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Letônia • 2024

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Letônia • 2024

Seu corpo inteiro estava dolorido.

Havia horas que estava sentada naquela cadeira, provavelmente anoitecera. Seu estômago roncava em protesto pela última tortilha que ela havia deixado no prato em sua última refeição e a garganta seca demais para falar qualquer coisa.

Anna já não aguentava mais aquilo.

Pedia aos céus para que seu tempo de prisioneira chegasse ao fim. Atkinson alongava o pescoço como podia e repassava de olhos fechados as cenas do seu filme predileto na cabeça.

Estava enlouquecendo presa em tamanho tédio — o perigoso tempo ocioso que a fazia divagar por pensamentos muito, muito, perigosos e cruéis se não fosse um esforço enorme para se distrair.

Ouve como sinos divinos o baque andares a baixo, e ela solta um suspiro agradecido, deixando a cabeça pender para frente quando percebe que aquela era sua deixa.

Finalmente.

Fecha os olhos, toma fôlego e solta o ar lentamente pelo nariz, demorando-se um segundo a mais na posição de presa para cultivar toda força e vontade que há dentro de si. Os sons de socos e destruição vindos de longe fazem os seus nervos começarem a gritar com a adrenalina que dava as caras, a rota de fuga já traçada por Anna.

Atkinson ergue a cabeça ao passo que abre os olhos, um sorriso travesso banhado em seu rosto quando se levanta presa a cadeira e se joga para trás, quebrando a madeira velha. Ela pega um dos destroços, aquele no qual pudesse haver menos farpas, e usa para soltar a corda em seus pulsos. O aperto do soldado era difícil de tirar e a madeira frágil tornava demorado o processo, deixando a pele da mulher vermelha, patacas de sangue se acumulando no lugar já cheio de arranhões.

Frouxos o suficiente para que ela pudesse se livrar sozinha, Anna força ao máximo a torção dos pulsos para se soltar da corda. Esfregando as mãos nos novos machucados por meio segundo, não desperdiça tempo quando começa a tatear seu busto a procura do que roubara de Nico — durante uma de suas visitas a ela, aquela na qual pediu uma folga dos apertos e um copo de água. A ex-agente usou de todo seu treinamento para lhe tirar o celular sem que percebesse, aproveitando da proximidade e do próprio corpo para distraí-lo enquanto sua mão livre caçava o objeto.

Deslizando o zíper do uniforme para tirar o telefone e o fechando outra vez, Anna caminha para o canto da sala imunda na qual foi colocada, onde suas coisas foram jogadas de escanteio — os bastões de choque, adagas e celular. Agacha-se no lugar para fazer a troca, tirando do seu celular o chip modificado e o colocando no aparelho de Nico, então joga despojadamente sobre o chão de forma que parecesse um acidente tê-lo esquecido ali.

Recomeço | Bucky BarnesOnde histórias criam vida. Descubra agora