Capítulo 7 - Aline

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A cada passo o meu coração ficava mais acelerado, eu havia sido rude com o Senhor Magalhães ontem enquanto ajudava um vendedor de refrescos. Estava tudo indo normalmente, até a chegada dele. O senhor Magalhães era um carrasco, até mesmo fora do escritório. Ele tentou me humilhar, mas eu não permiti que o fizesse. Mas infelizmente eu teria que encará-lo e sabe-se lá o que se passava na cabeça perturbada dele, com raiva ele com certeza estava, mas até que eu consiga outro emprego eu terei que suportá-lo.

Chego na portaria e entro diretamente no elevador. As pessoas ainda insistiam em me olhar com desprezo e ninguém me cumprimentava. Entro no elevador e o senhor Alencar entra, em seguida. Ele era o único que tentava me fazer se sentir confortável, a única pessoa que realmente era gentil, e não forçado.

_Bom dia, senhorita.

_Bom dia, senhor Alencar.

_Quantas vezes eu terei que te falar que não precisa de toda essa formalidade? Você pode me chamar de Ricardo.

_Me desculpe. É que estamos no trabalho e eu prefiro evitar.

_Eu sei que estamos, mas não tem ninguém aqui.

_Eu realmente prefiro evitar. As pessoas aqui já me olham com dureza, se eu começar a tratá-lo dessa forma começarão a falar, inventar coisas.

_Se você se importar com o que os outros falam, você nunca irá viver. - Ele levanta o meu queixo e me encara fixamente - Você é muito mais do que eles falam.

Eu ia questioná-lo, ele falava de uma forma tão profunda, me olhava tão intensamente que por alguns milésimos de segundos me perdi no verde de seus olhos. Até ouvir o elevador se abrir e ver o carrasco na nossa frente. Ele já tem uma expressão dura, mas depois de ver a cena ficou ainda mais evidente.
Eu fiquei muito envergonhada, ele me odiava e agora com certeza falaria que estávamos tendo algo a mais.

Ele e o senhor Alencar foram conversando até a sua sala e eu começo a trabalhar. O senhor Alencar sai da sala dele e eu pensei que ele iria me chamar para começar a perturbação, mas não. O dia se passa e quando termino o almoço, sinto sede. O bebedouro estava em manutenção, então caminho diretamente até a sua sala e entro. Quando termino de matar a sede, retomo os passos, mas quando abro a porta, dou de cara com ele prestes a entrar. No susto, demos uma trombada e eu encosto no seu tronco.
Ele parecia uma parede de tão forte e alto. Ele me olhava com uma cara de interrogação que em seguida foi substituída por uma expressão de fúria.
Ele passa por mim e olha ao redor de sua sala. Se vira e levanta a sobrancelha.

_O que você fazia aqui?

Eu me aproximo e um pouco nervosa, o encaro temerosa.

_Me desculpe, senhor. Eu estava sentindo sede e entrei para beber água.

Depois de ouvir minha justificativa o seu semblante muda radicalmente, dando lugar a um rosto sombrio e raivoso. Ele se aproxima, para me intimidar e eu olho para cima, pois ele é muito mais alto.
Um pouco temerosa, mas ele não precisava saber que me dava calafrios.

_Você ousou entrar na minha sala para contaminar até mesmo meus utensílios? Você não tem mesmo limite nenhum, não é, menina?!

_Eu estava com sede...

_Cale-se. Eu não quero ouvir justificativa nenhuma. Você têm testado a minha paciência e eu sequer tenho. - A cada palavra ele ia se aproximando e eu recuando

_Isso nunca mais irá se repetir. Eu não fiz por mal. Só estava com sede. O senhor negaria um copo de água para alguém?

_Para você e pessoas como você, eu negaria sim.
Não faz diferença se estão vivos os mortos, são apenas vidas insignificantes que peregrinam sem cessar.

_Eu não vou permitir que...

_Não se esqueça de onde está, sua insolente.

_Qual o seu prazer em humilhar as pessoas? O que você ganha com isso?

_Primeiramente, não temos e nunca teremos intimidade para esse tipo de tratamento. E eu apenas mostro-lhes o lugar que estão, abaixo dos superiores, brancos e ricos.

_Um dia o senhor irá se arrepender de ser assim.

_Pode ter certeza que nesse dia eu irei beijar os seus pés. - Diz com desdém - E eu nunca me humilhei dessa forma para ninguém.

_Tudo é possível...

_As chances de eu beijá-la em sua boca são nulas e a de beijar seus pés são as mesmas que nada. Você é totalmente desinteressante, não tem nada que me atrai, eu sequer consigo imaginá-la nua. E gostaria de parabenizar os homens que tiveram a coragem de transar com você. Eu não conseguiria, acho eu que vomitaria.

Além de insultar minhas roupas e minha cor, agora também a minha dignidade.
Esse cara é um nojento!

_Quem merece parabéns são as pessoas que conseguem te suportar.

_Eu não ordenei que você saísse. - O encaro novamente - Foi esse copo que você usou?

_Sim, senhor. - Ele joga o copo na parede e eu me assusto com essa atitude

_Nunca mais ouse tocar em algo aqui. - Se aproxima novamente - Terei que conferir se não roubou nada também. É do feitio de pessoas como você.

_Eu não sou ladra. Nunca roubaria nada por mais que precisasse.

_Não me venha com moralismo.

_Eu posso me retirar?

_Não. - Diz rude - Eu espero que ainda se lembre que é proibido relacionamentos aqui dentro.

_Eu não tenho e não pretendo ter nada com o Ricardo.

_Como não?! Já até o chama pelo nome.

Péssima hora para isso.

_Foi um pedido dele.

_Começa pelo nome, depois o quase beijo no elevador... - Coloca a mão no queixo como se estivesse pensando - E depois vem o convite para sair, o motel meia boca e uma noite regada a sexo sujo. Típico de mulheres vulgares como você.

_Eu não tenho que ouvir nada disso e não tenho que lhe dar satisfação nenhuma. Me faça o favor de me poupar de suas loucuras porquê eu tenho mais o que fazer.

_Você tem sorte sabia!? Eu bem que queria te colocar no olho da rua agora, mas infelizmente não há nenhuma outra candidata. Mas assim que surgir, pode ter certeza de que você será escorraçada daqui.

_Eu não vejo a hora de sair e nunca mais ter que olhar para essa sua face asquerosa. - Ele levanta a sobrancelha - Eu posso ir? Ou tem algo mais para despejar em cima de mim?

_Ter até tenho, mas ainda terei tempo para isso. Saia daqui e não se esqueça das minhas palavras.

Saio de sua sala e consigo respirar um ar mais leve. Começo a chorar silenciosamente, não havia ninguém e eu estava esgotada. Olho para foto do vovô e da Anne que estava no porta retrato que eu havia colocado há dias atrás na minha mesa e me sinto fraca. Eu precisava aguentar, mas estava difícil demais. As circunstâncias estavam cada dia mais desfavoráveis e eu não estava suportando tantas humilhações. Soube que estava para piorar quando começo a sentir dor de cabeça e em seguida tontura, acompanhada do tremor. E desta vez, eu teria que tentar sozinha, teria que enxugar as lágrimas e respirar.



O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora