à mim? III

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eu sinto como se
todos soubessem o que estão fazendo
e eu precise só
seguir a corrente

eu sinto como se
estivesse vagando lentamente
entre oceanos de pessoas
que podem me matar

eu sinto como se
você nunca tivesse ido embora
deixando um banco vazio
e uma alma desamparada

eu sinto como se
minha poesia fosse fruto da raiva
e da tristeza que vem nas madrugadas
mas nunca do amor, desde março

eu sinto como se
não fosse boa poeta
por que nem sempre consigo escrever
e ele levou meus poemas com ele

eu sinto como se
não conseguisse correr contra o tempo
porque meu peito dói
como se estivessem me sufocando

eu sinto como se
não soubesse o que estou fazendo
só seguindo o fluxo da vida
sem mudar absolutamente nada

eu sinto como se
tudo estivesse muito agitado
mas eu enxergasse em câmera lenta
nessa câmera analógica quente e antiga

eu sinto como se
visse minha vida de fora
nunca sentindo realmente
porque pessoas morreram e eu nem vi

eu sinto como se
fosse uma estranha no meu corpo
como se não tivesse vivido pra presenciar
o que aconteceu comigo

eu sinto como se
fosse insensível não chorar
porque não queria que
tivesse sido

eu sinto como se
minhas opiniões oscilassem
piscando e mudando conforme
o horário e os gatilhos

eu sinto como se
não pudesse viver sem você
ou como se amasse me livrar de você
tudo em prol do ato de viver

eu sinto como se
estivesse com dor de cabeça há dias
fruto da dor de pensamento
ou dos gritos que ouço lá dentro

eu sinto como se
odiasse cada segundo que passo sem ele
e aí odia-lo por ter aceitado aquilo
e me odiar por sempre escrever sobre isso

eu sinto como se
não fosse interessante o suficiente
pra que eles fiquem comigo
ou sequer tentem ficar

eu sinto como se
fosse figurante do meu próprio filme
dando espaço aos outros
sem nunca reclamar

eu sinto como se
fosse observada por mim mesma
me julgando como se soubesse o que eu sou
(porque nem eu sei)

eu sinto como se
meu constante amadurecimento não funcionasse
e que eu não consiga aprender com
meus erros

eu sinto como se
devesse me esforçar mais para
ver
ouvir
falar
ler
escrever
amar
aprender
sorrir
conquistar

viver

cartaOnde histórias criam vida. Descubra agora