#39 - O que é meu, é seu

3.4K 323 191
                                    

Lábios secos, sede e muita, muita dor de cabeça.

Camila forçou seus olhos a se abrirem naquela manhã, recebendo a claridade nublada direto em seus olhos. Sua cabeça girava como nunca e latejava como se uma portas fechassem em volta dela. Sentiu um incômodo no corpo. A queimação no estômago não mentia o que era.

Lembrou-se de chegar ao Relicário na noite passada, se afundando em copos de destilado como se não houvesse amanhã. E se arrependeu disso, porque o amanhã já havia batido na porta.

Tentou se virar na cama, esbarrando as costas em outro corpo. Arregalou os olhos percebendo ser Keana, adormecida e tranquila ao seu lado. Mas o que estava fazendo ali?

Moveu o edredom, reparando que a mulher não usava blusa. Apenas um sutiã discreto da cor verde-nobre. Fechou os olhos com força, esperando do fundo da sua alma que ela ainda estivesse usando algo na parte de baixo.

— Bom dia, Mila. — a mulher falou de repente, ainda de olhos fechados. — Que bom que acordou.

— Pensei que estivesse dormindo.

Keana negou e abriu os olhos de forma preguiçosa. Sua noite parecia não ter sido das melhores.

— Estava apenas de olhos fechados. — se sentou na cama, de costas para Camila. — Você está bem?

— Estou. Só não quero saber de álcool nunca mais na minha vida.

Resmungou, falando a frase que todo bêbado dizia no dia seguinte após o porre.

— Me diz uma coisa, a gente transou?

Keana ficou assustada e constrangida com a pergunta e se virou imediatamente para a vizinha.

C-Camila? — gaguejou nervosa. — Não, não transamos. — respondeu como se fosse óbvio.

— Desculpa, perguntar não ofende. — massageou a cabeça. — Não seria a primeira vez que eu transo bêbada com alguém e esqueço.

— Você já… Camila?

A mexicana ergueu os ombros, com expressão culpada.

— Coisas acontecem. Felizmente isso passou, é uma outra história que prefiro não lembrar. Além disso, você está de sutiã então pensei que… 

Voltou a se deitar na cama. Em algumas horas precisaria estar no trabalho. Queria inventar uma desculpa para não ir pela primeira vez em sua vida.

— Desculpa. — a mulher falou pegando a blusa no chão e vestindo. — Eu passei um calor infernal dormindo aqui. Sua temperatura corporal não é normal, já procurou um médico? 

— Eu sei. — riu. — Minha irmã sempre dorme comigo quando fica doente, ela diz que sou quentinha.

— Quentinha é um eufemismo e tanto. — afirmou, se virando. — Lembra de alguma coisa ontem?

— Absolutamente nada depois de… — engoliu as palavras, lembrando do seu último contato com Lauren. — Não, não lembro.

— Você bebeu. Bebeu como nunca e sinceramente, estava péssima. Eu a trouxe para casa e fiquei aqui com você. Tive medo de deixá-la sozinha porque não sabia que horas a Dinah chegaria. Então acabei dormindo.

— Eu também adoraria dormir se as malditas falassem baixo. — a loira pegando as duas de surpresa, falou do outro lado do quarto. — Inferno!

As duas mulheres prenderam o riso e se olharam.

— Eu passei alguma vergonha? — Camila sussurrou com a cabeça deitada ao travesseiro.

— Não. — respondeu baixo e se deitou ao lado. — Quer dizer, se contar a parte que você ficou se declarando para Lauren o tempo todo…

The Farm At SunriseOnde histórias criam vida. Descubra agora