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Abrir os olhos nunca pareceu ser uma tarefa tão difícil quanto está sendo nesse pequeno instante da minha adorável existência.
Ao menos eu tenho que agradecer por não existir nenhum mínimo feixe de luz entrando nesse quarto divinamente escuro; quer dizer, exceto o relógio de parede que carrega consigo uma luz amarela e um tanto quanto cafona, mas que não chega a ser o suficiente para queimar as retinas de uma pobre garota que bebeu todas na noite anterior e acordou com toda a ressaca do universo encima de si.
Acho desnecessário descrever todos os sintomas que minha bebedeira desenfreada provocou em meu organismo, mas acho que posso comparar á um dia de treino pesado na academia depois de permanecer por meses procrastinando nos moveis mais aconchegantes de uma casa.
Tive que respirar fundo só para recordar a mim mesma que sim, eu ainda estou viva. Tentei espreguiçar, mas acho que é meio óbvio que eu desisti logo na primeira oportunidade. De novo eu encarei aquele relógio cafona e finalmente os números se alinharam e eu pude compreender que era pouco mais de duas da tarde.
Encarei meu lado direito e mesmo que estivesse escuro eu conseguia ver com perfeição a silhueta de Turner que se encontrava numa posição tanto engraçada quanto extravagante. Confesso que rir fez meu estômago doer, e que desbloquear meu celular para bater uma foto fez minhas retinas derreterem com a exposição a luz, mas o clique valeu a pena, afinal de contas não é todo dia que você vê Alex Turner deitado de bruços com as duas pernas dobradas pra cima e ainda por cima com uma maravilhosa expressão de panaca... Quer dizer, eu diria que eu convivo com essa cara de panaca desde meus poucos anos de idade, quando a gente se conheceu na escolinha.
Nem minhas risadinhas e nem flash da câmera fizeram a bela adormecida despertar, e nem dá pra julga-lo, afinal de contas o show da noite anterior havia acabado com nós dois. E nem era eu quem estava no palco.
Eu até que tentei dormir de novo, mas é complicado quando se tem um motor velho de caminhão roncando sem parar ao seu lado; fora que a essa altura do campeonato eu achei a minha posição perfeita e infelizmente estou na altura do rosto desse infeliz que tá com o maior bafo de cachaça, baba e cigarro.
Não que o meu esteja diferente, maaaaas...
Cutuquei o braço do infeliz pra ver se ele acordava, e meio que funcionou já que Turner se virou para o outro lado e abraçou o próprio travesseiro enquanto resmungava sozinho com sabe-se lá o que.
A partir daí eu até consegui cochilar de novo, mas acordei alguns instantes depois quando um frio do capeta tomou conta de mim, e adivinhem só?! É, o cretino roubou toda a coberta pra ele.
A partir daí eu sabia que não tinha mais jeito, só havia uma forma de me esquentar e não hesitei ao abraçar Alex e me aconchegar em suas costas, ficando de conchinha com aquele armário de homem que adorava quando eu o abraçava assim.
Ele respirou fundo e abraçou meu braço com o seu, entrelaçando nossos dedos enquanto minha mão se repousava em seu peito.
-Desculpa, não queria te acordar, mas você roubou toda a coberta como sempre. –Eu estava praticamente sem voz de tanto que havia gritado no show deles, então minha voz soou mais como as últimas palavras de um velho que está morrendo com alguma doença grave nos pulmões.
