à viagem

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eu observava as cortinas se moverem
lentamente, com o vento, o toque
serenamente, sob meus olhos
me levando numa longa viagem

eu testava o toque da melancolia
afagando meus cabelos
meus olhos cansados
resultado da hipocrisia
de pessoas de pensamentos parados

eu mirava o pôr do sol tardio
através das minhas janelas
no tédio, aquele comentário de repúdio
caminhava em linhas paralelas

a chuva parou de cair
como deveria ser
convenientemente ele pensou
que poderia trair
e não haveria motivo para morrer

olhei para a parede branca
cenário da minha falta de sabedoria
levei a frase para o lado da crítica
por que você acha que eu voltaria?

a viagem não se mostrou feliz
benéfica, porém, foi demais
a minha cabeça se contradiz
pensando em contrários ideais
que aconteceriam, ou aconteceram
já não identifico coisas reais

a dúvida choveu em minha cabeça
antes de lê-la e compreender meus pensamentos
diga, diga a Cecília Meireles
que seus conselhos foram aceitos

eu encontrei no canto do meu quarto
sujeira de pensamentos velhos
poeira de pensamentos antigos
aranhas mortas, enfadonhas
e mofo de risadas passadas

o mar nunca foi tão agitado
quanto o azul de minhas cortinas entreabertas
se mexendo, movendo, lamentando
mais melodiosas que minhas ações incertas
mais harmoniosas que minhas lamentações quietas
mais melancólicas do que aquelas poesias
(rimance, em especial,
não leve a mal minha melancolia)

eu citaria milhares de poemas
que li pensando em ti
mas isso seria indireta
e indiretas são querer voltar
aos braços de quem não fez bem a mim

o livro está aberto sob minha cama
seus olhos invisíveis fitando
meus olhos ardentes em chama
sabendo de tudo, e amando
o efeito que tem sobre quem o ama

eis o enterro fúnebre de minha alma
onde sentimentos são facilmente compreendidos
(erroneamente)
por quem não sabe nada da minha mente

e assim, viagem termina com uma vírgula
só esperando pela decepção seguinte
para que volte aos antigos termos
para que possa de novo se fazer ouvinte
presente em minha vida
como Cecília diria, talvez
não há mar de eternas calmarias

cartaOnde histórias criam vida. Descubra agora