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Hoje, dia 18 de dezembro, faz um ano que comecei a publicar essa história constantemente.

Muito obrigada por cada comentário, por cada visualização e por cada voto.

Vocês são incríveis!

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Era assustador pensar que um minuto pode mudar nossas vidas.

A mulher abriu os olhos vagarosamente. Não conseguia mover seu corpo prensado contra as ferragens do veículo. Tudo doía. Sua cabeça estava girando confusa, atordoada e seu olfato só identificava um cheiro forte de plástico queimado na pista. Havia sangue escorrendo em sua cabeça. Um pequeno corte talvez, ou quem sabe algo mais grave. Seu cérebro parecia latejar dentro do crânio. Piscou duas vezes, tentando focar a vista embaçada em algo que lhe desse as respostas para o que tinha acontecido.

Estava morta?

Com a pouca força que tinha, tentou usar as costas para empurrar o banco para trás. Respirou com dificuldade, sem sucesso. Ouvia as vozes dos curiosos pedindo para que ela não se mexesse até a chegada da ambulância. Estava ofegante, ansiosa. Com gosto de ferro na boca. A primeira onda de pranto caiu quando a memória atingiu com força sua mente. Haviam sofrido um acidente na pista. O carro havia perdido o controle, capotado e tudo o que ela lembrava depois disso era preenchido pelo vazio de acordar machucada e dolorida num carro destruído.

Soluçou no banco, e virou  a cabeça com dificuldade para o lado do motorista. Daniel estava com a cabeça prensada contra o volante. Seus olhos estavam abertos e parados, mas a curta respiração que seus ombros e o pequeno piscar de seus olhos, mostravam que felizmente ele estava vivo.

A mão de Lauren tocou o cabelo do rapaz, sentindo algo molhado e escuro umedecer suas mãos. Havia uma ferida em sua cabeça. As mãos de Lauren tremeram, mas ela não teve forças para gritar naquele momento. A dor em seu pescoço havia se tornado insuportável, mas nada comparado ao peso emocional que seus ombros carregavam naquele momento. Traída por seu próprio engano de achar que o rapaz dormia profundamente ao seu lado.

Daniel havia descoberto sua deslealdade

De forma dura, fria e cruel. Lauren se sentia a pior das covardes naquele momento, movida pelo sentimento maior de ter ligado para quem era a dona do seu coração.

O olhar que ele tinha para ela, ali naquela pista, acidentado e machucado não mentiam. Em toda sua vida conviveu com olhares de decepção e aquele era o de último estágio, contento também ira e repulsa. Ela sabia que ele não afastava seu braço por impossibilidade, mas não queria deixar de lhe dar um momento de carinho. O amava. Talvez nunca como homem, mas como um ser doce que foi seu grande amigo nos últimos meses.

Ele iria viver.

Tinha que viver.

Daniel não podia morrer.

A consequência da percepção não nos permite voltar atrás para consertar nossos erros.

O passado tinha passado, mas era forte, grande e poderoso. Lauren sabia que não poderia movê-lo para longe, ignorá-lo ou tentar fingir que nunca tinha acontecido. Numa hora a vida cobrava de nós e seu banquete de consequências havia começado cedo demais.

O som da sirene aliviou o coração pesado daquela que só tinha em mente ir embora daquele lugar. Partir para longe, ir para um lugar seguro onde não houvesse dor e não fosse capaz de machucar  mais ninguém.

Havia falhado com todos que a amavam.

Se alguém ali tivesse que morrer, Lauren preferia que fosse ela.

The Farm At SunriseOnde histórias criam vida. Descubra agora