a casa dos gritos virou real então?
ou é só mais algo que ele tenta explicar com ficção?
para se livrar da realidade,
o poeta a nega e esquece,
mas ele sabe que é de verdade,
mesmo que isso machuque.o poeta com medo de barulhos altos
não compôs uma única canção.
o poeta com medo de amores falsos
se encolheu e chorou no chão.
o poeta querendo viver
quis voltar a ver os olhos dos outros.
mas não podia,
isso quebrou seu coração.o poeta pensou por que
a sua liberdade os ofendia tanto.
ele perguntou o por que
suas palavras os ofendiam tanto,
e entendeu que
a liberdade de alguém assustaria
quem estava acostumado a controla-la.a poesia floresceu no poeta
quando ele era criança.
ele escrevia feliz
sobre circos, amor, praia e horizontes...
o pequeno poeta aprendeu logo,
que a poesia não era algo comercial,
era sentimental,
era o que o poeta sentia.
então tudo desandou,
e o poeta se sentiu mal.o poeta escreve cartas a si mesmo,
como se outra pessoa fosse ler.
ele faz dedicatórias
que ninguém vai ver,
e isso dói no poeta,
ver sua arte desmerecer.o poeta tem saudade da vida,
das risadas e dos breves dias
em que foi feliz com ele mesmo
por que acreditava nas pessoas,
e em como elas acreditavam nele.
mas aquilo acabou,
e o poeta não sabe se vai voltar.
ele se contenta em relembrar
das risadas e breves dias.a solidão reflete nele como um espelho,
e ele não está arrumado.
o espelho zomba dele todo dia,
dizendo que não poderia ser diferente
com alguém como ele.o poeta pensa no passado,
talvez mais do que deveria.
e se arrepende de ter feito
a maioria das coisas que ele fazia.
o poeta, porém,
pensa com carinho no passado,
e em como era feliz
sem saber o que viria.aquilo que fez bem ao poeta se foi,
e só lhe restou a inspiração
para a poesia.
ele se sente grato por poder desabafar nela,
mas não por ter que desabafar.a morte e a vida assistem o poeta abraçadas;
a vida querendo viver a morte,
e a morte querendo viver por elas.
elas dão risada de como o poeta as descreve,
por que são tão poéticas para os artistas?
são literalmente a vida e a morte.
assassinas.
cínicas.
poéticas...a vida e a morte dividem a cabeça do poeta,
como um anjo e um demônio nos ombros.
elas o confundem.
já o deixaram louco.os gritos dentro da minha cabeça
são muito semelhantes aos de fora.
se os meus fantasmas já me perturbam
por que se dá ao trabalho de gritar
o que já foi gritado outrora?
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carta
Poetrycartas que escrevi mas não quis enviar porque não teria coragem de as explicar