àquela tentativa falha

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afinal de contas,
depois do fim
ainda moramos na mesma cidade,
e ainda que me doa te ver
por aí nas esquinas (mesmo que você não esteja lá),
assumo que em nome da minha felicidade,
não posso deixar de te ter na minha mente
até que aquela idade chegue.
(aquela que ainda vai demorar pra chegar)
aquela em que você vai desaparecer,
e eu vou parar de lembrar.

se é mais fácil lembrar do sorriso dele
do que do seu,
a culpa não é nossa.
é que o sorriso dele não vinha até mim,
mas durou uma eternidade;
ele era sincero, era de felicidade,
era de risos frenéticos por toda a cidade.
ele durou, durou pra sempre
enquanto existia,
mas o seu durou tão pouco.
e o seu sorriso me encheu de luz
por pouquíssimo tempo até que se foi,
e ele era tão, tão lindo,
era arrebatador.
se até hoje me lembro e me encho de saudade.
me encho do nosso amor.

então como dizer que o dele foi mais memorável?
se me lembro do sorriso dele,
só me lembro do meu antigo lar
que era lá, com ele.
mas se me lembro do seu,
rolo na cama, enrolo pra acordar
do meu sonho particular.
quero voltar pra você,
chega doer que não fomos o que queríamos ser.

o seu sorriso ainda volta pra mim
de vez em quando,
quando ando na cidade e me encontro
nas esquinas do seu olhar,
(ou melhor, das lembranças que já me fizeram chorar)
e eu sorrio de saudade.

o dele volta só quando é solicitado.
quando estou triste demais pra pensar.
quando preciso pensar no meu antigo lar,
no que demorou pra cicatrizar,
no que até hoje ainda dói.
dói, se eu parar pra lembrar.

o seu não dói,
a menos que eu pense
que você se foi sem olhar pra trás,
e na verdade obscura
que você escondeu atrás de si.

não, não, o seu sorriso cura.

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