ao poeta

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o poeta não sabe se está vivo,
ou se está morto por dentro.
só sabe que a arte e a poesia vivem dentro dele.

e ele se delicia tentando viver em sua arte,
mesmo que até um cadáver quando
toca música em seu velório
não volte a vida.
mas pelo menos,
talvez,
sua alma dance por aí
aproveitando a leveza
da pós-vida.

e como o poeta sabe admirar
as belezas da vida.
as quais ele transforma em poesia,
e admira pessoas a sua volta
como se fossem belíssimas.
claro, qualquer coisa ao olho do poeta:
o sofrimento, a dor, o amor, o ódio
pode ser arte.
pode ser poesia.
e pode ser a vida do poeta.

aquilo que talvez não o mantenha vivo,
mas o mantém sentindo algo,
esse algo sendo
sofrimento, dor, amor, ódio.

o poeta não sabe o que sente,
ele não fala,
não demonstra,
o poeta só coloca tudo no papel,
torcendo para que alguém encontre-o
e ajude o poeta a se encontrar,
ajude o poeta a reviver.

claro que
o poeta as vezes tem vergonha da própria poesia,
quando ele a escreve com sono, com fome, triste.
mas o poeta esquece
que essas poesias com sono, com fome, e tristes,
são a personalidade do poeta
em sua forma mais genuína e pura,
e o poeta não deve ter vergonha delas.

mesmo que se sinta vulnerável quando as lê,
aquela é a forma como o poeta se sente,
e não deve ser ignorada nem por ele
nem por quem a lê.

quem a lê
é normalmente a pessoa
em que o poeta confiaria a vida.
(que vida? o poeta está morto)
a pessoa em que o poeta dedica algumas de suas poesias,
a pessoa com quem o poeta sonha,
a pessoa que o inspira.

pelo amor de Deus
pensa o poeta
que boiolagem
por que o poeta é como qualquer pessoa,
mesmo que os pensamentos deles não sejam normais.
os pensamentos do poeta não são do tipo que se improvisa,
não, o poeta nem sempre pensa bonito,
com palavras chiques e explendidas.

o poeta pensa,
o poeta sente,
o poeta chora,
o poeta escreve,
e o poeta...
o poeta...
o poeta só deixa a poesia lá, intocada,
talvez ninguém nunca chegue a lê-la,
mas o poeta espera que sim
para que alguém ajude-o
a recuperar a vida.

ou só
quem sabe,
a vontade de vive-la.

cartaOnde histórias criam vida. Descubra agora