Capítulo 15 ........... Despedida

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Cleonice Narrando

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Como sempre, antes mesmo de abrir os olhos, a primeira coisa que faço ao acordar, desde que minha mãe adoecera, é procurar por meu aparelho celular debaixo do travesseiro. Eu quase entro em pânico ao passar a mão por ali e não encontrá-lo. Abrindo os olhos, eu dou um salto ao me pôr sentada. A claridade que entra pela janela imediatamente me faz recuar e pôr um braço a frente da visão. Adaptando-me aos poucos, eu o retiro do meu rosto e abro vagarosamente os olhos, piscando-os até se acostumarem a luz.

Já desperta, eu olho a minha volta, de primeiro momento não reconhecendo o lugar. Não era o meu quarto, disso eu sabia. No instante em que a pergunta sobre onde eu estou vem a tona, as lembranças da noite passada, e de tudo que ocorreu desde a boate, surgem em minha mente. Quando a memória do beijo que Laura havia me dado recai sobre mim, juntamente com nosso momento no terraço e então quando chegamos a sua casa, um sorriso bobo se estica em meus lábios.

Era verdade. Tudo o que rolou, os beijos, as carícias, a forma como havia se declarado e admitido que não aguentava mais nossa distância, não era um sonho ou fruto do meu ardente desejo.

Com a memória da sua boca sobre a minha, eu toco sonhadoramente os meus lábios, desejando ter seus beijos outra vez. Meu corpo ainda era prova viva dos seus toques, da forma como havia me acariciado e me feito sentir.

Deus! Eu a deseja novamente.

Embora eu não soubesse o que nós tínhamos ou éramos no momento, por hora, saber que tínhamos uma a outra parecia suficiente. Saber que eu poderia voltar a estar em seus braços muito em breve, era suficiente.

Virando o rosto ao lembrar-me dela, eu me deparo com seu lado da cama vazio.

Minhas sobrancelhas se unem em confusão e diversas paranoias começaram a rondar meus pensamentos. Como, por exemplo, a possibilidade de Laura ter acordado e se dado conta de que cometera um erro ao trazer-me para cá e ter dito todas aquelas coisas. Talvez, no fundo, ela ainda não tivesse me perdoado e somente confundiu o desejo e a culpa com perdão. Eu não queria pensar que poderia ser isso, pois tudo o que fizemos ontem foi especial demais para se transformar em uma lembrança trágica, desde o momento em que se rendeu a nós, na calçada do bar, até quando chegamos a sua casa. Não haveria conserto para os meus sentimentos se ela apenas tivesse se precipitado.

Chacoalhando a cabeça, eu tento não ir por esse caminho, pois sabia que, uma vez que desse corda os meus receios, a coisa só se agravaria.

Enrolando-me nos lençóis para encobrir minha nudez, eu penso em ir verificar sua presença pelo restante da casa. É só quando eu me ponho de pé, que noto um aparelho vibrar e se iluminar sobre o criado mudo ao lado da cabeceira. Instintivamente, eu o apanho com pressa, lembrando-me que havia me esquecido de procurar por meu celular. Bem, e ali estava ele.

Com o mesmo em mãos, eu começo a entrar em choque com o tanto de chamadas perdidas que a tela notifica, assim como o número de mensagens não lidas. Verificando uma coisa após a outra, eu entro em alarde quando leio a primeira mensagem de texto de Helena, a enfermeira responsável por cuidar da minha mãe.

Eu não preciso ler nenhuma outra, a partir dali, para saber que o assunto é sério. Indo até a discagem rápida, eu pressiono o número de atalho que leva ao dela, pondo imediatamente o aparelho contra a orelha. As chamadas correm sem serem atendidas, deixando-me aflita, até que ela atende no último toque. As coisas que Helena me diz, não fazem com que minha aflição diminua e eu me sinta tranquila, muito pelo contrário, só fazem agravar minha preocupação.

Enquanto a ouço do outro lado da linha, agarro fortemente o ponto do lençol que cobre meu peito, sentindo o ar me faltar e tudo ao meu redor no quarto tornar-se distante e embaçado. Ainda ouvindo tudo o que Helena tem a dizer, eu simplesmente assinto, reprimindo o conjunto de lágrimas que tentam descer. A ligação termina quando prometo a ela chegar ao hospital o mais rápido possível.

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