aos fantasmas e aos lugares silenciosos

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descobri lugares silenciosos,
onde nem a respiração se eleva.
cemitério de poetas mortos,
todos enterrados em treva.
no lugar de paisagens sombrias,
eu vi um vulto soturno,
e me enchi de ideias contraditórias,
chorando sob o céu noturno.

a noite teimou em começar,
mas acabou a escurecer,
e os fanstasmas foram amordaçar
os corpos a apodrecer.
nenhuma alma dançava
ao som do sereno vazio.
mas um poeta esboçava
um poema a beira do rio.

um poeta ameaçou viver,
e ameaçou a própria vida.
isso chegou a comover
até a atenção indevida.
mas não houve como sobreviver
naquele cemitério de almas.
o impossível era escrever
as próprias memórias póstumas.

um espírito agarrou o poeta,
e o empurrou para a cova.
o poeta ao cair,
viu uma única violeta.
o espírito disse "não podes viver",
o poeta questionou a si mesmo.
como poderia se atrever?
já estava morto há muito tempo.

na melancolia daquela noite,
não havia uma alma viva,
e quem ficou triste foi Afrodite.
esta ficou emotiva.
não encontrou amantes vivos nem mortos,
os espíritos já não se conheciam.

não houve ninguém feliz no cemitério silencioso.
nenhuma respiração era ouvida,
apenas a do poeta morto,
que descrevia o lugar da triste pós-vida.

o poeta se sentiu triste,
observando a paisagem melancólica.
sentira falta de sua amante,
mas como disse Afrodite a ele,
ele já não a reconheceria.
o poeta pensou em morrer,
deixar que os fantasmas o levassem.
mas lembrou, depois de sofrer,
que os espíritos não o matariam nem se quisessem.
o poeta já acabara de morrer.

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