#48 - Seja forte

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O alívio que Camila tinha com a vida movimentada na cidade era conversar com o pai nas raras vezes que o homem conseguia sinal para ligar. Geralmente sempre no fim do seu expediente ou pelo meio da tarde, que a filha estava menos ocupada na mansão dos Ogletree. Minutos bem aproveitados de um papo gostoso com o homem que lhe deu a vida. Ouvir a voz do seu velho sempre matava a saudade do lugar onde nasceu e cresceu. A tranquilidade do seu tom, seu sotaque puxado. Do outro lado da linha ela conseguia sentir o cheiro de mato, fruta fresca e chão de terra.

Tinha saudades da vida que deixou para trás. A cidade grande havia sido ótima, mas seu coração sempre pertenceria a Montgomery.

Camila não via a hora de voltar para suas origens. Ter o sol bronzeando sua pele, comer comida de verdade e andar com sua égua.

— E como a Sofia está?

Ela está bem. — ouviu o homem se sentar por conta do espreguiço. — Acho que está apaixonada, acredita?

— Apaixonada? — Camila desabotoou sua camisa enquanto pressionava o celular no ombro. — Ela tem apenas treze. É muito nova para essas coisas.

Faz quatorze em breve, Karla. Coisa do primeiro amor. É um menininho que estuda com ela. Gente boa, bem educado e prestativo. Às vezes ele vem pra cá depois da escola. Ambos almoçam juntos e fazem a lição de casa enquanto eu ajeito as coisas no quintal.

Deixar sozinhos dois adolescentes fervendo em hormônios não parecia ser a melhor ideia do mundo para Camila. Defendia totalmente a liberdade da irmã, mas parte de sua preocupação achava que era cedo demais para isso.

— E isso não te preocupa? Céus, eu preciso conversar com ela mas está me faltando tempo com tanta coisa acontecendo. Essa menina está crescendo rápido demais.

Me preocupar, me preocupa. Ela é minha única filha hetero então eu temo ser avô rapidamente, mas tento confiar na educação que dei. 

— Não fale isso nem brincando, papa! Por aqui é tudo mais moderno e sabe de uma coisa? Não me agrada. Vejo meninas da idade dela grávida e sinceramente, espero que nada aconteça. Ela é muito nova, é inteligente e tem muita coisa para viver e fazer na vida.

Eu tentei falar por alto algumas coisas, só que acabei ficando sem jeito. — o homem deu uma pausa pensativa  — Não consegui chegar aos preservativos. Acho que não ter tido a preocupação de rapazes com você acabou me acomodando em alguns aspectos. Nathan é um garoto bom, e pra bênção de Deus parece ser tão inocente quanto sua irmã.

Camila tirou os sapatos, soltando o ar de seus pulmões antes de relaxar as costas na cama.

— Isso me traz um pouco de alívio, porém educação sexual nunca é demais.

Sim, claro. Mas vamos falar de você... Está meio distante, sinto sua voz tensa.

Fechando seus olhos, a mulher se lembrou que parte do seu dia foi parada na porta do cemitério.

Lo siento, papa! Eu acabei de chegar do trabalho. Hoje foi o velório e sepultamento do Daniel, marido da Lauren.

E como se sente em relação a isso? — o pai quis saber.

— Preocupada. — conseguiu dizer, aliviando a pressão em seu peito. — Não sei se deveria estar sentindo isso, mas é a verdade. Estou muito preocupada.

Pela menina Lauren?

— Por tudo, pai. Essa morte foi tão repentina, tão trágica... Hoje quando eu olhei nos olhos dela, só consigo enxergar os resquícios daquela menina iluminada que chegou a fazenda. Lauren está destruída. Quando eu tento pensar em outra coisa, tudo o que consigo lembrar são dos olhos dela implorando para serem levados para longe de todo aquele inferno. E não para por aí, a situação consegue piorar de forma tão drástica...

The Farm At SunriseOnde histórias criam vida. Descubra agora