#52 - Apenas saudades

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A gente posta duas vezes no dia, e ainda tem que ler que é RUIM, CRUEL, A PRÓPRIA BOLSONARO.

É mole uma coisa dessa?

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De volta ao seu antigo apartamento, Lauren andava de um lado para o outro com o celular nas mãos. Parou em frente a colossal janela da sala de estar, sentindo os fracos raios de luz iluminar e aquecer vagamente sua pele.

Estava decidida a ter Camila outra vez, aproveitando a brecha do desentendimento que havia acontecido entre Keana e ela. Queria enviar uma mensagem, convidá-la para sair. Ou seria rápido demais? Não. Decidiu que de hoje seu convite não passaria, mas antes um cigarro. Seu peito palpitava com força, as mãos tremiam. Ela precisava se acalmar antes de enviar aquela mensagem arriscada. O que dizer? "Estava pensando em você e pensei que poderíamos ir ao cinema.", ou talvez um "por que você não me encontra na Praça?". O que quer que fosse digitar, era o de menos. Só queria e precisava avançar o sinal e ter a coragem de recuperar a mulher que amava.

Pegou o celular, decidindo não mandar mensagem. Soltando a fumaça por entre seus lábios, procurou o número em sua agenda e clicou em ligar, colocando o celular na orelha.

Chamou uma.

Duas.

Chamou três vezes, e as batidas do seu coração já podiam ser ouvidas por ela.

Na quarta ela teve esperança.

Na quinta ela jurou que Camila fosse atender na sexta.

Mas na sexta, a ligação foi parar na caixa postal.

Grunhiu, de raiva e desesperança, jogando o aparelho celular no sofá. Se sentou, apoiou os pés na mesa de centro e tragou o cigarro. E se Camila estivesse ocupada com coisas que ela não queria imaginar? Deslizando as mãos por um corpo que não fosse o seu, beijando outros lábios, trocando energia com aquela mulher...

Negou com a cabeça. Não queria pensar nisso.

Mas era uma hipótese, poderiam ter feito as pazes, poderiam estar num sexo de reconciliação naquele instante, enquanto ela, tola, tentava algum tipo de contato. A mente era nossa pior inimiga às vezes. Quando mais precisávamos de calmaria, ela formava imagens da qual não queríamos ver.

Pegou o celular. Era só ligar outra vez. O colocou na orelha e o toque iniciou.

— Dona Lauren?

Ouviu a voz da enfermeira, deixou o celular de lado e se virou para ela.

— O que aconteceu, Júlia?

— Sua mãe. Ela não está nada bem e não me deixa se aproximar para dar os medicamentos.

Lauren dedilhou a tela do celular e mordeu seus lábios. Respirou fundo, temendo o que encontrar naquele quarto. Havia vendido a casa que Daniel havia comprado para eles, e com um pouco mais de dinheiro podia contar com enfermeiras a total disposição de Clara. Três ao longo de toda semana. Uma para a parte do dia, outra para dormir e uma aos fins de semana. Parte dela se sentia mal por deixar as coisas na mão dos outros, mas a outra parte sequer tinha forças para lutar contra.

Com a família inteira sabendo, todos estavam dispostos a ajudar de alguma forma. Testes em um novo experimento no hospital, pesquisas. Mas Lauren não era tola, e também não queria ser pessimista em aceitar que a ciência não podia fazer nada nesse caso. Era degrau por degrau, até sua mãe desaparecer em vida.

Se levantou, sabendo que esse problema apenas ela poderia resolver. Toda vez que chegava da rua ia ao quarto fazer o mínimo do seu papel como filha. Via se ela estava bem, se tinha se alimentado ou se estava precisando de alguma coisa. Só.

The Farm At SunriseOnde histórias criam vida. Descubra agora