Capítulo 44 ........... Prévia

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Laura Narrando

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A corrida teve início assim que chegamos a casa de Nice ainda aquela noite em que ela me fez a proposta da viagem. Ela me explicou, animadamente, algumas coisas sobre a viagem, tais como fazer a solicitação do meu passaporte e visto pela Internet, que segundo ela seria B2; visto de turista. Eu não tinha todos os meus documentos presentes mas ela me garantiu que faríamos tudo no dia seguinte. E de fato fizemos, na hora almoço no seu escritório. Quanto mais cedo eu fizesse isso, mas rápido acabaria.

Eu estava ficando nervosa com a possibilidade de não conseguir a aprovação, mas ao longo dos dias tudo parecia estar caminhando bem.

Eu decidi ainda naquela semana que não iria a graduação de Muay Thai no sábado e no domingo pois queria passar o máximo de tempo com Nice, já que ela embarcaria na próxima quinta. Nós passamos todos os dias envoltas sobre os trâmites burocráticos da viagem e também fantasiando sobre como seria quando eu estivesse lá. Eu me sentia eufórica e nervosa. Todas as minhas referências de inglês eram sobre as músicas que eu ouvia e meus artistas favoritos, e não ter qualquer ideia de como me comunicar num país estrangeiro me deixava aflita, importando ou não se minha namorada era bilíngue e havia garantido que não me deixaria sozinha sequer um instante.

Ah, a falta que um curso de inglês fazia nessas horas, não é mesmo?

Tudo o que eu aprendi na escola era relacionado ao verbo To Be e isso não me servia de muita coisa - além de que fazia anos. Eu mau recordava algumas regras básicas de português, pelo amor de Deus!

Dar a notícia da viagem para a mãe de Cleo foi mais difícil para ela do que para a própria dona Moara, que aceitou melhor que eu a ida da filha. Era nítido em seu semblante, nos olhos e na perca de peso, como o câncer a estava consumindo cada vez mais rápido, mas ela nunca perdia o sorriso, sua verdade, calma e amor no olhar, e foi dessa forma que incentivou e apoiou Cleo a ir em paz cuidar do seu trabalho.

Ao mesmo tempo em que isso ajudava Nice a manter-se bem emocionalmente, também a preocupava. Mas eu a garanti que cuidaria da sua mãe junto a Helena enquanto ela estivesse fora. Eu entendia seus receios e odiava como ela se sentia pressionada pelo trabalho e o fato de não poder levar sua mãe junto para não agravar sua saúde, mas não havia nada que pudéssemos fazer quanto a isso. Ninguém ali queria correr riscos desnecessários.

Convencer meu chefe e amigo a me liberar por uma semana foi mais fácil do que eu esperava.

Segundo Cleo, ele parecia incrivelmente empolgado com a ideia, e eu comprovei isso quando, no dia seguinte mesmo, após a conversa deles de manhã, Dylan me abraçou e me deu os parabéns como se fosse meu aniversário. Ele também não viu problema algum em Márcia passar os próximos dias comigo para que eu a orientasse sobre como funcionavam as coisas e nossa rotina, para quando chegasse o momento de me substituir.

Aparentemente, a paternidade mudava as pessoas.

Dentre me preocupar com entrega de documentos, data de entrevistas no consulado, e outras coisas que me obrigavam a passar mais tempo fora do trabalho do que na agência, Nice me arrastou consigo para algumas lojas de roupa e me fez comprar alguns casacos e até sobretudos, insistindo que apesar do clima instável de São Paulo, eu não saberia lidar com a baixa temperatura nos Estados Unidos mesmo sendo Primavera por lá, uma época mais quente, mas que não dava para comparar com o clima tropical do Brasil.

E lá se foi mais dinheiro. Viajar era de fato muito caro, e tudo o que tínhamos gastado até o momento só tinha a ver com a emissão do visto e do passaporte, que juntos já dava metade da prestação do meu carro - fora as roupas que compramos.

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