à paixão

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o aprendizado se dá ao fato
de querer saber o que dizer
em situações sutis
saber o que fazer
em situações que pairam no ar
dizer palavras gentis
mas nem todo poeta aprendeu
nem todo poeta sabe amar

não houve quem ensinasse
o jovem poeta a amar direito
a aproveitar, saber degustar
do sabor doce do amor
do açúcar, não da dor
dos doces de limão ácidos
que por algum motivo não
são motivo de careta

o cupido em pessoa
pediu uma folga
e deu seu cargo ao poeta
que agora era encarregado
de distribuir paixões por aí

mal sabia o cupido
que o poeta não amaria
se apaixonaria
por cada um que atingisse com as flechas

assim ele distribuiu paixão
e se apaixonou por cada um
não podendo ser correspondido por nenhum
por que não era seu trabalho
cuidar dos fracos apaixonados
que deixara por aí

fruto do arco
que o cupido
deixara a cargo de mim

o poeta não sabia amar
ele direito sequer aprendeu
ele escrevia poesias de amor vazias
esperando sentir algo
e ficar extasiado com as palavras
que ele mesmo escreveu
— spoiler: isso nunca aconteceu —

o poeta viciou-se na paixão
e não soube como viver sem
ele se prendeu ao próprio colchão
esperando que alguém estivesse viciado também

o poeta quis dizer às suas muitas quedinhas
que o deixassem em paz
mas elas sorriam para ele, charmosas
e ele sorria de volta
quebrado por fora e por dentro
querendo que elas estivessem apaixonadas

o poeta sabia que nada daquilo era certo
que ninguém iria o querer assim
que nenhuma das suas paixões duraria
mas elas duraram, duraram, duraram...
duraram até que ele enlouquecesse
dando gritos histéricos de paixão
surtando por migalhas de atenção
mas sem dar o seu coração
pois ninguém o queria

ele estava obcecado com as flechas
que o cupido o presenteara anteriormente
o poeta quis atirar em si mesmo
para morrer, para ser alvo da paixão deles
mas nenhum deu certo

ele viveu sangrando para todo sempre
vendo suas paixões umas com as outras
sorrindo e dando risada dele

cartaOnde histórias criam vida. Descubra agora