a mim?

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por que o lado doce das palavras não é eterno?
por que o lado doce da vida não é eterno e imutável?
por que nada é fixo?

por que não posso continuar do lado melodioso e suave dos meus pensamentos?
por que eles são conturbados e martelam minha cabeça com suas palavras constantes
que me quebram, me despedaçam,
me deixam em ruínas.
as ruínas, com sua história gloriosa,
observada por tolos que se atrevem a tentar
decifra-la.
mas será que alguém decifraria meus poemas?
alguém se daria ao trabalho de entender
as palavras dolorosas que escapam lentamente
do meu subconsciente?

será, por Deus,
que alguém se importaria com meus poemas, irrelevantes para qualquer existência exceto a minha?

e por todos os poemas gloriosos,
inspiradores e deliciosos de se ler,
por que?
pensei que pudesse escrever assim,
mesmo não tendo a mente conturbada.
mas aparentemente,
meus pensamentos me martelando,
e minhas mãos apertando a mim mesma
simultaneamente,
não me fazem poeta.
e sim o jeito que escrevo sobre isso.

mas então essa é a beleza da dor?
que tanto se fala em poesia,
e em desenho, em cantoria?
eu realmente não gostaria de provar
a existência da beleza horrível da dor.
mas ao que parece, para ser poeta,
é preciso experimentar a beleza horrível
da maldita,
maldita,
dor.

mas não estou contente com esses poemas,
por que querendo ou não, eu sou eu,
e escrevo o que sinto
apesar de doer.
e como dói.
dói como um cinto de espinhos
se enroscando em minha barriga.
e dói,
como a porcaria de um coração partido.
por que é o que é, não é?

por que escrevo chorando,
e leio chorando,
e sinto absolutamente tudo,
escrevendo e mais uma vez,
sim, chorando.
é isso que me faz ser o que sou,
infelizmente.
escrevo o que sinto e o leio depois,
e me sinto como com o coração partido.

~por que é o que é, não é?

cartaOnde histórias criam vida. Descubra agora