Capítulo 67 ........... Bônus

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Exausta nem comecava a definir como eu me sentia. Os dias tem passado lentamente e as atribuições aumentado. Era de se esperar que, por ter tanto o que fazer, o dia passasse correndo, mas era mais como se fosse o inverso.

Suspirando, eu saí do banho que deveria cumprir a função de me relaxar, ainda atormentada. Todo o meu corpo doía, reflexo das horas que me vi curvada sobre a mesa do escritório soterrada por papéis. O dia do julgamento se aproximava e eu precisava pensar em todas as estratégias possíveis para não permitir que meu cliente fosse condenado. A defesa e a promotoria tinham chances fortes de levar a melhor, e eu tinha o trabalho dobrado de pensar nas táticas de ataque deles para conseguir armar as minhas defesa. Sempre pensar como o seu oponente é algo que todo advogado aprende a fazer, já que basicamente nosso trabalho é prever qualquer possível imprevisto para interceptá-la. Sendo assim, eu deveria estar sempre a dois ou mais passos a frente. Não bastava somente pensar como o oponente, mas ter o elemento surpresa e ser mais esperto do que ele te julga.

Com os pensamentos pesados e focados no trabalho, uma dor de cabeça incômoda começou a me perseguir. Eu busquei por um par de pílulas no armário acima da pia e os ingeri a seco.

Após mudar uma roupa confortável no closet, composta por uma das camisas de rock da minha esposa e um short de dormir, eu saí para a quarto.

Imediatamente estranhei a porta estar semiaberta, pois sempre a mantenho fechada quando vou tomar banho.

Desconfiada do que poderia ser, fui atrás do meu aparelho celular sobre a cama, apenas para não encontrá-lo.

Típico.

Eu joguei a cabeça para atrás, implorando a Deus e a Ênom um pouquinho de paciência.

Armada com o mínimo do que pedi e obtive, eu me senti preparada para sair.

Do corredor mesmo eu já fui capaz de ouvir o pequeno ladrão aos sussurros.

- Não, ela tá no banho - sua voz baixa saiu um tanto rouquinha.

- Amorzinho, você tem certeza que pediu? - Ouvi a voz abafada de Laura através do autofalante.

- Eu gritei, então eu pedi.

Segurando um riso enquanto negava com a cabeça, eu apontei na entrada do corredor. A sala entrou em foco e então pude ver meu pequeno afanador.

Luan caminhava de uma ponta a outra do sofá, de costas a mim, enquanto mantinha meu aparelho seguro próximo aos lábios. Ele já estava sem sua camisa da escola. Perguntei-me quanto tempo levaria até que ele se lembrasse de que a bermuda também o "pinicava".

Desde que aprendera a mudar e tirar a roupa sozinho, aos seus dois anos de idade, Luan se recusava a se manter vestido por tanto tempo. Foram várias as reclamações que colecionamos da sua professora ao longo de um período. Bastava a mulher dar as costas para o menino se encontrar nu em plena sala de aula, no refeitório, no porquinho na hora do recreio, e até mesmo na sala da diretora. Em algumas dessas ocasiões, Laura e eu tivemos de ir ao colégio buscá-lo.

Ele chorava e não permitia que ninguém lhe tocasse para nada, seguindo cegamente nossas recomendações ao alertar ele e sua irmã de que não era certo nenhum adulto, a não ser nós ou suas tias, com nossos consentimentos, tirarem suas roupas ou tocar em suas partes íntimas. E o gênio usou isso contra nós ao argumentar que sua professora não era autorizada a colocar roupas nele. Eu fiquei tão orgulhosa e irritada com seu argumento de defesa, que apenas preferi deixar pra lá seu castigo.

O resultado, então, era que o encontrávamos nu na sala da direção. Ele tinha todo tipo de argumento e justificativa para nos fazer entender o porque de estar como veio ao mundo. Dizer que a roupa pinicava era a sua preferida, mas ele também alegava sentir calor, estar suado, sujo, e tantas outras desculpas igualmente esfarrapadas. Tivemos sérios problemas até fazê-lo entender que não era certo, e, como instrumento combativo a algumas das suas desculpas, passamos a deixar algumas mudas de roupas limpas em sua mochila. Ainda assim, bastava chegar a casa e ele se transformava no Tarzan.

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