Capítulo 35 ........... Arrepsia

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Cleonice Narrando

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Completaria três dias que Laura e eu não estávamos nos falando. Ainda assim, mesmo incrivelmente chateada e aborrecida com toda a situação, eu não deixei de perder nenhuma oportunidade de ficar perto dela, por mais que não estivéssemos confortáveis na presença uma da outra.

Não era para menos. Depois de ver Laura praticamente destroçada naquele ringue, qualquer paciência e compreensão que eu tivesse foi para o raio que o parta! Eu simplesmente não soube como lidar com a situação, e muito embora Laura tenha alegado estar certa sobre "eu não ter estômago para lidar com tudo aquilo", eu não poderia me importar menos com sua opinião sobre este fato. Foi a última gota d'água vê-la apanhar naquele ringue e eu definitivamente não soube não fazer nada ou me segurar.

No instante em que a vi recebendo um chute na lateral da coxa que fez seu joelho ceder, eu perdi a calma e corri em direção a ela antes mesmo que se levantasse. Não me importei com os olhares confusos que recebei quando eu esmurrei seus companheiros de treino até conseguir passagem entre eles para subir no octógono e me abaixar diante da minha namorada suada e ferida.

- O que você pensa que está fazendo? - Eu ladrei para a brutamontes do outro lado do octógono, sentindo meus olhos inflamados em vermelho e pura fúria enquanto eu tentava fazer com que Laura se colocasse de pé.

A mulher, Poo, olhou-me como se eu fosse louca ou de alguma outra dimensão.

- Nice... saia daqui - Laura pediu com a voz falha, a respiração pesada. Eu virei meu rosto bruscamente para ela, indignada. Apesar de chateada por vê-la me tratar daquele jeito, eu simplesmente ignorei e tentei fazê-la ficar de pé, segurando em seu cotovelo, já que a luva em suas mãos me impossibilitava de fazer contato.

- Nós vamos embora! - Eu declarei olhando firmemente em seu olhos, mas não deixando de notar a vermelhidão em seu maxilar no caminho. Este não era o único lugar em seu corpo que certamente se transformaria em um hematoma dali umas horas. Seu pescoço, aliás, tinha uma marca tão vermelha na lateral, que não teria nem como ela brincar dizendo que se tratava apenas de um chupão. E eu sabia que na coxa outra marca surgiria em breve. E no abdômen e na costela. Todos lugares em que ela foi golpeada.

- Não! - Laura negou, pela primeira vez afastando-se de mim com uma expressão nada contente ou serena no rosto. Ela parecia mais do que somente brava, mas a verdade é que eu me encontrava muito pior.

Ela se empurrou para atrás, livrando-se do meu toque em seu cotovelo e bufou forte. Estava claramente esgotada, com o corpo suado e vermelho pelos esforços, os cachos dourados desprendidos do seu rabo de cavalo e moldando seu rosto vívido e corado. Havia muitas emoções fortes em seu semblante, mas eu não ousei me intimidar.

- Desça e me espere no banco. O treino já está terminando.

- Nem fodendo! - Eu grunhi, encarando-a por igual. Eu estava totalmente ciente da cena que estávamos proporcionando para os seus colegas e seu professor e bastante incomodada com o silêncio no galpão enquanto todos nos observavam, mas o que ela ou todos eles esperavam que eu fizesse? Que eu permanecesse sentada assistindo minha namorada ser massacrada por uma mulher que tinha praticamente o triplo do tamanho dela?

- Cleonice... - ela tentou, mas eu não lhe dei qualquer chance. Eu me coloquei de pé, e ela prontamente fez o mesmo, muito embora tenha deixado uma careta de dor transparecer com o movimento brusco.

- Nós vamos embora agora mesmo, Laura. E eu não vou voltar a repetir isso. - Eu lhe encarei uma última vez antes de lhe dar as costas, deixando claro que ela tinha uma escolha a fazer.

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