The Farm At Sunrise

#34 - Prazer & Luta

O dia seguinte amanheceu tão cinza quanto o humor de Camila.

Tomou o café da manhã em silêncio, apenas ouvindo o bate papo aleatório entre Dinah e Keana, sem se importar muito com as coisas aleatórias que as mesmas falavam. Sua mente tinha total foco no dia anterior. Não queria continuar martelando naquelas ideias, mas este era um pedido impossível a si mesma, percebendo que só conseguia mastigar mentalmente aquele fato.

Queria ligar para Lauren. Faria isso assim que as amigas fossem trabalhar. Usaria seu dia de folga para enfim conversar com a mulher e esclarecer tudo o que se encontrava obscuro. Engoliu um pouco mais de café com dureza. Seu humor estava péssimo e nem o líquido preto era capaz de animá-la.

— Não prefere dormir, Camila? Hoje só Dinah e eu iremos pegar no pesado. Você deveria descansar.

Negou a fala de Keana.

— Não é necessário. — colocou a caneca vazia na mesa e olhou a mulher de cabelos castanhos. — Trabalho não me cansa, pelo contrário; me distrai. Eu estou até entediada por estar de folga. Vou arrumar essa cozinha quando saírem.

— Você não conhece mesmo a Camila, Keana. — Dinah beliscava as fatias de pão de forma. — Ela realmente nunca se cansa, eu fico cansada só de olhar pra ela. O que eu tenho de preguiça, ela tem de força de vontade.

— Eu a invejo. — Keana sorriu. — Tem dia que eu acordo e me dá preguiça até de desistir.

— Sempre fui muito ativa, então, já me acostumei. — explicou, lembrando por alguns instantes a infância. Sempre estava ajudando o pai com os cavalos, varria o pátio, podava os jardins. Nunca foi ensinada a ficar parada vendo a vida passar.

— Bom, deu nossa hora Dinah. — Keana se levantou fazendo a amiga tomar a mesma atitude. — Precisamos ir. Sabe como Marcos é exigente com horários. — ambas riram, se lembrando do mau humor hilário que o velho brasileiro tinha.

— Eu levo vocês até a porta.

Pegando suas bolsas, as duas que foram trabalhar se dirigiram para fora em companhia de Camila que ainda usava o pijama. O céu estava coberto por nuvens cinzas e poucos raios de sol escapavam pelas brechas, anunciando que a chuva não tardaria a cair, para variar, pensou Camila. Tinha dias que sentia falta do calor vívido de Montgomery. O tempo chuvoso lhe trazia a nostalgia dos dias mais claros, da grama mais verde, das maçãs recém colhidas, da comida da irmã mais nova, das belas canções que o pai cantava no violão, da sua égua Catalina.

Encostou-se ao portão da vila após se despedir das amigas. Keana e Dinah caminhavam mantendo a conversa, se dirigindo para o ponto de ônibus a algumas quadras.

Esfregou os braços, se aquecendo do vento frio e o carro preto que parou na frente da vila lhe chamou a atenção.

Para sua maior surpresa, a mulher não morreria tão cedo. Entreabriu os lábios ao ver Lauren agradecer o motorista e descer do veículo, levando com um sorriso sutil os seus olhos ao de Camila.

— Bom dia. — saudou. Usava uma camisa de botões preta, sócio-informal. O pano de algodão se juntava a sua carne, mostrando todas as curvas que tinha. Uma saia de cor branca, também justa mas elegante. Salto nos pés e seu marcante perfume era sentido a metros de distância.

— Que surpresa. — Camila ergueu a sobrancelha. Continuou olhando para a mulher. — Bom dia.

Lauren se aproximou tímida, o som de seus sapatos ecoaram na calçada. Agora, frente a Camila, percebia que talvez tenha se precipitado no horário de visita. Camila tinha o cabelo preso num rabo de cavalo frouxo, alguns fios de cabelo caíam de forma despojada nas laterais de sua franja. Usava uma blusa branca de mangas alguns números maiores que o seu e um short de flanela xadrez nas cores branca e cinza.