CAPÍTULO 51

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Verônica 🦋

Caminhei por um canteiro lindo de girassol. O "quintal" daquela casa era gigante, parecia mais um campo com uma casa no meio dele.

Verônica: Senhor Jorge! -Chamava pelo seu nome.

Avistei uma casinha de madeira no fim do canteiro, bem lá na frente.

Sabe aquelas casinhas da árvore? O sonho de qualquer criança? Onde elas se reúnem para brincar, fazer reuniões de grupo etc? Era o que parecia, mas essa não era na árvore.

Uma pequena casinha de madeira, ela era um porquinho mais alta que eu. Havia uma portinha, duas janelinhas e alguns vasinhos de flores por fora.

Me aproximei e segurei a fechadura da porta, abri, me abaixei um pouquinho e entrei. Parei na hora quando vi o senhor Jorge sentado em uma cadeira, ele encarava um mural de fotos feito na parede da casinha.

Havia fotos de dois meninos, suponho ser Kevin e Oliver, com seus pais. Outras, com cachorros, em viagens etc. Um sorriso automático se formou em meu rosto.

Jorge: Que família bonita! -Falou sem me perceber ali. Ele parecia falar consigo mesmo.

Verônica: Senhor Jorge? -O chamo, fazendo com que me olhe- Vim aqui para te buscar, vou levá-lo de volta para casa.

Ele ficou me olhando por alguns segundos.

Jorge: Uh... Deus te mandou aqui? -Perguntou me olhando e sorrindo- Eu me perdi de casa, encontrei essa casa e pedi para que ele me ajudasse. Você é um anjo, não é? Eu nunca havia visto um de perto. -Falou com a voz tranquila.

Engulo seco.

O senhor Jorge Bellini, dono de uma grande empresa e marca, Definitivamente está muito mal. Isso é triste!

Me sinto mal por ele, por Oliver, Kate... Um homem que construiu tanta coisa, que fez tanto pela família, por outras pessoas, pela sociedade, que ajudou, se doou para ver os outros bem... Ter esse tipo de final, é triste.

Verônica: Sim, senhor Jorge. Deus me mandou aqui para ajudá-lo. -Respondo sorrindo simpática- Vamos? -Pergunto e estendo minha mão para que ele a segure. E assim fez.

Comecei a guia-lo para fora da casinha e a primeira visão que tivemos, foi a dos girassóis.

Jorge: Esse é o paraíso? -Indagou ao ver as plantas amarelinhas e radiantes.

Verônica: Não! Mas, Deus me pediu para passear com o senhor num lugar bonito antes de chegar em casa. O que acha? -Tento ser mais amigável possível. Nesse momento tudo que ele merece é só amor e compreensão, exatamente o que ele distribuiu quando ainda tinha saúde.

Jorge: Ah! É lindo! Me sinto honrado em poder passear por uma das belas obras dele. A natureza! -Sorriu, depois de dizer as últimas palavras.

Verônica: Sabia que o girassol é o sol do jardim? Seu nome mesmo diz isso. E ele sempre vai estar de frente para a luz. Sua cor é tão vibrante, que no meio de tantas plantas ele se destacará, e nós sempre teremos a impressão de que ele está iluminando tudo em volta. -Falo, enquanto, caminhamos juntos e vagarosamente pelo canteiro, em direção a casa.

Jorge: Incrível! É uma planta bondosa, se parecesse com você. -O olhei e sorri sem jeito.- É bonita, iluminada, bondosa e exala doçura. Um verdadeiro girassol! -Falou parando e ficamos de frente pro outro.

Oliver: Vejo que encontrou o papai... -Falou aparecendo, me fazendo o encarar.

Verônica: Ah... Sim! Ele estava na casinha pra lá!

Oliver: Obrigado! -Agradeceu me olhando e segurando meu ombro. Retribui com um sorriso.- Papai, o senhor está bem? Vem vamos entrar!

Kate: Jorge! Por Deus! -Falou ao vê-lo.

Verônica: Vou esperar aqui. -Falo para Oliver.

Oliver: Não vou demorar.

Fiquei esperando em frente a porta da enorme casa, enquanto, Oliver levava seu pai para dentro. Enquanto isso, refletia sobre a pequena conversa que tive com seu Jorge.

Que doidera! Não imaginava que eu pudesse ser tão boa em falar dessa maneira. É estranho para mim, mas apenas abri meu coração.

Kevin: Verônica? -Reviro os olhos na hora ao ouvir a voz. Me viro e encaro Kevin em pé, com as mãos no bolso.- O que faz aqui?

Verônica: Vim ajudar Oliver. Não sei se está sabendo, mas seu pai havia se perdido. Ah, esqueci que você não se importa, né? Mesmo se soubesse, não daria a mínima. -Falo de uma vez, mostrando minha irritação. Kevin apenas sorriu de lado.

Kevin: Não vai ser a última vez que isso acontecerá. Meu pai está gagá e sei que logo logo morrerá, por quê eu devo me preocupar? -Indaga indiferente. Aquilo me fez encara-lo desacreditada.

Como um filho pode dizer e pensar isso do próprio pai? Ainda mais, depois de tudo o que o pai fez por ele?

Verônica: Eu tenho pena de você, Kevin! -Percebo ele fechar a cara na hora- não tem como sentir outra coisa. Você não emana mais nenhuma energia, além dessa! Não percebe que isso só vai te fazer afundar? Que pode te levar a ruínas?

Kevin: Ninguém nunca irá me arruinar! -Falou, levemente irritado.

Verônica: tem razão. Você irá se arruinar sozinho!

Kevin: Onde quer chegar com isso, Verônica? -Indagou se aproximando de mim, ficando bem perto.

Verônica: Tá vendo seu pai? Olha só onde ele chegou. Tudo o que ele construiu, quanto dinheiro ele juntou, quantas empresas ele abriu, quanto sucesso ele acumulou. Olha essa casa -Falo apontando para o nosso redor- olha tudo isso! Olha ele agora. Está doente e é incurável. Imagina se ele não tivesse as pessoas que o amam para estar com ele nesse momento? -O olhar de Kevin era indecifrável, mas eu sabia que ele estava concordando comigo- Não adianta ter sucesso, dinheiro, casa grande, carros importados... Se vai acabar assim. O que importa é o que tem dentro de você, o que doou para as pessoas ao redor, as pessoas que juntou durante a caminhada... Porque é exatamente isso, que vai contar no final. É isso, que faz a vida valer a pena! Se continuar assim, Kevin, temo que não vá juntar nem um terço das coisas que seu pai juntou.

Ficamos em silêncio por breves segundos, até que ele começou a rir.

Kevin: Ok! Ok! Tentarei levar seu conselho em consideração. Mas, me diga você Verônica, o que tem juntado durante sua vida? Claro, reconheço seu excelente trabalho como promotora, mas, antes disso? O que tem juntado? Só coisas boas? Pessoas boas? Você tem pessoas que te amam nesse momento? A pessoa que te criou morreu... Ahhhh, não não não! Ela não te amava! -Falou num tom debochado.

Senti um aperto no peito, ele tava jogando comigo e estava usando meu passado. Mas, como ele sabia?

Meus olhos se encheram de água e eu tentei ao máximo não deixar com que as lágrimas caíssem. Não quero de forma alguma permitir que ele confirme minhas fraquezas.



ME AME INTENSAMENTEOnde histórias criam vida. Descubra agora