjunto de correntes penduradas no pescoço. Muito prata e muito dourado. Falta de sintonia e zero noção de moda ou elegância. A marca registrada ali era esbanjamento. Exibicionismo de dinheiro vivo prevalecia nas mesas junto dos jogos de cartas. Lugar de quinta categoria comandado por quem tinha capacidade de tirar dinheiro de pessoas grandes, mas que preferia manter os negócios à margem.

As bebidas eram igualmente ruins. O lugar fedia a fumaça de cigarros e charutos baratos, que serpenteavam pelo ar e embaçava minha vista. Meu nariz, inclusive, começava a dar sinais de espirros acumulados.

Seria a ultima vez - forcei-me a pensar enquanto torcia o nariz ao olhar meu redor.

Ao menos, era nisso que eu acreditava.




As mãos percorriam meu corpo, escorregadias. Como garras. As unhas sujas eram visualizadas por mim com ânsia, e por isso eu evitava manter os olhos abertos. Meu estômago se remexia em embrulhos com o enjoo. Seus grunhidos arrepiavam minha pele desnuda de um jeito desagradável. O cheiro de suor e loção barata, forte, impregnava o quarto.

Quanto mais demoraria? - Isso era tudo que minha mente e o meu corpo berravam.

Quantas vezes mais ainda eu seria capaz de me submeter a isso?

Eu não suportaria por mais tempo. Minhas lágrimas estavam presas e o ódio caminhava de mãos dadas com minha raiva. Meu coração acelerado fazia sua prece baixinha para que aquilo acabasse o quanto antes.

Pressionei meus a lábios quando senti seu rosto subindo por meu colo, com intenções claras de alcançar minha boca em algum momento. Era o seu objetivo. A barba mau feita e fedida arranhava minha pele como eras e espinhos venenosos. Suas garras eram firmes em minha cintura e seu corpo pesado pressionava o meu sem me dar uma chance de escapatória.

Indiferença. Era desta forma que eu gostaria de saber lidar com tudo aquilo, com aquele ato, com aqueles toques repugnantes. Queria me manter firme, indiferente, mas minha mente berrava todo tipo de crítica e julgamento. Eu me sentia desapontada comigo mesma, mas o que poderia fazer? Já estava ali. Teria que suportar.

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