Capítulo 3 ........... Reencontro

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Cinco Meses Antes

Casamento de Dylan e Scarlatti

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Laura Narrando

Aflição, raiva, saudades, ansiedade, inquietação e desespero. Tudo isso, e mais um pouco, circulava em mim de uma maneira tão louca e ao mesmo tempo harmônica, que parecia um milagre eu ainda não ter tido um treco. Eu andava por entre os convidados do casamento como se estivesse me escondendo de alguém, mas, também, a procura dela. O vento fresco do verão varria meus cabelos ainda mais para atrás do meu rosto, deixando minha face quase gélida e meus lábios frios.

Enquanto passeava despretensiosamente pelo campus, meus olhos corriam por cada rosto ali, em busca de um incrivelmente lindo e familiar, dono de um par de lábios carnudos e marrons, uma pele cor caramelo queimado e olhos incrivelmente sexy. Fazia tempo que eu não tinha essa visão, senão em meus sonhos, e, mesmo tentando me convencer do contrário, eu não negaria a necessidade que eu tinha de vê-lo outra vez.

Encontrando um canto, eu paro ali  e observo as pessoas a minha volta. Meus olhos pousam sobre onde meus amigos estão, no centro da pista de dança, rodopiando lentamente em sua espiral de amor. Eles soam felizes, o que, para mim, já bastava. Após dois anos de noivado, eles finalmente estavam casados. Eu sabia o quão importante isso era para eles, e sentia-me grata por fazer parte disso.

Enquanto planejavamos e organizavamos tudo, Dylan tinha, uma e outra vez, tido suas crises de aflição e ansiedade, temeroso ante a possibilidade de Scarlatti, talvez, ter mudado de ideia quanto a casar-se com ele. Apesar de serem noivos há um tempo e eu lhe assegurar o quanto conhecia minha amiga a ponto de afirmar com capacidade que isso era tudo o que ela secretamente mais queria, ele não tinha certeza se ela gostaria de um casamento surpresa, e isso o apavorava.

Em todos os sábados de reuniões na agência, eu era a única a ficar para tranquilizá-lo de que daria tudo certo. Seus irmãos, ao invés disso, só o martirizavam mais. Coisa de irmãos, falar que a noiva fugiria ou que diria “não” no altar. É como brincar com seu irmão mais novo dizendo que ele é adotado, e amar ver o quanto ele pode acreditar nessa idiotice a ponto de correr para sua mãe e questioná-la a respeito. O pior de tudo, no entanto, era que Dylan acreditava cegamente nessa hipótese, não importando o quão esforço eu fizesse para lhe provar o contrário.

Após um tempo admirando-os, eu cato uma taça de champanhe sobre a bandeja de um dos garçons que passa por mim. Estreitando meus olhos, vejo como cada convidado parece divertir-se com a ocasião, aproveitando da presença de amigos que já não viam há muito, ou simplesmente flertando aqui e ali. Os gêmeos, já enormes, ainda que em seus um ano e meio, encontravam-se nos braços das avós, sendo bajulados.

Meu coração se derretia por cada um deles, mas Davíd era o meu preferido. Seus resmungos e sua carranca constante faziam-me querer apertá-lo e mordê-lo a cada segundo. Audrey, por outro lado, era o meu maior amorzinho. Uma bebê travessa e sorridente, a coisinha mais fofa do mundo, totalmente diferente do irmão. Sempre que eu os tinha por perto, pegava-me desejando ter filhos como eles. Contudo, já tinha me conformado com a ideia de que eu provavelmente morreria sozinha. Sem parceira, sem filhos, sem ninguém. E não era drama, não. Era a dura realidade para a qual minha vida estava se encaminhando.
Só havia uma pessoa com quem eu já ansiei esse futuro, e, embora nossa relação sempre tenha sido instável e de pouca durabilidade, eu sabia que ela era a única mulher com quem eu toparia algo assim. No fundo, eu me odiava por ainda ter tais pensamentos com ela, mas não é como se eu tivesse controle das minhas emoções. A luta entre a razão e a emoção era mais real do que os memes faziam parecer. Em resumo, eu estava fodida.

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