#58 - Você e eu

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Camila saiu do quarto onde Lauren estava e caminhou até um dos bancos que ficava na extensão do corredor, se aproximando com calma das pessoas presentes. Tinha no olhar o semblante de tristeza, coração partido e desespero. Aquele dia infeliz parecia longe de ter fim, e tudo o que ela desejava era ver Lauren de volta, bem, saudável.

Ali estavam os senhores Ogletree, Troy, Betty, Ally, Normani, Dinah e também Clara, todos num silêncio preocupante. A mexicana ainda estava perdida, relembrando tudo o que tinha acontecido há poucos minutos, atrás daquela porta de madeira. Revivendo o último beijo com a mulher que amava e torcendo para que ela voltasse salva da cirurgia.

Troy se aproximou. Tinha olhos cansados, uma expressão triste também. Entregou um copo com água para Camila, que agradeceu com um gesto antes de dar o primeiro gole.

— O que aconteceu? — se afastou com ele e perguntou. Precisava de respostas para tudo aquilo.

Troy respirou fundo e cruzou os braços antes de falar.

— Lauren está doente. Não é apenas o corpo que está sofrendo agora. A saúde mental está num estágio delicado, o que me preocupa muito.

— O que ela fez, Troy? — perguntou. — Aqueles pulsos enfaixados. Não diga para mim que ela tentou tirar a própria vida, por favor. Eu não iria aguentar.

O rapaz franziu os lábios e assentiu, confirmando tudo o que Camila não queria saber.

— Eu queria poder olhar nos seus olhos e dizer que Lauren não seria capaz disso, no entanto foi o que aconteceu. — Camila encostou suas costas na parede, permitindo-se chorar outra vez. — Ela está doente, e temo que fique pior. Ingeriu os medicamentos que o psiquiatra passou com uma boa quantidade de álcool, cortou os pulsos e tentou se afogar na piscina. Não há dúvidas que minha prima não quer estar aqui. Ela quis de todas as maneiras partir.

Camila secou as lágrimas e levou com a mão trêmula, o copo na boca mais uma vez. O líquido desceu amargo como a culpa que ela sentia por tudo aquilo 

— Ela passou por muita coisa nesses últimos meses. Quando ela chegou aqui, tentou falar comigo. Estava tão avoada, sem aquele brilho que sempre carregou e eu fui impaciente, Troy. Eu deveria ter agido de outra forma, mas fui rude e grossa.

Troy tocou o ombro da amiga, fazendo com que sua atenção voltasse para ele.

— Isso não é culpa sua. Isso não é culpa de ninguém. A Lauren está doente, e precisa de tratamento. Não quero que martele sua cabeça com esses pensamentos, pois isso não lhe fará bem. Para alguém doente como Lauren está, qualquer coisa mesmo que mínima pode crescer numa proporção fora do normal.

— Eu não sei, sinceramente. Como médico, acha que ela vai ficar bem?

— Trepanação é algo delicado. Assim como todo procedimento, há seus riscos. Vamos confiar nos médicos e em Deus também, para que tudo vá se ajeitando.

— Você pode me manter informada sobre qualquer coisa? Não vou embora, mas sou ignorante para esses termos. Quero saber com o máximo de clareza o que pode ou não acontecer.

— Não se preocupe.  Eu estarei bem aqui para lhe tirar qualquer dúvida.

Camila apenas sorriu, e Troy se afastou levando sua família para a sala de espera. Normani e Dinah deram um abraço em Camila, lhe confortando com palavras doces e em seguida seguiram para a capela do povoado, para rezar pela vida e a recuperação.

Ela não sairia dali. Não sem notícias, não sem saber que ela ficaria bem . Se sentou no banco que ficava no corredor, e abraçou seu próprio corpo, se perdendo em memórias passadas quando era apenas uma criança e perdeu a mãe no mesmo hospital. Não queria que o destino ceifasse a vida de Lauren também. Ela ainda tinha muito o que fazer, viver, experimentar.

The Farm At SunriseOnde histórias criam vida. Descubra agora