carta

à mim? II

a minha cabeça sussurra tão alto
eu só ouço seus gritos conturbados
mordendo a caneta, a perna não para quieta
pelo amor de deus, eu preciso sair de mim
antes que eu me destrua

eu não quero ficar em casa hoje
onde eu moro
quero sair, ver meu lar, correr
dar risada
por que eu só moro naqueles olhos

por meses (anos) a poesia foi meu lar
onde eu ia pra descansar
eu gritava, chorava, tentava amar
no final fui aprisionada por ela

gritava comigo mesma
como se a culpa fosse minha
e era?

a inspiração parou de vir
estou a procura de palavras
a procura de ser poeta

dizem que o poeta foi condenado pela vida
a escrever e
ainda bem que fui

há tempos não escrevia aqui
talvez por medo do que eu ia ver
por preguiça, impotência
medo de conhecer a mim