ao poeta XI

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trinta e seis graus na sombra.
os olhos manchados de rímel.
dia ensolarado, mente vazia.
será que ele ainda lembra?
o sussurro, o grito meu,
o olhar que me sorria.

xícaras brancas
com manchas
de um café doce
que não tardou a esfriar,
e uma ideia esquecida
num papel amassado no lixo
rejeitada por significar.

um poema, mas sem rimas
um amante, mas sem amor
um poeta, mas sem canetas
um covarde, mas não por temor
um universo, mas sem planetas
um rei, mas um usurpador
um jardim, mas de borboletas
ela se matou, mas não foi sem dor
como haviam revelado.

colocaram na mão do poeta
uma lâmina e o disseram
“maldito suicida,
rasgue, assassine, mate
suas malditas poesias”
o poeta apunhalou seus papéis amarelados
com lágrimas nos olhos,
e gritou como se chorasse sangue.
eles saíram de lá dizendo
que havia sido cometido um homicídio.
quando voltaram,
viram
o poeta caído, sem vida.
os olhos vermelhos de choro
vidrados no teto e nos que o disseram
para assassinar os seus textos.
e perceberam que estavam enganados,
pois ao rasgar seus poemas,
o poeta não havia assassinado,
mas sim cometido suicídio.

tenho estado cada vez
mais instável,
me arrastando entre meus extremos.
entre gritos, espasmos e correntes
dores, ardores e entre o caos.

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